Dez anos após a eclosão da crise do subprime: em que ponto estão os mercados agora?

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Michael Matti, Flickr, Creative Commons

A liquidação de três fundos de investimento de ABS (Asset Backed Security) do BNP Paribas AM, a 10 de agosto de 2007, marcou o pontapé de saída da crise do subprime, que apenas um ano mais tarde teve alcance mundial com a queda da Lehman Brothers, dando lugar à Grande Crise Financeira. De acordo com dados da Thomson Reuters Lipper, durante 2007 foram liquidados apenas 146 fundos nos Estados Unidos; o pico máximo deu-se em 2009, com 695 fundos a serem liquidados. O acumulado da última década reflete a liquidação de 4.791 veículos de investimento no país (ver gráfico).

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O mundo de 2017 mudou em vários aspetos face ao ano de 2007. Além da avalanche da nova regulação, que continua a abater-se sobre o setor financeiro, os investidores têm assistido ao que, provavelmente, é a maior experiência monetária de todos os tempos, com a introdução de estímulos quantitativos e taxas negativas sem precedentes por parte dos grandes bancos centrais do mundo desenvolvido. Dada a ausência de precedentes, agora a grande incógnita é como conseguirão esses bancos, liderados pela Reserva Federal dos Estados Unidos, reconduzir as suas políticas para o caminho da normalização monetária.  

Foi uma década marcada por uma recuperação tão lenta como fraca, na qual a inflação tem sido praticamente inexistente há quase um ano. Também foi uma década na qual numerosos países se viram obrigados a executar dolorosas reformas estruturais – algumas, ainda assim, pendentes de implementação, e a enfrentar grandes desafios como o envelhecimento da população ou a digitalização da economia. O grande paradoxo levantado pelo período entre 2007 e 2017 foi a lenta transmissão de estímulos à economia real, face ao espetacular Bull Market visto em ações e obrigações. Atualmente, os preços de uma ampla variedade de classes de ativos apenas lançam uma questão que parafraseia o famoso álbum lançado pelos Supertramp em 1975: Crise? Qual crise?

Aqueles que querem reviver a avalanche de acontecimentos daqueles dias, podem fazê-lo através da conta do Twitter @TBTLife, que começou a twittar em tempo real simulando todos os estados da crise financeira.

Um ciclo de subidas com escassos precedentes

As ações norte-americanas converteram-se no exponente máximo desta recuperação, ao experimentar aquilo que é o segundo ciclo de subidas de maior duração no país, desde a II Guerra Mundial. Precisamente a 10 de agosto, o S&P 500 perdia 1,45%, algo que não acontecia desde o passado mês de maio. Tanto este indicador como o Dow Jones e o Nasdaq alcançaram os máximos de todos os tempos até agora, este ano. “Graças ao colapso das taxas de juro nos últimos dez anos, no entanto, não foram só as ações que fizeram os investidores sentirem-se orgulhosos”, constata Tom Stevenson, da Fidelity Personal Investing. O especialista constata que a rentabilidade dos títulos observou uma descida ao longo da última década, de maneira que “a crise financeira foi a cereja no topo do bolo para um mercado de subidas de obrigações que foi constante desde os inícios da década de 1980”.

O representante da Fidelity Internacional fornece uma tabela onde se pode ver a evolução da rentabilidade acumulada em quinze classes de ativos, entre 2007 e 2017. Os dois claros vencedores transferirforam a dívida high yield e a dívida emergente, mas talvez o mais significativo é que, neste tempo, apenas perderam dinheiro quem investiu em matérias-primas, a única classe de yields negativas a dez anos.

A conclusão de Stevenson sobre esta última década é “o excelente que foi este período para ter uma carteira equilibrada entre ações e obrigações”. “Não só os investidores aproveitaram os lucros da diversificação; eles conseguiram-nos sem os riscos de deterioração de uma das principais classes de ativos”.

Este outro gráfico anexo, facultado pela J.P.Morgan AM no âmbito do seu programa Market Insights, corrobora o que foi dito por Stevenson: determinados ativos podem comportar-se bem num ano e, no entanto, serem os que registam os piores resultados no ano seguinte; a grande lição do período 2007-2017 foi a necessidade de procurar uma correta diversificação de ativos em carteira.

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Ainda assim, o comportamento das classes de ativos conduz a múltiplas observações adicionais. Por exemplo, Stevenson constata sobre estes anos que “é extremamente raro que caiam todas as classes de ativos de uma só vez, inclusive nas piores crises. Este é o melhor argumento para a diversificação que conheço”, afirma o especialista da Fidelity.

Ele considera que a afirmação também é válida por setores, dado que os últimos dez anos mostraram uma ampla dispersão de rentabilidade entre os setores favoritos dos investidores (como a tecnologia) e os menos preferidos (principalmente os financeiros). Foi uma década em que se tornou extremamente familiar para os investidores o termo “bond proxy”, para definir aquelas ações tão defensivas que mostram um comportamento semelhante ao de uma obrigação, de setores como o consumo básico, farmacêutico, telecomunicações ou serviços públicos.

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Como será o futuro?

Para Stevenson, “agora o desafio é decidir para onde os mercados se dirigirão nos próximos dez anos”. O especialista destaca a força da última temporada de resultados nos Estados Unidos (com uma subida dos lucros de 10%), que na sua opinião, “justifica, de certo modo, os novos máximos do mercado”, embora, ainda assim, “agora o mercado de subidas esteja a tornar-se cada vez mais obsoleto”. Stevenson mostra uma especial preocupação pela sustentabilidade das margens de lucro já elevadas, “especialmente se os bancos centrais começam a retirar os estímulos monetários que têm sustentado os mercados nos últimos dez anos”.