Estará a Fed preocupada com os níveis de desemprego?

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Será que a Reserva Federal se tornou dovish em março? Esta é a questão que Joshua McCallum e Gianluca Moretti se colocam no último Economist Insights levado a cabo pela UBS Global Asset Management.

Os dois economistas da gestora internacional afirmam que o mercado de obrigações norte-americano, pelo menos, está a apontar para essa postura. “ As yields das obrigações do tesouro norte-americano a 10 anos caíram dos 20 pontos base depois da Fed ter dado a conhecer as suas expectativas em relação à provável taxa de juro dos fundos federais no final do ano”, escrevem.

Mas o tom dovish da Fed será motivado pelo desemprego ou pela inflação?

Na opinião dos dois especialistas da UBS Global AM existem diferenças. Explicam que “para um banco central, a taxa de desemprego é mais interessante pelo impacto que tem na inflação”. Recordam que os bancos centrais costumam seguir a ideia de que existe uma taxa de desemprego natural para cada economia.

Muito embora a política monetária  possa ajudar a fechar o ‘gap’ existente ao nível do desemprego, os bancos centrais são os próprios “a admitir que existe pouco que possam fazer para afectar a taxa de desemprego natural”. Desta forma, até a Fed, que apresenta “um objetivo económico duplo”, na verdade, apenas tem um único objetivo em termos económicos: a inflação.

Em março a Fed baixou a sua expectativa média da taxa de desemprego de longo prazo, o que corresponde, efetivamente, à taxa natural de desemprego. Contudo, aquilo que não é mencionado é que a Fed baixou as suas expectativas em relação à taxa de desemprego para 2015. (ver gráfico)

“Durante um ano a Fed esperou que o fosso ao nível do  desemprego fosse diminuir no final de 2015 e, atualmente, espera que feche completamente. Se esse gap não se ampliar, então, em princípio, as pressões inflacionárias deverão continuar as mesmas”. “Então porque é que a Fed adoptou uma postura dovish quando as previsões não o exigem?”, perguntam os especialistas.

Razões 

As explicações são várias. Por um lado falam de uma questão mediática: “Os membros da Fed podem estar preocupados com a percepção pública, no caso de aumentarem as taxas quando a inflação global estiver próxima de zero ou negativa”. Outra das hipóteses é a “necessidade de confirmação de que os dados atuais são na verdade um pequeno remendo”.

Outro dos argumentos apresentados é que continuar com esta postura dovish dá uma ideia de ‘controlo ótimo’, de forma a assegurar que a recuperação da economia é robusta.