"Estamos em Portugal desde de sempre e com uma estratégia de longo prazo"

Em que medida considera que o anúncio do plano de compra de dívida pública por parte do BCE constitui um dos sinais que fazia falta ao mercado para provar que existe empenho verdadeiro na recuperação das economias?

As autoridades europeias começaram a mudar, nos últimos meses, o seu discurso de austeridade, mostrando a intenção de querer sair desta crise a médio longo prazo. A maneira óbvia para sair e alcançar o necessário crescimento foi o apoio do Banco Central Europeu. Claramente um 'game changer' que mostrou uma vontade absoluta de apoiar os países comprometidos com os programas de ajuda e respectivas medidas de austeridade. Neste sentido, considero que houve uma mudança significativa com a declaração de apoio incondicional e ilimitado que levou os investidores a mudarem a visão, direccionando-os mais para activos risco. Tratou-se de um primeiro passo para recuperar a confiança dos investidores e para que o euro não desapareça. Todavia há ainda muito trabalho pela frente, mais medidas no sentido da convergência fiscal.

Que visão tem do sector da gestão de activos? Como se posiciona J.P.Morgan no actual momento e em Portugal?

A presença e aposta da J.P. Morgan Asset Management em Portugal existe desde sempre, não se tratou de um investimento pontual e tratando-se de algo a longo prazo, temos claro que atravessamos épocas melhores e outros ciclos mais baixos. O importante é que os nossos clientes confiem em nós. Somos uma entidade global, com uma marca reconhecida, com soluções para todo o tipo de cliente e perfil.

Verificamos que as instituições em Portugal tendem a reduzir o número de entidades com as quais trabalham e isso pode, de alguma forma, favorecer-nos, dado que a nossa presença é histórica, sólida e próxima dos clientes do mercado português.

Que cenário vislumbra a J.P. Morgan A.M para Portugal perante a recente flexibilização de metas para o país, especialmente para o sector financeiro?

A realidade que vemos em relação a Portugal é reconhecermos que as medidas que estão a ser tomadas são significativas e sérias. No entanto, consideramos que existe um consenso que mostra que demasiadas medidas de austeridade podem colocar em risco uma recuperacão económica a longo prazo. As próprias entidades, como a 'troika', devem mostrar que há possibilidades de atingir essa mesma recuperação. Naturalmente, a situação não é fácil, em geral, nos países do sul da Europa, uma vez que o sector financeiro atravessa uma época complicada cuja principal preocupação é o 'funding'. Acreditamos que, em breve, essa preocupação deixará de ser o foco central e, nesse momento, o aumento de comissões e o reforço do negócio serão as preocupações principais. A distribuição de fundos contribui positivamente para o incremento de comissões e consequente reforço do negócio, pelo que a actividade da gestão de activos poderá sair favorecida.

Que expectativas têm em termos de evolução dos mercados na Europa e EUA durante os últimos três meses do ano?

Em termos de expectativas, adoptamos uma visão construtiva, com o apoio dos bancos centrais todos os activos risco beneficiam. As nossas carteiras globais estão optimistas em risco: em acções, crédito 'investment grade' e 'high yield' e mercados emergentes. Percebeu-se, recentemente, que não vale a pena "lutar" contra os bancos centrais e por isso os mercados irão viver, ainda, meses de volatilidade. Neste sentido, temos muito cuidado na selecção de activos e gestão das nossas carteiras de fundos pois as situações de alerta mantêm-se. No entanto, estar em 'cash' não compensa.

Este ano quase todos os meses registaram subscrições líquidas positivas. Considera que isto pode ser um sinal de que os investidores estão a regressar aos fundos?

Na verdade, isso foram os dados e é uma realidade, mas resta saber se é uma tendência que veio para ficar. O meu ponto de vista é que essa devia ser a direcção.

A situação económica permanece difícil, mas há oportunidades apesar de ainda se verificar a aposta por parte das instituições financeiras em depósitos e instrumentos que forneçam liquidez rapidamente dada a pressão existente sobre o 'funding'.

 

Acredita que houve alterações no comportamento dos investidores?

Os investidores adoptaram, dado o momento actual que vivemos, perfis mais defensivos, pese embora mais recentemente haja uma viragem para activos de risco. Nós trabalhamos para ir de encontro com os interesses dos investidores a cada momento, por isso apresentamos uma oferta alargada e diversificada.

Em matéria de regulação há um conjunto de normas que entrarão em vigor num futuro próximo. Considera que se está a cair num excesso de regulação que sanciona a actividade das entidades financieras?

As crises tendem a procurar culpados e por isso, nesses momentos, aumenta a regulação. O importante é que não tornem impossível a actividade das entidades financeiras. Os fundos de investimento é uma indústria das mais regulamentadas mas que, por isso mesmo, tornou o fundo de investimento num veículo financeiro bom e dos mais transparentes que existem, com o objectivo de protecção do investidor - o que julgo ser muito importante.