Denise Voss: “Temos um grande futuro pela frente”

Denise Voss
ALFI Funds, Flickr, Creative Commons

À margem da European Alternative Investment Funds Conference, realizada no Luxemburgo nos últimos dias do mês passado, a Funds People Portugal falou com Denise Voss, a presidente da Associação da Indústria de Fundos do Luxemburgo (ALFI). Recorde-se que nos dois dias de conferência, foi divulgado mais um recorde nos fundos no Luxemburgo, que passaram a gerir mais de 3.600 mil milhões de euros. Além disso, também a questão regulatória e a tecnologia foram dos temas sempre presentes neste evento que tinha como base os fundos alternativos.

E é precisamente nesta questão que Denise Voss se foca. Para a Chairman, o maior desafio para o próximo ano é a questão regulatória. Além desta questão, Denise Voss também refere que um dos maiores desafios para o próximo ano é conseguir explicar, transversalmente, “o que é que a indústria da gestão de ativos faz”. Neste aspecto, Denise Voss explicita que “é muito importante que a Comissão Europeia, os Policy Makers e até os deputados percebam que a indústria da gestão de ativos funciona num modelo bastante diferente do sector bancário”. A Chairman sublinha a questão e refere, também, que essa explicação foi feita no passado junto de todos intervenientes. O maior desafio, indica, “é continuar a explicar o que faz a gestão de ativos. É uma questão muito importante e que temos de fazer bem junto de todos”.

“Temos um grande futuro pela frente”

Esta é a grande convicção de Denise Voss sobre a indústria de fundos de investimento. “Queremos que exista um aumento das fontes de financiamento, através dos fundos de investimento, para as pequenas e médias empresas, por exemplo”, refere. Ainda assim, uma das questões em cima da mesa são os custos destes instrumentos. No entanto, “os reguladores e os legisladores estão atentos e acreditam que os fundos de investimento têm uma grande importância como fonte de financiamento”, sublinha, referindo também que os “fundos de investimento alternativo podem dar uma ajuda neste aspecto”.

Não podemos esquecer que “esses fundos são reguladores pela AIFMD, o que garante que sejam geridos de uma forma mais transparente e com maior confiança” para o mercado, refere. Em traços gerais, a Chairman sublinha a ideia de que “ter uma boa regulação é muito importante para o crescimento da indústria dos fundos de investimento”.

A juntar a esta equação, Denise Voss acrescenta também a questão digital. “As Fintech, o mundo digital, o Big Data e o Blockchain podem ser importantes para o futuro, tal como os millennials e a sua capacidade de se conectarem ao mundo” o que faz com que haja uma “grande oportunidade de terem uma relação através do seu smartphone com os fundos de investimento”. Ainda assim, apesar deste aspecto, a Chairman reconhece que o “mundo financeiro pode ser aborrecido, sobretudo no que diz respeito aos fundos de investimento”. Refere que é “mais fácil explicar” aos investidores o que é “uma conta bancária do que pensar no futuro ou na reforma a partir dos fundos de investimento”. A terminologia por vezes é complicada e difícil de explicar, pelo que temos de aclarar tudo de forma descomplicada, sobretudo no caso do mercado de retalho”.

Apesar de evidenciar a importância do mundo digital, Denise Voss foca-se na análise da segurança para conseguir ter bons resultados. “Apesar de estarmos bastante optimistas com o Blockchain, o Big Data e as Fintech, a questão da segurança é o que realmente importa”, refere e destaca que “o Blockchain é na realidade uma ferramenta e que pode ser usada no que é realmente mais importante. No entanto, ainda existe uma grande discussão para ver no que pode realmente ajudar”. Deste modo, a Chairman da ALFI revela que “estamos a aguardar para ver quais são as boas práticas que o Blockchain pode trazer para a indústria dos fundos de investimento e da gestão de ativos”.

E o Brexit?

Um dos eventos do ano foi o referendo que colocou o Reino Unido com um pé fora da União Europeia. Nesta questão, Denise Voss revela que o “Luxemburgo tomou a decisão de não ser agressivo, sobretudo no que diz respeito à promoção do sector financeiros do país para os gestores e entidades britânicas”.

A Chairman revela, também, que “existe uma boa parceria entre o Luxemburgo e o Reino Unido”, dando o exemplo de que ao “nível dos UCITS existem 17% dos ativos em fundos que são geridos a partir do Reino Unido”. “O investimento em UCITS ou em fundos alternativos, é uma boas alternativas para os gestores do Reino Unido” caso o Brexit se concretize, de forma a que continuem o seu trabalho junto da União Europeia. Nessa perspetiva, Denise Voss afirma que o “regulador do Luxemburgo tem sido uma parte ativa, através de várias conversas com os gestores de UCITS e de fundos alternativos”.