Duas mensagens muito diretas da Fidelity para evitar uma deterioração no nível de vida dos investidores

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Gaetan Lee, Flickr Creative Commons

David Buckle é o responsável da área de design de soluções de investimento da Fidelity. Conta com mais de 22 anos de experiência como gestor de fundos e analista na área das obrigações, taxas de câmbio e investimento em multiativos. Depois de um doutoramento em Matemática (centrado na construção de carteiras), Buckle trabalhou para várias gestoras de ativos, como J.P.Morgan AM, Putnam, Merrill Lynch/BlackRock e UBS, para além de gerir uma boutique de investimentos. Atualmente, é vice-presidente do Instituto de Pesquisa de Investimento Quantitativo. Toda esta experiência profissional acumulada concede-lhe uma bagagem muito importante no que diz respeito ao conhecimento da indústria, dos mercados e do próprio comportamento dos investidores. Hoje o especialista mostra-se muito preocupado com a situação em que vivemos, o que o levou a deixar duas importantes mensagens-chave.

Primeira: implorar aos bancos centrais que considerem o impacto desta política monetária expansiva, já que se suspeita que a situação se vá deteriorar em breve. “Muitos dos que se aposentaram desde a crise financeira contam com planos de pensões de prestação definida, pelo que não tiveram de suportar a carga das baixas taxas de juro. No futuro, a maior parte dos novos aposentados terá planos de contribuição definida e sentir-se-ão mais consequências: os seus fundos de pensões não terão crescido o suficiente para financiar a sua aposentadoria e anuidades, e as taxas de juro, não serão altas o suficiente para satisfazer as responsabilidades. Além disso, embora os participantes dos planos de prestação definida não sejam afetados, as empresas e as autoridades que devem pagar as suas pensões, cada vez vão ter mais dificuldades para o fazer”, assegura.

Para visualizar este problema, Buckle traduziu-o em números. “Alguém que trabalhe para uma administração pública no Reino Unido durante 40 anos, receberá uma pensão na modalidade de prestação definida de aproximadamente dois terços do seu último salário, enquanto que alguém que fez contribuições idênticas a um plano de contribuição definida receberá hoje uma taxa anual à volta de um décimo do seu último salário. Este último valor não só é demasiado baixo para conseguir uma reforma cómoda, como a administração pública terá que compensar a diferença entre o nível de taxa que prometeu ao participante do plano de prestação definida e as taxas de rentabilidade que encontra no mercado para os investimentos que realiza a fim de financiar este nível de taxas”, explica.

A segunda mensagem de Buckle é para os investidores. O especialista suspeita que, em última instância, a contínua deterioração do nível de vida de uma população vai acabar por exercer pressão sobre os governos que, por sua vez, deixarão de tolerar a figura do banco central independente. “Para evitar uma falta de independência, e também reconhecendo que os níveis de emergência estabelecidos em 2018 para as taxas de juro não estimularam muito a economia, os bancos centrais aumentaram as taxas. Só então, quando o nosso barco afundado regressa à superfície e os investidores regressam aos ativos mais seguros, diminuirá o aumento dos riscos dos preços de um ativo. Ate então, faça algo com o seu dinheiro, nem que seja colocá-lo num depósito. Investir em liquidez apenas garante uma rentabilidade que vai perder terreno progressivamente, em relação à inflação. Significa simplesmente abraçar uma deterioração de nível de vida. É como voltar aos camarotes inundados quando o barco está submerso nas ondas”, conclui.