IMGA: "Os emergentes podem ser o wild card no 2.º semestre"

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(Perspetivas para a segunda metade de 2019, traçadas pela Equipa de Investimentos da IMGA)

O ritmo de crescimento económico global continua a abrandar, com os EUA a convergirem para níveis em torno do seu crescimento potencial (2%) enquanto na Europa, mais exposta ao setor exportador, o crescimento poderá ser marginalmente inferior ao seu potencial. As estimativas mais recentes do FMI indicam um crescimento da economia mundial de apenas 3,3% em 2019, o pior registo desde 2009.

Assim, esperamos uma desaceleração da economia norte-americana nos próximos trimestres, para um ritmo de crescimento próximo do potencial, perspetivando-se um desempenho ainda robusto do consumo privado mas com menores contributos das linhas de investimento e de procura externa. A política monetária da FED deverá estar dependente da evolução das disputas comerciais e do comportamento da economia, devendo proceder a um corte de taxas de 25pb em 2019 (50pb caso a tendência de abrandamento e os riscos exógenos se acentuem) numa ótica preventiva, procurando evitar um abrandamento acentuado da economia, face à proximidade das fed funds do limiar de 0%.

A dinâmica de crescimento na Zona Euro deverá manter-se frágil nos próximos trimestres, com um nível de expansão em linha ou marginalmente abaixo do seu PIB potencial. O elevado grau de abertura da economia significa uma elevada suscetibilidade num enquadramento de abrandamento das trocas comerciais, de afetação das cadeias de valor globais e de abrandamento da economia chinesa. Acresce a situação frágil da Alemanha, não apenas pela exposição à disputa comercial mas igualmente pela condição do setor automóvel, do setor bancário e pela situação de incerteza política. A economia francesa apresenta sinais de estabilização enquanto a italiana deverá permanecer condicionada pelo enquadramento político. O BCE deverá anunciar estímulos adicionais até ao final do mandato de Draghi, com algum enviesamento para cortes adicionais de taxas diretoras. 

A economia do Reino Unido mantém-se dividida entre um desempenho robusto do consumo privado, suportado pela situação de pleno emprego e crescimento salarial, e o impacto da incerteza do Brexit nas decisões de investimento. A muito provável vitória de Boris Johnson não deverá resolver o impasse do Brexit, tendo como cenário mais provável a ocorrência de eleições antecipadas. Uma saída sem acordo da UE em outubro seria bastante penalizadora para a economia e para a cotação da divisa.

Não obstante a introdução de estímulos orçamentais e monetários, a situação económica da China deverá continuar a refletir as pressões de abrandamento originadas por fatores estruturais (restrições ao crédito, etc.), pelo confronto com os EUA e por fatores de natureza mais cíclica. Como tal, será expectável um abrandamento no 2.º trimestre para um ritmo mais próximo de 6% e uma estabilização nos trimestres seguintes. As autoridades chinesas deverão manter um enviesamento expansionista.

A economia japonesa deverá manter um desempenho débil nos próximos trimestres, com um binómio de desempenho frágil do consumo privado (apesar da situação sólida do mercado laboral) e um contributo dinâmico do investimento do setor privado. A tendência de apreciação do iene deverá pressionar as exportações nipónicas e poderá comprometer ainda mais as ténues perspetivas de aceleração da inflação. Será expectável uma aceleração do consumo privado na antecipação da subida do IVA prevista para outubro, que poderá ser adiada perante um cenário económico dececionante nos próximos meses. O Banco Central do Japão admite igualmente a possibilidade de adicionar estímulos monetários.

Ativos

A evolução dos preços dos ativos de risco nos próximos meses – suportados pela revisão em baixa das expetativas sobre as taxas de juro futuras e consequentemente dos prémios de risco – dependerá da atuação dos bancos centrais, sobretudo da FED e do BCE.

Com o mercado de taxa de juro a incorporar expectativas de um possível corte de taxas por parte do BCE ou até mesmo uma reativação do programa de compra de obrigações, no 2.º semestre do ano, esperamos que a dívida pública da periferia da Zona Euro registe um comportamento positivo face à dívida pública dos países da Europa Central.

No segmento de crédito, apesar de iniciarmos o segundo semestre com spreads perto dos mínimos de 2018 é expectável que continue suportado tanto ao nível do Investment Grade como ao nível do High Yield, sobretudo num ambiente de taxas de juro negativas e historicamente baixas. É expectável que setores com mais beta saiam beneficiados e que emitentes da periferia da Zona Euro registem retornos superiores. No entanto, esta visão positiva para a classe poderá ser ameaçada por um agravamento da guerra comercial, a situação orçamental em Itália e pelo cenário de um “Hard Brexit”.

As políticas reflacionárias sinalizadas pelos bancos centrais das economias desenvolvidas, em especial a FED, deverão continuar a beneficiar em 2019 os universos de dívida emergente, seja em moeda forte ou moeda local. As perspetivas de taxas de juro mais baixas associadas ao dólar norte-americano não só posicionam novamente esta classe como um dos melhores veículos ao nível do carry trade como podem proporcionar fonte de valor adicional face à potencial desvalorização do dólar norte-americano. 

Nas ações, a nossa preferência vai para ativos mais defensivos, do ponto de vista regional e setorial e que permitam um suporte adicional no caso de um abrandamento económico global mais pronunciado ou a intensificação do conflito comercial em curso. Os emergentes podem ser o wild card no 2º semestre, caso se venha a confirmar a postura mais dovish da FED e o ambiente de comércio global não se deteriore.

Fatores de Risco

O conflito comercial entre EUA e China e o seu potencial alargamento para outras geografias continua a ser um dos principais fatores a prejudicar o lado da oferta e o comércio global. Assim, entre os principais fatores de risco, destacamos a possibilidade de implementação de tarifas sobre a totalidade das importações chinesas pelos EUA e a possível escalada para uma guerra tecnológica.

Uma disputa comercial entre os EUA e a UE, em particular no âmbito do setor automóvel, seria igualmente bastante penalizadora. O afastamento de uma disputa entre os EUA e o México foi um desenvolvimento positivo, face à sua natureza e ao potencial disruptivo que significaria para as cadeias de valor de ambos os países.

A possibilidade de uma saída do Reino Unido da UE continua a ser um risco significativo a ter em consideração, em particular no seguimento da provável vitória de Boris Johnson na corrida à liderança do Partido Conservador.

Por outro lado, uma postura mais agressiva do executivo italiano face às exigências orçamentais da Comissão Europeia poderá igualmente constituir um fator de risco a ter em conta. Numa ótica geopolítica, a possibilidade de um confronto militar no Médio Oriente será igualmente penalizadora.

Fundos

A gama de fundos Multiativos da IMGA apresenta-se como uma proposta de geração de valor a médio prazo em praticamente todos os contextos económicos, ajustando-se de forma dinâmica aos principais acontecimentos e tendências.

(Legenda da fotografia da esquerda para a direita: Rui Machado, Duarte José, Ricardo Líbano, Pedro Gomes, Aitor Zubeldia, Ana Aguiar, Luís Andrade, Nuno Marques, Fernando Nascimento, Pedro Vieira, António Dias, Amit Maugi e Nuno Serafim.)