Empresas de “todos os dias” numa carteira de qualidade e convicção

Alistar Morgan Stanley
Vitor Duarte

Funds Talks Alister Morgan A primeira edição da Funds Talks, que contou com vários especialistas de investimento, reservou também espaço para o tema “Investir a longo prazo em empresas de alta qualidade”. Alistair Corden-Lloyd, diretor executivo e membro da equipa de ações internacionais da Morgan Stanley IM, bem como portfolio specialist do MS INVF Global Brands (fundo com selo Blockbuster Funds People) e membro da equipa de ações internacionais da Morgan Stanley IM, apresentou-se à plateia para falar daquele que é um “flagship” da casa, e que tenta assegurar o acesso dos investidores a “empresas que têm lucros robustos, o que é sinónimo de ‘downside protection’ quando o mercado cai”. O especialista lançou o mote para o resto da apresentação: “Tentamos providenciar um portefólio com empresas de elevada qualidade”.

E o que são, no entender da equipa gestora do produto, empresas de qualidade? Os requisitos não são extensos (como veremos mais abaixo) mas têm de ser cumpridos. “Genericamente, posso dizer que são empresas com retornos sustentados no campo operacional, com ativos intangíveis de valor, como é o caso de várias marcas de bens de consumo que todos nós conhecemos. Um dos nossos desafios é intrínseco a comprar o que quer que seja com alguma qualidade. Esse ativo de qualidade, normalmente, vem acompanhado de um prémio. O que neste fundo tentamos fazer é providenciar aos nossos clientes o acesso a empresas com maior qualidade, mas a um preço razoável”, sintetizou.

Com um histórico de 20 anos, o fundo apresenta uma senioridade que não passou ao lado de algumas dificuldades de mercado. Alistair está convicto de que, em cada um desses momentos, “foi feito aquilo que era suposto”, e lembra a máxima do juro composto. “Se um investidor se mantiver com um horizonte de longo prazo, isso permite a estas empresas “comporem” para o investidor o dobro do retorno que o mercado oferece. Paciência e tempo são as palavras chave”, indicou.  

 

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O gráfico acima, que compara o retorno entre o fundo e o MSCI World Index, mostra também a importância de não perder quando o mercado cai. “Em quatro desses cinco momentos em que o índice caiu o fundo conseguiu apresentar retornos positivos. Existiu, como é possível também verificar no gráfico, um momento em que o fundo também caiu de forma severa – embora não tanto como o índice – mas essa tratou-se de uma ocasião especial, a crise de crédito”, referiu.

Marcas que fazem parte do dia-a-dia

Muitas das empresas que Alistair apresenta em carteira fazem parte do dia-a-dia de todos nós – ao acordar, no escritório, na hora de almoço, nos tempos de lazer, etc. Na opinião do profissional, este repetir do ciclo é aquilo que é fundamental no suporte dos ‘reliable during returns’ que caracterizam a filosofia do fundo.

Mas, mais especificamente, que critérios devem cumprir as empresas que Alistair elege para a careira do MS INVF Global Brands Fund? “Estamos à procura de empresas com uma marca de liderança nos seus mercados e, mais importante de tudo, empresas com ativos intangíveis valiosos”.

A divisão é fácil de perceber: “Existem empresas com poderosos ativos intangíveis, e outras com poderosos ativos tangíveis. No caso destas últimas tratam-se de empresas que geram retorno a partir desse ativo. Pode ser o petróleo, a eletricidade, o ouro... É preciso muito dinheiro para comprar esses ativos e conseguir gerar retornos. O mais curioso sobre estas empresas – e há muitas assim - é que se consegue gerar retornos a partir de um ativo que se compra ou constrói, o que significa que qualquer pessoa que tem dinheiro o pode fazer. As barreiras à entrada são, portanto, muito baixas, e isso é um problema”, explica o profissional, prosseguindo com a explicação sobre a dinâmica deste tipo de ativos. “Se um ativo que é influenciado principalmente pelo factor oferta e procura existe, geram-se frequentemente desequilíbrios. Se a oferta é limitada e a procura é forte o que é que acaba por acontecer com o preço? Ele sobe. O mercado reconhece o lucrativo que é o negócio e isso atrai capital. O capital acaba por entrar, sobe a oferta, e o preço cai. Trata-se portanto de um ciclo permanente e amplo no que toca aos lucros dos negócios de ativos tangíveis. Tentamos, por isso, evitar esse tipo de negócios”, manifesta. Exemplifica com uma conhecida empresa, que está no espectro oposto: “Por exemplo a Unilever, gastou 160 mil milhões de euros em marketing em 20 anos. É muito difícil alguém “copiar” a marca e o que ela representa, por mais dinheiro que tenha”, atesta.

Seguem-se outros critérios que determinam a qualidade das empresas em carteira, nomeadamente o poder de fixação de preço. “A maioria dos negócios ligados a ativos tangíveis, não consegue fixar preços, porque estes são guiados pela procura e pela oferta. Os negócios em que investimos, por seu lado, têm um poder de fixação de preço porque mantêm a sua margem bruta e porque são capazes de compensar as subidas nos custos”, salientou. Outro dos aspetos chave nestas companhias é o factor inovação. “Este tipo de negócios pode criar novos produtos que satisfazem novos públicos. Nos negócios com ativos tangíveis esta questão não se coloca. Não pode ser criado um novo tipo de água, um modelo novo de ouro, etc”.

Segue-se mais uma vantagem: se o negócio for lucrativo, podem ser gerados retornos elevados nos ativos que se detêm. Isso significa que “podem ser gerados fortes free cash flows, sem ter de se reinvestir muito do próprio lucro”. São o que o especialista apelida de ‘Compounders Businesses’, empresas que não se “encontram” em qualquer sector, e têm de ser criteriosamente escolhidas. “Esta é uma caraterística que pode ser encontrada em algumas empresas de consumer staples, mas não em todas. É importante que se tratem de empresas globais e diversificadas, mas ainda assim com agilidade”. O especialista recorda que “as normas locais têm de ser analisadas muito de perto, ou seja, é importante serem empresas globais geridas de forma local”.

Investir em empresas que estejam totalmente investidas na área digital é outra das premissas. Dá o exemplo da L´Óreal, que emprega 1.500 engenheiros de software totalmente dedicados à sua oferta digital. As empresas de software & IT Services são também outro ponto forte de interesse. “É fascinante pensar que 80% das transações de retalho globais ainda são feitas em dinheiro. É um espaço de oportunidade para a Mastercard e para a Visa”.

Carteira concentrada que reflete a qualidade

A carteira do fundo, com uma concentração sectorial evidente, reflete, segundo o especialista, a vontade de encontrarem os tais ‘compounders’ de qualidade já referidos. O sector de consumer staples é sobreponderado (44,3%) em carteira, mas todas as empresas obedecem ao critério da disrupção. Importância é dada também ao sector tecnológico que ocupa 27,4% do portefólio, mas de forma muito particular. “Investimos em empresas mais tradicionais dentro do sector - as  chamadas ‘boring tech’ – pois têm qualidade intrínseca, e tratam-se de empresas que utilizamos no dia-a-dia . Não gostamos das empresas ‘sexy’ do momento, como as FAANG”. O sector da saúde, por sua vez, acaba por ser uma ponderação relativamente nova em carteira, e também a esse nível o factor disrupção é importante. “Destaca, por exemplo a Zoetis, uma empresa de saúde animal muito disruptiva, o que é bastante difícil nesta área, já que existem empresas  de genéricos a copiar medicamentes para o reino animal sem grande dificuldades”.

A forte convicção do portefólio apresentado pelo especialista reflete-se nos números: “60% da exposição do portefólio está concentrada nos 10 primeiros títulos, em nomes como Unilever, Microsoft, L’óreal.... e, provavelmente, todos nós já interagimos com um destes nomes hoje!”.