Europa quer replicar modelo do fundo Floresta Atlântica

O modelo do primeiro fundo Floresta Atlântica, que iniciou actividade em Abril de 2008, tem despertado atenção a nível europeu, nomeadamente pelo desempenho que tem tido, e pode inclusive potenciar o aparecimento de veículos idênticos por parte de ‘players’ privados.

“É um modelo que tem tido visibilidade a nível da Comissão Europeia [CE], dos nossos colegas espanhóis e inclusive do Banco Europeu de Investimento [BEI], porque, dentro dos instrumentos de engenharia financeira, é um modelo único, totalmente idealizado em Portugal. Com apoio público este é o único projecto que existe” destacou Luís Unas, director-geral da sociedade gestora Floresta Atlântica, em entrevista à Funds People Portugal.

“Os espanhóis querem, com o nosso modelo, replicar, a própria CE e a DG Agri gostavam de replicar, mas têm de ser os Estados-membro a propor medidas de apoio”, referiu, esclarecendo ainda que esta medida “existe dentro do Regulamento dos Fundos Estruturais, mas os Estados-membro, no âmbito dos seus quadros de apoio ao desenvolvimento rural, têm de propor medidas específicas para este fim e pedir para alocar parte do seu ‘bolo’ financeiro europeu para as mesmas”.

O Primeiro Fundo Floresta Atlântica foi constituído com 20 milhões de euros, tendo o Estado português entrado com 46% - com 9,2 milhões de euros (75% através apoio da União Europeia e 25% do Orçamento de Estado) -, e os restantes 54% ficado nas mãos de investidores privados (quatro bancos nacionais, uma companhia de seguros e um fundo de investimento). O investimento é centrado em zonas classificadas como desfavorecidas de montanha e a rendibilidade mínima esperada de 6%.

Com este primeiro fundo pretendeu-se demonstrar “que, tendo capital, profissionalismo e escala de investimento, se consegue gerir rentavelmente, de forma sustentável em termos económicos, ambientais e sociais, floresta nas mais difíceis condições de organização do território”, afirmou Luís Unas. Isto porque, sublinhou, para ter apoio público, o fundo tem restrições quer em termos de dimensão das propriedades onde é realizado o investimento, principalmente minifúndio, quer de área geográfica elegível, só podendo por exemplo investir em zonas desfavorecidas de montanha e, primordialmente, no norte e centro do país.

“O objectivo é criar unidades de gestão maiores a partir de pequenas propriedades, agregando-as através de emparcelamento funcional”, o que “é uma experiência replicável. Demonstrar que é rentável fazer isto” pode “abrir portas a que novas fundos venham a ser criados pela iniciativa privada”, afirmou.

Papel de activo de refúgio

Nos últimos anos tem aumentado o interesse por este tipo de activo, usado por vezes como refúgio por estar descorrelacionado com a evolução económica, o que também leva o director-geral da Floresta Atlântica a acreditar que o 2013 poderá até ser um ano ligeiramente melhor para o investimento nestes fundos.

“Tipicamente, este tipo de activo é utilizado na diversificação de carteiras de investidores institucionais, fundos de pensões, companhias de seguros, ‘family offices’, bancos, porque é fracamente correlacionado com outros tipos de activos, como os mobiliários ou imobiliários urbanos. Como o ‘driver’ de rendibilidade é 75% o crescimento biológico, que é independente do ciclo económico, acaba muitas vezes – como se viu nestes anos de crise -, por ser um pouco um activo de refúgio”.

Olhando para o próximo ano, Luís Unas acredita que vai ser difícil e que não haverá grande diferença, para captar investimentos,  face a 2012, com a percepção de risco a manter-se idêntica, desde que o risco social não se agrave. “Vamos estar sempre um pouco dependentes do clima, porque o que tem grande impacto mediático no exterior são questões como as dos incêndios florestais e as alterações climáticas”. O director-geral da sociedade gestora refere que, “arde menos de metade da floresta” do que é noticiado, porque “normalmente não se descrimina nos anúncios das áreas ardidas o que é mato e o que é floresta”,  e que “o ‘show off’ que se faz à volta dos incêndios em Portugal tem forte impacto na captação de investidores no exterior”.

Portanto, sublinha, o que pode prejudicar o investimento “é mais a perspectiva desses riscos de incêndio do que o ambiente económico porque esse, neste momento, dá um bom ‘trade off’, teoricamente para o investidor poderá haver melhor negócio”, pois os preços começam a aproximar-se do razoável perante a rendibilidade esperada”.