Deflação na Zona Euro: qual a explicação?

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an untrained eye, Flickr, Creative Commons

“Depois de cinco anos de uma política monetária expansiva, porque é que a deflação é agora uma ameaça eminente?” Precisamente este mesmo medo, foi há algumas semanas referido por Christine Lagarde, Diretora geral do FMI, como sendo uma ameaça que pode pôr em causa o “caminho” da recuperação dos países desenvolvidos. No seu último Economist Insights, os economistas da UBS Global Asset Management, Joshua McCallum e Gianluca Moretti, debruçam-se precisamente sobre o “porquê da deflação apenas se ter tornado agora uma ameaça, ainda para mais quando existem sinais de aceleração na atividade económica”.

“A energia e a comida podem ser bastante voláteis. E os preços da energia, em particular, explicam bem a subida da inflação, nos anos seguintes à crise financeira”. Durante 2009 e 2010, tal como seria esperado num momento de recessão, a componente principal da inflação desceu, recuperando o fôlego em 2011. A queda inesperada aconteceu nos anos seguintes, “apesar da recuperação económica”. “Com a inflação da energia e da comida também a cair, aí reside a principal preocupação do FMI”, dizem os dois especialistas.

O caso inglês – fora da tendência

Ao contrário dos países da Zona Euro e dos EUA, após a crise, o Reino Unido conseguiu aumentar a sua inflação base, e ainda os preços da energia e da comida. “A moeda é a principal responsável por esta divergência”, dizem os especialistas da UBS Global AM. “O Reino Unido exporta mais do que os outros países, então quando a libra desvalorizou, o preço destes bens importados aumentou”. Ainda assim, “algo não bate certo”, já que “a moeda inglesa não tem desvalorizado recentemente”, o que “não explica porque é que a inflação base inglesa não cai nos mesmos moldes da europeia e da americana”, dizem.

O porquê da deflação na Zona Euro?

Nos EUA a inflação base tem seguido a relação normal entre o tradicional output gap (diferença entre a quantidade que uma economia está a produzir, e a quantidade que uma economia pode produzir). No entanto, a preocupação dos especialistas centra-se na Zona Euro: “a inflação parece ter ultrapassado o output gap, o que leva a crer que a inflação base está a enfraquecer”, alertam.  Mais preocupante ainda para Joshua McCallum e Gianluca Moretti é o facto da queda da inflação não estar apenas a acontecer nos países periféricos, mas também na Alemanha. “Parece existir um elemento em falta para a explicar o que está a acontecer na Zona Euro, e isso deve preocupar o BCE e o FMI”, referem.

Mas a preocupação não deve ser restrita à Zona Euro: “o Banco de Inglaterra deve estar ainda mais perplexo. Não existe qualquer consistência entre o output gap e a inflação nos Reino Unido”, alertam os economistas da entidade.