"É importante que um analista financeiro pense out of the box"

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oschene, Flickr, Creative Commons

Realizou-se ontem no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) uma tertúlia que teve como pano de fundo a temática da bolsa, das privatizações e do financiamento da economia portuguesa. Do painel fizeram parte Luís Laginha de Sousa, presidente da Euronext Lisbon, João Vermelho, responsável da Mota-Engil para o mercado de capitais, Manuel Puerta da Costa, do conselho de administração da BPI Gestão de Activos e administrador da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros, e ainda Raul Marques, administrador da Banif Gestão de Activos e presidente da mesma associação.

A cargo do presidente do ISEG, João Duque, ficou a moderação do debate. Referindo que aquela era uma conversa “de pessoas do mercado para pessoas do mercado”, o economista começou por ressalvar a importância dos analistas financeiros nos últimos 30 anos, aquando da criação da APAF. "Temos uma indústria que ganhou muita maturidade nos últimos 25 anos", referiu. Também Manuel Puerta da Costa relembrou uma evolução na profissão, que no passado tinha como função primordial a análise de crédito ou de risco. “O analista financeiro ganhou maior importância com as privatizações das empresas nacionais”, lembra o especialista, que acrescenta que “sem as privatizações não tinha havido o crescimento do mercado de capitais, que existiu”.

Regulação a mais?

Uma das questões lançadas no debate foi a excessiva regulação dos mercados. Trazendo para a tertúlia um pouco da sua experiência na gestão de ativos, Manuel Puerta da Costa deu o exemplo dos prospetos dos fundos de investimento, que apresentam um “excesso de informação”, sendo alguma dela repetida. “Isto acontece a nível local, mas a nível internacional também”, acrescentou.

Dar espaço ao erro em fundos de investimento

Outra das questões prendeu-se com a ética nos Mercados. Será o sentido ético elevado ou não nesta área? Em que medida é fácil atuar nos mercados com esse peso moral?

 A este nível Luís Laginha lembrou que “ainda existem partes “invisíveis” do mercado que fogem ao escrutínio. Por isso, “o  importante é trazer empresas para o lado transparente dos mercados”, sublinhou. Mais concretamente sobre a profissão, Manuel Puerta da Costa entende que a ética de um analista financeiro não se aprende numa instituição financeira ou numa formação. O especialista realçou que o importante num analista é “pensar out of the box”, e exemplificou: “no buy side quando temos fundos orientados para a criação de alfa, temos de dar espaço ao erro. Infelizmente a tendência na gestão de activos a nível mundial dá cada vez menos importância a esse contrariar do mercado”, indicou.

Literacia no mercado de capitais

A terminar a tertúlia, e respondendo a uma das questões da audência, Raul Marques perspetivou sobre a evolução da profissão de analista financeiro e terminou a sua intervenção referindo que “jogar em bolsa” é uma das expressões que mais ouve e que menos lhe agrada. “Não se joga, investe-se em bolsa. É preciso que haja cada vez maior literacia financeira no mercado de capitais”, concluiu.