Desenvolvidos vs emergentes: quatro gráficos que demonstram as vantagens competitivas dos primeiros

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omarnoory, Flickr, Creative Commons

É tão simples como isto: um dólar mais forte + petróleo barato = a melhores condições para os mercados desenvolvidos do que para os emergentes. É basicamente esta a conclusão a que chegaram Keith Wade, Azad Zangana e Craigh Botham, economistas da Schroders. Depois de analisar os dados sobre o crescimento mundial no terceiro trimestre, cortaram ligeiramente as suas previsões de crescimento para 2015, de 2,5% para 2,4%. Em seguida, clarificam algumas das componentes de crescimento para o resto do ano e explicam porque chegam a tal conclusão sobre os países desenvolvidos.

O trio de especialistas começa pelo preço do petróleo, que agora se encontra mais baixo do que esperavam em maio: baseando-se nos mercados de futuros, decidiram assumir uma queda adicional de 9 dólares este ano e de 16 dólares no ano seguinte. “Isto ajudará o consumo no mundo desenvolvido, embora vá pesar sobre os emergentes, dada a sua grande dependência sobre a produção energética e o menor nível de transmissão da redução de custos energéticos a famílias e empresas, nessas economias”, indicam. Adicionalmente acreditam que a queda continuada do crude também afectará com maior profundidade os investimentos no sector energético norte-americano, que recentemente mostrou sinais incipientes de estabilização.

“Continuamos a acreditar que preços mais baixos do petróleo se traduzirão num gasto superior, e em maior crescimento global nos próximos trimestres, ao ser superado o gasto dos consumidores de petróleo relativamente aos cortes dos produtores”, acrescentam. Wade, Zangana e Botham constatam que, na verdade, esta melhoria se refletiu no PIB dos EUA no segundo trimestre, tendo sido demonstrada uma melhoria do consumo. Por outro lado, outras economias desenvolvidas não sentiram este efeito riqueza, como foi o caso do Japão.

Outro dos factores a favor dos países desenvolvidos é a redução prevista da austeridade nas economias dos G-20, em conjunto com aplicação de uma política fiscal mais permissiva nos EUA. A única grande economia que se demarcará desta tendência será o Reino Unido, cujo governo planeia introduzir cortes no ano que vem.

A inflação acompanhará, ao manter-se baixa o resto de 2015, embora os economistas comentem que “as revisões em baixa da inflação em economias avançadas sejam compensadas com as revisões em alta das economias emergentes”.

Por outro lado prevê-se que continue a queda do crescimento chinês em 2016, e que o PIB da Rússia e do Brasil estabilize em níveis mais baixos. Como resultado, o crescimento global previsto para o ano que vem situa-se nos 2,9% - embora a balança favoreça os países desenvolvidos – o que na opinião dos especialistas “reflete a fortaleza do dólar (em máximos de uma década) e o menor perfil de preços das matérias primas. Tudo isto leva o trio de economistas da Schroders a concluir que “a combinação de um crescimento mais baixo e de uma maior inflação significa que as economias emergentes estão a encaminhar-se para um caminho de estagflação”.

Como intervém a Fed nesta dinâmica

Apesar das últimas atas da Fed terem vindo a revelar uma certa divisão entre os membros do Comité de Mercado Aberto (FOMC) sobre a conveniência de uma subida das taxas de juro em menos de um mês, o mercado continua a considerá-la nos preços. A previsão dos economistas da Schroders é que a autoridade monetária vá subir o preço oficial do dinheiro até 0,75% para finais do ano, e para 2% no final de 2016. Indicam que o ritmo de subida será mais lento do que previam inicialmente perante os riscos que representam a força do dólar e a queda das commodities, assim como o seu impacto sobre a inflação. “Acreditamos que a Fed endurecerá a sua política monetária, visto que as taxas de juro continuam a ser negativas em termos reais, embora a taxa de emprego se tenha aproximado do nível de equilíbrio”.

Neste contexto, consideram que “o dólar dará à Fed uma pausa para pensar, especialmente agora que a China permitiu que o yuan se desvalorizasse. Mas é provável que se mantenha, em termos domésticos, um movimento em direção a uma taxa de juro normal”. Os especialistas concluem que a chave definitiva para que a autoridade dê esse passo será a evolução do desemprego.

Os economistas deixam alguns avisos sobre estas instruções, e lembram que “este é um exercício qualitativo e não prevê o crescimento em geral". Pretendem sim “considerar o impulso no contexto de atividade atual e fazer algumas perguntas sobre as mudanças nas políticas monetárias”. Além da Fed, também falam dos possíveis movimentos do Banco Popular da China nos próximos meses: "Devemos perguntar-nos se a China tem estímulos suficientes, assumindo-se ainda que seja fornecido outro estímulo fiscal. Resta saber se a autoridade monetária se juntará à guerra das divisas e se usará o renminbi como uma ferramenta macro para apoiar a atividade”. Em consequência desta situação, Wade, Zangana e Botham, indicam que “os países emergentes exportadores de matérias primas continuarão dependentes (em relação à China) ao manter-se a debilidade das suas divisas, as taxas de juro altas e ao deteriorar-se as suas receitas das exportações”.