Filipe Bergaña (Man GLG): “Assimilar a cultura de uma empresa é mais importante que conhecer a sua estratégia”

Filipe Bergana Man GLG
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A estratégia de qualquer fundo assenta sobre princípios base que para além de orientarem a filosofia de investimento da sua equipa de gestão, também lhes permite assumir posições de convicção e contra a corrente. No Man GLG Iberian Opportunities, produto desenhado por Firmino Morgado e Filipe Bergaña para o investimento em ações da Península Ibérica, a flexibilidade, liquidez e a ausência de restrições na seleção de empresas representam essas pedras basilares.

Na sequência dos resultados sonantes obtidos em 2019, a Funds People conversou com Filipe Bergaña, cogestor do fundo, sobre a estratégia empregue no produto. Mas desengane-se quem pensa que este fundo foi um “one hit wonder”. Nas palavras do cogestor, “o mérito deste produto não se resume a ter batido o índice de referência o ano passado, mas sim ao facto de, quer em anos de liderança de gestão ativa, como no único ano de liderança de gestão passiva, o fundo ter sido consistente”.

Na manutenção dessa consistência os princípios da filosofia de investimento têm um papel preponderante, a começar pela flexibilidade: o fundo não se identifica com um estilo value ou growth, tendo uma abordagem ao investimento oportunista. “Sempre recusámos estes autocolantes porque a nossa filosofia de investimento assenta em encontrar diferenças entre preço e valor nos ativos”, explica Filipe Bergaña. “Se estas se configuram no estilo value ou growth, a nós não nos importa”, confessa. 

Como o próprio nome do fundo indica, a busca por tais oportunidades fica-se pelo restrito universo de títulos do mercado ibérico. Porém, o que à partida se podia revelar como uma limitação prejudicial, acaba por ser o trunfo da equipa de gestão do fundo. “Conhecemos estas empresas bastante bem, as equipas de gestão e o seu ADN”, revela o gestor, “e isso permite-nos tomar algumas posições contrárias à do mercado porque conhecemos a empresa e a sua cultura”. “Acreditamos que assimilar a cultura de uma empresa é mais importante que conhecer a sua estratégia”, sentencia.

Outro pilar da estratégia de investimentos está bem assente na construção da carteira: a seleção de títulos é feita sem restrições a nível do índice de referência, tanto em número como em ponderação. Filipe Bergaña explica as atuais diretrizes da equipa em que o fundo tem um intervalo entre os 20 e 35 títulos”, o que lhes permite suficiente diversificação em termos de empresas individuais e sectores. Além disso, no que à ponderação diz respeito, “pelas regras de SICAV, não podemos ter mais do que 10%, e por bom senso limitamos o tamanho máximo de uma posição a 8%”. Contudo, normalmente, “uma posição grande não ultrapassa os 6%”, ao contrário do que pode acontecer no índice, “em que determinados títulos representam até 13%”.

Dos ensinamentos à estratégia

O último ponto abordado é descrito pelo cogestor como "um sinal de alerta dominante que estamos a observar pela Europa”: o tema da liquidez. A somar às conhecidas controvérsias ocorridas no Reino Unido, o profissional acrescenta que observam “vários fundos ibéricos, com tamanho relevante que estão concentrados em títulos muito ilíquidos”. Apesar desta estratégia trazer vantagens iniciais para estes fundos, no longo prazo, “num contexto de desaceleração de fluxos, isto pode gerar problemas: o de gestores que não conseguem vender os títulos que têm em carteira”.

O relevo atribuído pela equipa de gestão do fundo a este tópico fica a dever-se, sobretudo, à experiência acumulada do gestor com mais “horas de voo” do fundo. “O Firmino Morgado geriu na Fidelity International um dos maiores fundos Ibéricos que já existiu; isto significa que ele entende melhor que ninguém este problema da liquidez”, conta-nos Filipe Bergaña. “Por enquanto gerimos uma fração do que ele geriu, mas com estes ensinamentos da importância da liquidez absolutamente presentes”, conclui.