Eleições francesas: o futuro da UE complica-se… e muito

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gckwolfe, Flickr, Creative Commons

O futuro da UE complica-se… e muito. O motivo: as eleições francesas e os resultados das sondagens. Quatro candidatos têm serias probabilidades de disputar uma segunda volta nas presidenciais. A candidata de extrema direita Marine Le Pen e o liberal Emmanuel Macron contam atualmente com 24% de apoio dos cidadãos, respetivamente, mas baixam nas sondagens a favor do conservador François Fillon e do radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon, que mostram força em manifestações populares e sobem nas sondagens, sobretudo Mélenchon, que nas últimas semanas viu aumentar em seis pontos a intenção de voto, até 18%. Ainda que possa parecer que os 6% que separam atualmente Macron e Mélenchon são muitos pontos, só um em cada dez votantes de Macron diz que votará com total segurança no candidato.

graficoIsto significa que, a menos de duas semanas da primeira volta das presidenciais francesas a 23 de abril, a fidelidade dos votantes de Le Pen e Mélenchon é muito mais alta e, com uma participação estimada de 72%, oito pontos a menos que nas eleições anteriores, todas as opções estão em aberto, inclusive a de uma segunda volta em que os dois candidatos tenham nos seus programas a saída da UE: um pela direita (Le Pen) e outro pela esquerda (Mélenchon). Além disso, tal como refere Philippe Waechter, economista-chefe da Natixis AM, filial da Natixis Global AM, o mais interessante é que a campanha eleitoral se converteu numa batalha de todos contra Macron. “Para Le Pen, Macron é um finalista provável e é lógico que o ataque diretamente, enquanto a maioria dos outros candidatos estaria com ele não havendo alternativas e caso chegue a uma segunda volta nas presidenciais contra Le Pen”, afirma Waechter.

Ainda que seja pouco provável uma segunda volta entre Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon, os mercados não podem ignorar este risco excecional, tendo em conta a dinâmica das últimas sondagens. As intenções de voto para a segunda volta de 7 de maio têm-se mantido estáveis durante o último mês. Quase 60% dos votos apontam para Maron, enquanto 40% apontam para Le Pen. As apostas mostram um quadro semelhante: 25% de probabilidade que seja eleita Le Pen frente a mais de 63% para Macron. Os votantes de Mélenchon dariam o seu voto provavelmente a Macron, enquanto os seguidores de Fillon se mostram divididos por igual entre Macron, Le Pen e a abstenção. Além disso, mesmo que Le Pen supere o obstáculo quase insuperável da segunda volta, quase com toda a certeza que se vai encontrar numa situação na qual será incapaz de formar um governo, ou assegurar suficiente apoio parlamentar para organizar um referendo sobre a permanência na Zona Euro. E muito menos ganhá-lo.

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Porém, a mera possibilidade de contemplar a vitória de um candidato antieuropeu ou que queira reformar a Europa ou abandonar a UE é suscetível de causar incerteza, volatilidade e danos nos mercados financeiros (debilidade do euro, alargamento das taxas de juro relativas à Alemanha, subida dos níveis de CDS…). Há que ter em conta que sair da UE é complexo e que um Frexit danificaria gravemente e inclusive destruiria a construção europeia. Não é o cenário principal de Philippe Ithurbide, diretor global de investigação, estratégia e análise da Amundi, ainda que este admita que a probabilidade de que as tensões desapareçam antes dos resultados eleitorais é praticamente nula. Segundo o especialista, o que está claro é que os mercados financeiros vão ter de enfrentar três situações críticas.

Em primeiro lugar, vão ter que viver com a possibilidade de que o partido de extrema direita fique em primeiro na primeira volta das eleições presidenciais. Em segundo lugar, após a transferência de votos na segunda volta, e de acordo com as sondagens atuais, pode produzir-se a eliminação de Marine Le Pen. “Deve ter-se em conta que, devido à transferência de votos e à capacidade dos partidos de direita de se retirarem em favor dos partidos de esquerda e vice versa, até agora os eleitores franceses têm sempre eliminado a extrema direita da maioria das eleições: nacionais, regionais e municipais. Diz-se que nas eleições francesas se vota com o coração na primeira volta e com a cabeça na segunda. Segundo as previsões, Marine Le Pen sairia derrotada tanto com Macron (40% frente a 60%) como com Fillon (43% frente a 57%), uma diferença estatística importante”, afirma Ithurbide.

Finalmente, vai ser necessário que o novo presidente eleito (presumivelmente Macron, que lidera as sondagens, ou Fillon) atraia os eleitores para obter uma maioria presidencial nas eleições legislativas, a única maneira de poder formar um governo estável. Os dois candidatos são claramente pró-europeus e a sua vitória eleitoral suporia o surgimento de um forte eixo franco-alemão e governos capazes de levar a cabo reformas.  

Segundo explicam a partir da Candriam, se o vencedor das eleições não for um candidato em rutura com a Europa, tal resultado será sem dúvida positivo para os ativos de risco e, em concreto, para o mercado de ações da Zona Euro, algo que a gestora calcula que possa resultar numa melhoria relativa de aproximadamente 10% na classificação do crédito face às ações norte-americanas. “Os investidores estrangeiros voltariam a apostar em ações na Europa continental, ao contar com uma valorização atrativa e um aumento do lucro por ação proveniente do dinamismo das receitas, enquanto o prémio de risco político continuaria relaxado e desbloquearia o potencial de crescimento desta classe de ativos”, asseguram da Candriam.