Estrutura e caraterísticas do mercado de obrigações chinês, o terceiro maior do mundo

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O mercado de obrigações chinês é o terceiro maior do mundo. O mercado de obrigações interno da China em renminbi cresceu até perto de 36 triliões de renminbi (5,8 biliões de dólares), quase dez vezes mais do que em 2002, a uma taxa anual composta de 29% desde 2007. Atualmente as obrigações sem risco de crédito compõe cerca de 60% dos títulos negociados no mercado interno: inclui emissões do Ministério das Finanças da China para financiar os gastos do governo; de bancos de Estado, como o China Development bank, bem como letras financeiras a curto prazo emitidas pelo Banco Popular da China para a sua política monetária.

A dívida emitida por empresas chinesas representa um terço do total. No entanto, muitos destes emissores são propriedade do Estado, e apenas 4% são empresas privadas. Indústrias e serviços públicos compõe mais de metade das emissões. As obrigações do mercado interno são negociadas principalmente por investidores nacionais, onde os bancos comerciais dominam, e somam mais de 60% do volume total. Isso deve-se ao facto do canal principal de investimento dos aforradores chineses serem os depósitos bancários, que os bancos reinvestem. Os bancos estrangeiros representam 1,5% do mercado, soma que poderá aumentar à medida que as autoridades abram o seu mercado de capitais.

O mercado interbancário chinês

O mercado interbancário na China, estabelecido em 1997, é um mercado 'over-the-counter' regulado pelo Banco Popular da China (dispõe de um intervalo de preços de compra e venda dos credores do mercado, com a vantagem de proporcionar mais liquidez). Mais de 90% das contratações de obrigações da China faz-se neste mercado, numa média diária de 149.000 milhões de renminbi. Os investidores estrangeiros com o status RQFII podem operar neste mercado e os bancos centrais estrangeiros têm acesso via China Interbank Bond Market. Por seu lado, os mercados de Xangai e Shenzhen, estabelecidos em 1992, mostram as ordens de compradores e vendedores, detalhando o preço e quantidade (são mais transparentes, mas com menos liquidez). Estão regulados pela Securities Regulatory Commission. A negociação nestes mercados representa 10% do volume total, com uma média diária de 5.000 milhões de renminbi. Está dominado por pequenos e médios intermediários e investidores institucioanais.

Dívida pública e privada

O nível de dívida pública da China é pouco mais de 22% sobre o seu PIB. A dívida externa apenas perfaz 9,3% do PIB e o seu mercado está a ser apoiado pelo poupança interna – o mais alto do mundo em 50% do PIB -, com menor exposição a fluxos de investimento estrangeiros. Esta dívida conta com procura estrutural, dado o rápido envelhecimento da população, já que as pessoas com mais de 60 anos podem compor mais de um quarto da população em 2040, face aos 12% de 2010.

A dívida privada, por seu lado, representa 185% do PIB, ou seja, a maior percentagem do mundo emergente. A maior parte das emissões são feitas por empresas do estado ou semi-estatais, com o apoio implícito do governo central. O rácio de incumprimento continua a ser extremamente baixo comparativamente com o dos EUA. Em março de 2014 existiu um primeiro incumprimento em denominações do mercado interno, do produtor de equipamentos solares Chaori Solar. A empresa foi resgatada por um consórcio dirigido ao governo, que participou na restruturação da dívida.

As agências nacionais atribuem classificações de AA e superiores a 97% das obrigações chinesas. No entanto, a maioria das entidades do índice China Bond Composite não conta com classificações das agências internacionais (S&P, Moody’s e Fitch), que tendem a ser menores, como BB/B. O mercado de dívida da China está ainda em desenvolvimento e os investidores têm um acesso restrito aos estados financeiros e a outra informação relacionada com a dívida. Não é comum que existam equipas de relacionamento com o investidor, e quase todas as informações encontram-se em chinês, sendo a investigação sell-side muito baixa. Este cenário implica uma alta necessidade de conhecimento local, que pode ser difícil de obter para os investidores estrangeiros.

A porta de acesso que as gestoras estrangeiras estão a encontrar

Neste sentido, as gestoras internacionais estão a encontrar o modo de aceder a este mercado. A última a fazê-lo foi a Pictet AM, que acaba de obter o acesso ao mercado interbancário chinês. A gestora já tinha colocado em marcha este ano um novo fundo de obrigações emergentes em moeda local do país, o Pictet-Chinese Local Currency Debt, domiciliado no luxemburgo  sob a normativa UCITS, um dos primeiros a poder investir em obrigações locais. Agora a sua capacidade aumentou em aproximadamente 100 milhões de dólares e os investimentos do fundo já não se limitam aos mercados de Xangai e Shenzhe, o que permite novas subscrições.

Cary Yeung, gestor do novo fundo, considera que este acesso ao mercado interbancário facilita o aproveitamento do mercado de obrigações chinesas, o terceiro maior mercado de obrigações do mundo, que cresce rapidamente e oferece rentabilidades atrativas e potencial de valorização da divisa a longo prazo. “A rentabilidade a vencimento é mais do dobro do que o equivalente dos EUA, com baixa volatilidade (2,6% anualizada pelo índice China Bond Composite) e com baixa correlação com outras taxas de ativos de obrigações”. A equipa de gestão, radicada em Hong Kong, inclui Jennifer Chang, analista de crédito sénior e Echo Chen, operador especializado em dívida chinesa.

A gestora entra assim para o clube das primeiras entidades de ativos europeias com licença para o investidor institucional estrangeiro qualificado, RQFII (RMB Qualified Foreign Institutional Investor), para investir diretamente na China em renminbi. Este mercado está regulado e controlado pela autoridade financeira China Securities Regulatory Commission, a State Administration of Foreign Exchange – que aloca as quotas – e o Banco Popular da China – que dá acesso ao mercado de obrigações interbancário.