Dolat Capital: “2020 será um clássico de gestão passiva no posicionamento da política monetária da Fed”

Cristiana Almeida_Pedro Teles_Dolat Capital
Cedida

Antecipa-se um 2020 singular, com as eleições presidenciais a serem disputadas a 3 de novembro. Não obstante, o evento anterior ser decisivo, há ainda um processo de impeachment presidencial pendente (o 3º da história) e a nova “Guerra Fria”, agora a ser disputada com a China. O Presidente Trump tem na estratégia de re-eleição, a apresentação do joker de uma trégua comercial com a China (vulgo “Phase One Deal”).  O seu objetivo, ainda que frágil na substância, é a implementação da agenda “America First”, sobretudo perante a sua ténue, mas aparentemente indefetível, base eleitoral. Historicamente, o mercado acionista americano registou uma rendibilidade positiva em 19 dos últimos 23 anos onde se disputaram eleições presidenciais.

No entanto, há ainda a reter o 3 de março, a chamada “Super Tuesday” - primárias do partido democrata – onde 40% dos delegados à convenção democrata serão conhecidos. Acreditamos que uma hipotética (mas não improvável) vitória da ala super progressista do partido democrata – os Senadores Elizabeth Warren ou Bernie Sanders - possa provocar uma reação negativa dos investidores, em resposta a agendas económicas e sociais consideradas disruptivas. Por outro lado, será o dia para aferir sobre a real capacidade política de Mike Bloomberg chegar à Casa Branca.

No plano macro-económico, e conforme apontado pelo presidente da Reserva Federal Americana, 2020 será um clássico de “gestão passiva” no posicionamento da política monetária. O consenso de mercado atual aponta para uma descida de taxas de juro, de 0.25%. As previsões do banco central americano apontam para um crescimento económico 2.2%, com a inflação a situar-se nos 2%. A taxa de desemprego esperada é de 3.7%, situando-se, assim, em mínimos dos últimos 50 anos. Como nota final, recordamos que nunca um presidente americano em exercício perdeu uma re-eleição, quando a taxa de desemprego é inferior a 4%.

Após um período inicial de adaptação por parte dos novos atores políticos do “velho continente”, nomeadamente Ursula von Der Leyen e Christine Lagarde, 2020 será marcado por uma nova fase no processo de coesão orçamental, monetária e regulatória da União Europeia. No fulcro da agenda política europeia, estão agora temas como a digitalização da economia (e das empresas), mas sobretudo a chamada “plataforma verde”, com medidas vanguardistas de redução de emissões de poluentes e combate estrutural à crise climática.

Não obstante, o Banco Central Europeu publicou expectativas de crescimento económico inferiores a 1.5% para os próximos 3 anos, e de aceleração gradual da inflação até aos 1.7% em 2022. Não são esperadas subidas da taxa de referência até que se verifique uma “convergência robusta” da inflação.

Para a Alemanha, a locomotiva do bloco europeu, que em 2019 ficou marcada por um abrandamento económico, vítima de uma considerável contração de atividade do tecido fabril, prevê-se um crescimento económico modesto para 2020, na ordem do 1%. No plano político há desafios que se avizinham, como o novo relacionamento do partido de Angela Merkel e Annegret Kramp-Karrenbauer, com o SPD, a outra metade da “Grande Coligação”. De notar que, em função da política monetária do BCE, bem como do prolongamento do programa de compra de ativos (“Quantitative Easing”), acreditamos que as taxas de juro do Bund a 10 Anos permaneçam negativas, pelo menos até ao final de 2021.

No Reino Unido, o PM Boris Johnson, sob o slogan “Get Brexit Done”, obteve a mais robusta maioria parlamentar do Partido Conservador desde Margaret Thatcher, liquidando assim o risco de uma possível eleição do Trabalhista Jeremy Corbyn, e da sua agenda de natureza estatizante.  A probabilidade, agora, de ser celebrado um acordo de saída da União Europeia até 31 janeiro de 2020, é quase certa, melhorando, assim, significativamente o potencial desempenho futuro dos ativos financeiros e da Libra.

A China encontra-se num período de abrandamento económico estrutural, em que a fase de estímulos fiscais e monetários será substituída por um novo período agora impulsionado pela crescente classe média que estimula a procura de bens e serviços no mercado interno. Apesar de ser, neste momento, expectável que o crescimento económico abrande para níveis inferiores a 6%, a China preocupa-se com a estabilização das métricas económicas e reconquistar no menor período possível a confiança dos investidores externos.

Os desafios internos de coesão da China, com a crise política em Hong Kong sem solução visível, e com eleições presidenciais em Taiwan marcadas para o início de 2020, em que não é expectável uma mudança face ao status quo, servirá de barômetro para o Presidente Xi Jinping inferir sobre a eventual ascensão de movimentos separatistas.

O pacto comercial finalizado em outubro de 2018 entre os EUA e o Japão reforçou a relação comercial entre estas duas grandes economias, mas as empresas japonesas são altamente suscetíveis à incerteza em torno do comércio entre os EUA e a China, bem como à desaceleração da economia chinesa.

Devido à política monetária ter esgotado a sua capacidade de impulsionar o crescimento e a inflação, prevê que o crescimento no Japão permaneça inferior 1%, abaixo das expectativas para outras economias do G7.