Dividendos mundiais ganham músculo

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jonycunha, Flickr, Creative Commons

O terceiro trimestre deste ano não parece ser aquele que tem mais datas marcadas no calendário dos dividendos. E, no entanto, este período foi muito relevante para 2017, tal como refere a Janus Henderson no seu estudo Global Dividend Index: apenas entre julho e setembro, empresas de todo o mundo repartiram 328.000 milhões de dólares pelos seus acionistas, um valor que representa uma subida de 14,5% e que se assume como a maior subida trimestral em mais de três anos. Em termos de taxa subjacente – ou seja, tendo em conta a flutuação das taxas de câmbio – este crescimento ascendeu 8,4%, o nível mais elevado em quase dois anos.

A gestora atribui esta subida das redistribuições aos acionistas ao pagamento de dividendos extraordinários abundantes. Não obstante, constatou que estes dividendos aumentaram em base subjacente em todas as zonas geográficas, assim como em todos os sectores de atividade, ainda que os valores tenham oscilado em grande medida entre si. Assim, o Reino Unido foi o país com empresas mais generosas para com os seus acionistas, depois de ter ficado para trás em relação ao resto do mundo ao longo do ano passado. Em contrapartida, os emergentes sofreram com o peso da China, onde os dividendos caíram pelo terceiro ano consecutivo.

Ben Lofthouse, gestor de fundos de estratégia Global Equity Income, ressalta este facto: “Nos últimos anos, foi muito rara a vez em que assistimos a um crescimento dos dividendos em todas as zonas geográficas ao mesmo tempo”. A Lofthouse atribui esta melhoria ao contexto de crescimento global sincronizado: “À medida que a economia mundial continua com a sua tão ansiada normalização depois da crise financeira, a confiança melhora e os lucros empresariais aumentam. Os investidores centrados na perceção de rendimentos periódicos estão a beneficiar deste crescimento, já que se traduz num incremento da remuneração ao acionista”.

Revisão por regiões

O forte colapso da libra como consequência do Brexit, em conjunto com a onda de cortes e o cancelamento de dividendos de algumas das empresas com maior peso, levou a que o Reino Unido terminasse 2016 atrasado em relação ao resto das regiões. Assim, parece notável que o país se tenha situado durante o terceiro trimestre no top do ranking mundial de dividendos, com as suas empresas a repartir – especialmente as mineiras – dividendos no valor de 29.600 milhões de dólares. Este valor representa um crescimento subjacente de 17,5% e de 12,7%.

No resto da Europa, foram poucas as empresas que remuneraram os seus acionistas durante o terceiro trimestre… com a exceção de Espanha, que é de facto o país que mais redistribuiu durante o terceiro trimestre do ano. A Janus Henderson indica no seu relatório que em Espanha “o crescimento dos dividendos estava já há algum tempo atrás do resto da região, mas agora mostra indícios de melhoria”, uma vez que estes incrementaram 13,3% em taxa subjacente. “Em toda a Europa, mais de 90% das empresas aumentaram a sua remuneração aos acionistas numa taxa interanual”, explicam a partir da entidade.

Ainda que o Reino Unido tenha sido a região onde mais cresceram os dividendos, não foi a que mais dinheiro repartiu. Este título foi para a América do Norte, uma vez que quatro em cada dez dólares distribuídos em todo o mundo durante o terceiro trimestre tiveram origem nesta parte do mundo. O crescimento foi acelerado tanto nos Estados Unidos como no Canadá, com aumentos de 9,2% e 11% em base subjacente. Embora os sectores norte-americanos tenham incrementado a quantia dos seus dividendos, da gestora destacam o facto de terem registado aumentos de dois dígitos nas retribuições a banca, o software e os semicondutores.

O relatório elaborado pela Janus Henderson detalha em terceiro lugar a evolução dos dividendos na região Ásia-Pacífico (excluindo o Japão). Esta época do ano é a mais eleita pelas suas empresas para pagar aos seus acionistas e, de facto, a gestora constatou um incremento de 36,2% até 69.600 milhões de dólares, “graças ao impulso dos mais que generosos dividendos extraordinários de Hong Kong”. O crescimento subjacente manteve-se em 12,1% e constatou-se que Hong Kong, Austrália e Taiwan bateram recordes. No entanto, o resultado da região foi afetado pela distribuição de retribuições na China, que voltaram a cair ligeiramente em taxa interanual. Na gestora acreditam que esta tendência “indica que o gigante asiático poderá registar o seu terceiro ano consecutivo de descidas em 2017 depois de anos de incessante crescimento”.

2017, ano recorde

Como consequência deste crescimento, o índice elaborado pela Janus Henderson bateu máximos desde o seu lançamento em 2009, até alcançar os 168,2 pontos. Na empresa, antecipam que 2017 termine com dados recorde a respeito da quantia dos dividendos e, de facto, agora esperam que se estabeleça um novo recorde de dividendos, em 1,25 biliões de dólares (o que equivale a um incremento de 7,4% em termos gerais e de 7,3% em taxa subjacente). Prova da força crescente dos dividendos é que, ao longo do ano, a Janus Henderson viu-se obrigada a alterar a suas previsões de crescimento até 91.000 milhões de dólares.

“Depois de assistir a quotas recorde de dividendos no segundo e terceiro trimestre, tudo aponta para que as empresas cotadas à escala mundial lucrem um máximo histórico no que respeita a negócios totais anuais este ano”, enfatiza Lofthouse. Acrescenta que o crescimento subjacente “quase duplica a nossa previsão para o início do ano, graças a uma expansão económica generalizada e sincronizada em todo o mundo, ao mesmo tempo que a taxa de crescimento geral foi impulsionada pela depreciação do dólar e pelo aumento dos dividendos estrangeiros”.