Eleições na Europa: quais as questões em cima da mesa e o que inquieta os investidores?

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Coventry City Council, Flickr, Creative Commons

Os próximos tempos esperam-se “animados” no que diz respeito ao panorama político na Europa. Alguns países já foram a votos – como é o caso da Grécia nas eleições antecipadas ou a França nas eleições departamentais – mas muito está por determinar noutras nações da Europa, como é o caso de Portugal, Espanha ou Reino Unido. No país vizinho interpõe-se uma força política à esquerda – o Podemos -  que apesar de algum ímpeto inicial nas sondagens acabou por alcançar o terceiro lugar nas eleições autonómicas da Andaluzia, no passado dia 22 de março, o que, ainda assim, é para muitos especialistas um resultado expressivo, que se pode consolidar nas eleições gerais espanholas deste ano.

Como se sabe, os eventos políticos acabam sempre por ter alguma influência nos mercados financeiros. Desta forma, 2015 parece reunir um ‘cocktail perfeito’ de acontecimentos passíveis de ter influência a este nível. Importa portanto saber: Que avaliação fazem os profissionais nacionais destes eventos?

Para Leonardo Espírito Santo, da Banif Gestão de Activos, uma coisa é certa: “O risco político na Europa é uma das principais fontes potenciais de incerteza, e por conseguinte de volatilidade, nos mercados financeiros durante 2015”. No entender do profissional, as eleições motivam, regra geral, “uma política fiscal mais expansionista ou menos contracionista, associada a um maior volume de despesa pública, o que por um lado poderá ser benéfico para o crescimento económico mas que, por outro, poderá conduzir a desvios orçamentais”.

As duas questões que preocupam os investidores

Mas o foco dos investidores perante eleições é muito conciso, alerta Leonardo Espírito Santo. Mais do que saber quem vence ou não as eleições, “os investidores estarão interessados em evitar duas situações”, diz. São elas: “Eleições que não produzam um resultado claro” e “governos formados por forças extremistas (à esquerda ou à direita) cujas decisões possam ser mais erráticas e difíceis de prever”. Na opinião do profissional, Portugal aparece no primeiro grupo de risco, já que “apenas um cenário no qual saia um governo minoritário e fraco deverá preocupar os investidores pois uma agenda reformista tornar-se-ia mais difícil de implementar”.

No Reino Unido, por seu lado, “a atenção vai estar muito centrada na expressão de votos do UKIP e na possibilidade de referendo a uma saída da UE”. Relativamente a Espanha, Leonardo Espírito Santo lembra que os dois riscos atrás mencionados “serão pertinentes” e justificam “em boa medida o pior desempenho da dívida espanhola face à italiana em 2015”.

Na perspetiva de João Pereira Leite, diretor de investimentos do Banco Carregosa, há que fazer uma destrinça importante quando se fala dos próximos eventos eleitorais. “Na minha opinião devemos distinguir o Reino Unido, onde admito a probabilidade de o atual governo continuar a liderar”, refere. “Nos países da moeda única, parece-me que os partidos de esquerda podem perder fulgor ao longo do ano, a não ser que a “Grécia” consiga inverter dramaticamente o rumo das negociações”, indica, frisando que esta “é uma visão muito pessoal, que não vincula o Banco Carregosa”.

Se o percurso decorrer como até aqui, e se Grécia “conseguir captar muito pouco das suas pretensões iniciais”, no entender do profissional, o voto de protesto -  quer à esquerda, quer à direita -  pode “perder adesão”.

Dados que abonam a favor dos atuais governos

O atual cenário macroeconómico da Europa poderá ser abonatório para os governos que permanecem no poder atualmente. João Pereira Leite recorda que pode ser benéfico para os executivos, o facto de a economia europeia estar “finalmente a crescer”. “A queda do Euro e do preço do petróleo acrescem mais de 0.5 p.p ao PIB Europeu e, naturalmente, os partidos de governo terão mais facilidade em convencer os eleitores de que isso é mérito das reformas feitas e que a austeridade está finalmente a dar os seus frutos. Com dinheiro no bolso, o desemprego a cair e os índices de confiança a recuperarem, é mais fácil captar o voto”, entende.

A posição pessoal do profissional é de que “se a Grécia sair do Euro, então quem está no Governo pode manter-se no poder porque os eleitores preferem ficar no Euro”.