Eleições presidenciais nos EUA: qual é o candidato favorito dos hedge funds?

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Michael Vadon, Flickr, Creative Commons

Na corrida presidencial aos Estados Unidos, os hedge funds também votam. Ou, para ser mais preciso, os gestores. As doações têm um papel muito importante no sistema eleitoral norte-americano, pelo que tirar partido dos doadores mais velhos  - ou contar com um vasto património pessoal, como é o caso de Trump – pode condicionar a sobrevivência política dos vários candidatos. Para além disso, a legislação obriga a informar a comissão eleitoral federal (FEC) sobre a proveniência destas doações, o que permite realizar interessantes análises como a que a Reuters elaborou.

Segundo a agência de notícias, no tempo já decorrido da campanha eleitoral, os candidatos republicanos superam os democratas numa proporção de 3 para 2, no que diz respeito às doações de hedge funds.

No entanto, como assinala a ONG independent Center for Responsive Politics (CRP), até 2008 os democratas eram os receptores habituais destas doações, algo que mudou na campanha presidencial de 2012 e que poderá estar relacionado com o maior escrutínio ao qual se tinha submetido o sector nos últimos anos.

No que toca a quem apoia quem, o candidato republicano Ted Cruz lidera atualmente a campanha no que toca a doações por parte da indústria de hedge funds, entre as quais se destacam os onze milhões de dólares vindos de Robert Mercer, co-CEO da Rennaisance Technologies. Do lado da democrata Hillary Clinton está um poderoso aliado: George Soros, presidente da Soros Fund Management, que apoiou a candidata com mais de sete milhões de dólares (a maioria destas doações são geridas através dos comités de ação política conhecidos como ‘super PAC’).

Outros candidatos, como Bernie Sanders, fizeram campanha contra Wall Street e a favor de uma reforma da lei de financiamento eleitoral, pelo que grande parte do dinheiro recolhido foi em forma de pequenas doações de particulares (segundo fontes da campanha de Sanders que cita a BBC, a doação média recebida em 2015 foi de 27,16 dólares). O candidato democrata também recebeu uma doação de Martin Shkreli, o ex-gestor de hedge funds e ex-CEO da Turing Pharmaceuticals, famoso pela sua polémica decisão de aumentrar em mais de 5000% o preço de um dos seus medicamentos.

O factor Trump

E o que se passa com Donald Trump? Tendo em conta que  maior parte da campanha do polémico aspirante republicano à Casa Branca é autofinanciada (69% do seu financiamento corresponde a uma empréstimo, segundo revela a CRP), a sua candidatura parece ter tido uma influência notável entre os gestores de hedge funds que apoiaram outros candidatos e que praticamente duplicaram as doações realizadas em 2012 (ver gráfico).

Os especialistas citados pela Reuters sugerem que o motivo desta forte oposição a Trump pode ter a ver com a sua proposta de acabar com a brecha legal pela qual alguns gestores de hedge funds pagam menos impostos por certas retribuições (carried interest), medida que também é apoiada por Clinton.

Uma potencial vitória de Trump também se associa a uma maior instabilidade, dada a incerteza que a sua postura em termos de política económica e financeira tem. Por último, o populismo que caracteriza o candidato republicano poderá levá-lo a adoptar medidas contrárias aos interesses de grandes empresas e dos maiores patrimónios do país.