(Des)ilusão monetária

Ricardo_Almeida
Funds People

Num acto fascinante e inesperado de ilusionismo comunicacional, a Reserva Federal dos Estados Unidos conseguiu, em poucos minutos do passado dia 18 de Setembro, fazer desaparecer uma parte considerável da credibilidade reputacional que detinha junto dos agentes económicos. A alteração discursiva de vários responsáveis pela Política Monetária dos Estados Unidos verificada desde meados do mês de Maio permitiu uma sinalização precoce (e atempada) de uma redução dos montantes associados ao programa de compra de activos em implementação (QE3). O ajuste de expectativas dos investidores perante um ambiente global de liquidez (ligeiramente) menos expansivo despoletou, no imediato, quedas generalizadas das principais classes de activos. Após essa reacção inicial, gradualmente e de forma consistente, a filtragem dos impactos passou a ser mais alinhada com os influxos recentes de capital para as diversas classes de activos, com quedas mais fortes a ocorrerem em mercados com entradas de fundos mais agressivas nos 12 meses anteriores a Maio (dívida soberana e moedas de alguns mercados emergentes), e vários outros mercados a recuperarem por completo (generalidade dos mercados accionistas).

Chega 18 de Setembro, e, após um reposicionamento prudente de investimentos financeiros consistente com a concretização da alteração de dimensão do QE3 alvitrada em sucessivas intervenções de vários responsáveis da Reserva Federal,  nada acontece. Nada de muito relevante é de extrapolar deste facto. O mais preocupante é a incapacidade por parte das autoridades monetárias mais poderosas da economia mundial de perceber que as medidas actualmente em implementação não têm servido, de forma inequívoca, para uma dinamização do ciclo de crédito nos Estados Unidos, e têm funcionado, de forma inequívoca, para criar instabilidade desnecessária em diversos mercados marginais sem capacidade para lidar com os elevados montantes de liquidez excedentária em circulação pelo sistema financeiro.

Quantos coelhos quantitativos terá a Reserva Federal que tirar da sua cartola monetária até que se perceba que o truque é sempre o mesmo?