Depois do recuo do CaixaBank: que caminhos a seguir? Gestoras nacionais comentam

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Cedida

Foi em fevereiro passado que o CaixaBank anunciou uma OPA sobre o Banco BPI, de forma a alcançar a maioria do capital da entidade nacional. Passados cerca de quatro meses o banco catalão recuou e acabou por retirar a oferta, “como consequência do voto desfavorável da Assembleia Geral de Acionistas do BPI, impossibilitando a desblindagem de estatutos do BPI, e assim inviabilizando uma das condições associadas à oferta do CaixaBank para que a operação tivesse sucesso”, assinala Ricardo Almeida, gestor na Patris Gestão de Activos.

A continuidade da oferta, diz o profissional da gestora independente, poderia ter-se mantido se o Caixabank tivesse decidido “alterar as condições da oferta”.  À CMVM  o banco catalão não só anunciou a retirada da OPA, como referiu que “irá continuar a estudar outras opções estratégicas para a participação que detém no BPI (44,1%)”.

Como reagiram as ações do BPI

A bolsa nacional não tardou em demonstrar qual a reação ao anúncio feito quinta-feira pelo CaixaBank. As ações do BPI  que estiveram suspensas pelo Regulador durante todo o dia do anúncio, voltaram às negociações na abertura da sessão de sexta-feira. O título caiu abruptamente, o que “reflete o insucesso da oferta, à qual estava associado um preço acima da cotação atual do BPI em bolsa”, refere Ricardo Almeida. Para Paulo Monteiro, Diretor da Gestão de Activos do Banco Invest, pelo menos no curto prazo, “a retirada da OPA sobre o BPI, retira algum potencial de subida ao título”.

Dois cenários em cima da mesa

Na opinião de Nuno Marques, gestor do Millennium Acções Portugal, da Millennium Gestão de Activos (recentemente adquirida pelo Grupo CIMD) são dois os cenários que se afiguram como prováveis. O primeiro tem a ver com “a possibilidade de venda da participação do Caixabank”, enquanto o segundo “está relacionado com uma possível fusão com o BCP”.

O primeiro deles “teria um impacto negativo no preço do BPI dada a pressão a que estaria sujeito, mesmo não sendo a venda feita em mercado”, reconhece o gestor da MGA para quem a dúvida reside em saber se “o Caixabank estaria interessado em vender a participação na sua totalidade” ou se “‘apenas’ a posição em que não pode exercer os direitos de voto por limitação dos estatutos do BPI, ou seja, se venderia os 44.1% ou os 24.1%”.  Neste cenário, Nuno Marques acredita que o CaixaBank “apenas está interessado em ser acionista maioritário não tendo interesse em partilhar a gestão com os restantes acionistas”. Assim, para o gestor, se o banco catalão optar por vender a posição será a totalidade.

Nesta equação, a segunda hipótese – e a mais falada – passa por uma eventual fusão entre o BPI e o Millennium BCP. A este nível, o responsável pelo fundo de ações Portugal, fala da importância de perceber se “a Santoro teria interesse em aumentar a sua posição no BPI e comprar parte da participação do Caixabank”. Se a “resposta” for positiva “o ângulo especulativo mantém-se e a fusão com o BCP seria mais provável, o que era suficiente para potenciar a subida do preço da ação”. Outra possibilidade, diz, seria o próprio CaixaBank promover “uma fusão com o BCP em conjunto com os restantes acionistas”.

Fusão entre BPI e BCP: operação vantajosa mas sensível

Uma eventual fusão entre o BPI e o Millennium BCP é para onde os investidores vão virar atenções nos próximos tempos, realça o profissional da Patris Gestão de Activos. De um ponto de vista financeiro, para Nuno Marques, “parece ser consensual que esta fusão fará sentido”. Muito embora possa potenciar a geração de sinergias e de custos através de uma otimização da estrutura fusionada, é “de execução extremamente difícil e sensível do ponto de vista económico dado o impacto que terá no mercado de trabalho em Portugal”.

É na definição dos termos da troca que reside, para Nuno Marques, o principal calcanhar de Aquiles da operação, já que “a administração do BPI, em março de 2015, avaliou o próprio banco a 2.04€/ação adicionado de 0.22€/ação decorrente da partilha de potenciais sinergias, ou seja, um prémio de 79.5% face a cotação de fecho do dia 18 de junho”. No entanto, a instituição catalã “teria interesse em apoiar este cenário para, num futuro próximo, vender a sua posição na estrutura já fusionada de maior dimensão e com mais liquidez. No caso de este cenário começar a ganhar forma o impacto será positivo para as ações do BPI”.

Também Paulo Monteiro vê com bons olhos a eventual fusão com o BCP: “Na minha opinião seria benéfica, no sentido de criar uma instituição de maior dimensão e capacidade competitiva, num contexto concorrencial global cada vez mais difícil”, refere.