Esta semana vou estar de olho... em dose dupla

generic_business_economy_funds_world_newspapper
Photo by G. Crescoli on Unsplash

(O 'Esta semana vou estar de olho em' desta semana é em dose dupla e contamos com o contributo de André Braz, portfolio manager da Santander Asset Management e de João Queiroz, diretor da banca online do Banco Carregosa)

André Braz, portfolio manager da Santander Asset Management

Esta semana toda a atenção estará centrada nas horas que sucedem a festa anual da Funds People, com a divulgação dos indicadores de sentimento mundiais PMI medidos pela Markit. Depois de um agosto marcado por alguma volatilidade, especialmente em divisas emergentes, fruto dos receios de escalada de uma guerra comercial, será importante aferir o sentimento empresarial nas diversas regiões do globo.

Captura_de_ecr__2018-09-15___s_12Na Zona Euro, aparentemente, mais escudada que a China, após a reunião entre Juncker e Trump, o consenso de economistas aponta para uma leitura marginalmente abaixo da de agosto (54,4 vs 54,5). Uma leitura positiva poderá ter um impacto assimétrico nos mercados de risco europeus, dado que quer as ações, quer o crédito europeu, foram penalizados nas últimas semanas com receios do impacto de uma guerra comercial.

Na quinta-feira, haverá um concílio europeu informal para debater o desfecho das negociações do Brexit. Este evento não deverá ter grande impacto, dado que serve para preparar o concílio formal de outubro e o especial de novembro.  

João Queiroz, diretor da banca online do Banco Carregosa

O número mais importante da semana vai ser a taxa da inflação na Zona Euro e na Inglaterra, que se espera baixa, dando razão aos que defendem a japonização da economia europeia. A evolução da oferta e da procura das famílias não deixa antever uma aceleração da inflação, nem através dos produtos importados, de que é exemplo o preço do crude, nem pela evolução dos salários, que está em linha com uma taxa de desemprego que corresponde, aproximadamente, ao dobro da dos EUA.

368c0cd1991ab9cfA invertida “curva de rendimentos” dos EUA, com as “yields” de curto prazo acima das de longo parece indiciar uma recuperação da inflação acima da meta da FED o que estimula a imaginação sobre desempenho dos preços na Zona-Euro.  Mas a depreciação das divisas das economias emergentes pressiona a procura dos produtos europeus, o que neutraliza o potencial de evolução de preços.

Conheceremos ainda a taxa da inflação da Inglaterra, onde o Brexit continua a ser fonte de incerteza, o que afeta a evolução do mercado de emprego e dos salários.  A curva de Phillipsque relaciona a taxa de desemprego e a taxa de juro, no que se refere à Europa continental e da Inglaterra, mantém-se distante da realidade. A evolução das taxas de juro das dívidas soberanas não revela expectativas de crescimento da remuneração do dinheiro.

Em face das atuais potenciais incertezas sobre o risco sistémico do sistema financeiro Chinês, a degradação da capacidade importadora das economias emergentes, novas rondas de negociações sobre a imposição de tarifas (que funcionam como autêntico imposto para os consumidores) deixaram esta semana patente que os bancos centrais estão defensivos e a utilizar as suas ferramentas de forma ainda dovish, ou seja, o ecossistema é amigo do investimento mas o tom de cautela reflete uma potencial ausência de crescimento dos preços com ou sem pressão do imobiliário.