E no mercado nacional, como é que os profissionais acolheram as palavras de Draghi?

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todogaceta.com, Flickr, Creative Commons

A forma como os profissionais do mercado nacional receberam as medidas anunciadas pelo BCE não foi muito diferente da dos internacionais. Decepção e um “sabor a pouco” foram sentimentos partilhados pelos gestores nacionais ouvidos pela Funds People.

“O consenso de mercado e de alguns dos principais bancos de investimento, apontava para uma magnitude de tais medidas mais significativa face ao que foi anunciado”, diz logo à partida João Marques, da Caixagest.

No mesmo sentido, Ricardo Silva, da CA Gest, entende que “a decisão do Banco Central Europeu de estender o programa alargado de compra de ativos até março de 2017 e de aumentar o “scope” do mesmo de forma a incluir dívida regional revelou-se, na sessão de quinta-feira, insuficiente para suportar as elevadas expectativas com que os mercados partiram para esta reunião”. Anteriormente ao conhecimento da decisão, as próprias classes de ativos já incorporavam medidas mais robustas no seu comportamento, lembra João Marques, que refere ainda que no início da sessão desta sexta-feira, 4 de dezembro,  “a reação” dos mercados “confirmou tal enviesamento”.

Porta ficou aberta para “mais”

Um dos pontos em que era esperado mais do BCE teve que ver com taxa de depósito. A este nível esperava-se “um corte mais agressivo” para lá dos 0,10%, diz o profissional da Caixagest. Nas entrelinhas desta decisão Ricardo Silva lê uma mensagem especifica: “Mário Draghi terá optado por manter algumas munições para o ano de 2016, tanto mais que a Reserva Federal norte-americana deverá começar a subir juros na reunião da próxima semana”.

O facto de Mario Draghi não ter sido totalmente “fechado” a novas medidas no futuro, foi um factor, de certa forma, motivador para os profissionais ouvidos pela Funds People. “Apesar da decisão de hoje não ter sido unânime no seio do BCE, Mário Draghi referiu que novas medidas poderão ser equacionadas tendo em consideração os riscos macroeconómicos e geopolíticos que ainda assolam o bloco europeu”, afiança o profissional a CA Gest. Lembra, a este nível, o facto da inflação ainda estar em níveis “incipientes” e longe da meta dos 2%. Da Caixagest, João Marques, por seu turno, assinala igualmente “o facto de o Presidente Draghi ter reforçado a mensagem de que o conjunto de medidas em vigor será flexível nas suas diferentes vertentes para a consecução dos objetivos de inflação e de crescimento”.

Chamada de ordem: precaução

Resumindo, os riscos de downside subsistem e a precaução é uma mensagem comum. Na sessão de quinta-feira, “os mercados acionistas europeus encerraram com perdas superiores a 3%”, lembra Ricardo, enquanto que “no mercado de taxa fixa, o sentimento foi igualmente negativo com as taxas a 10 anos a subirem mais de 20 bps, num movimento transversal à zona “core” e à periferia””. Da Caixagest, João Marques reforça, por seu lado, que “apesar dos mercados de ações e obrigações terem reagido negativamente”, a flexibilidade visível nas palavras do presidente do BCE podem indicar que a médio prazo “o atual enquadramento de política monetária do BCE poderá continuar a ser um fator de suporte para as classes de ativos de risco da Zona Euro”.