Dados errados sobre o petróleo que convém conhecer

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London Commodity Markets, Flickr, Creative Commons
O problema da forte queda do preço do petróleo parece ter uma origem evidente. Existe um claro excesso de oferta no mercado global, impulsionado pelos países da OPEC (produtores de 36% do petróleo mundial) e das novas tecnologias de exploração nos EUA, bem como o levantamento das sanções ao Irão, país que põe em circulação 600.000 barris diários, com o único propósito de incrementar a sua quota de mercado. “Digamos que estes fatores foram os que levaram o preço do crude a cotar nos 40/45 dólares por barril. O resto da queda (cota já abaixo dos 30 dólares) foi propiciado pelas dúvidas sobre os dados da procura, especialmente nos EUA e China, inventários em máximos históricos no mercado norte-americano, o sentimento económico (praticamente nenhum investidor está interessado no sector de energia neste momento) e a redução de expectativas ou cortes nos dividendos das empresas relacionadas”. 
 
Segundo os gestores do Schroder ISF Global Energy, o consenso do mercado está equivocado e a estes níveis ninguém ganha dinheiro. “Em primeiro lugar, o mercado estima que os números da procura estão a crescer uns 2% a cada ano, quando na realidade estão a expandir na ordem dos 4%. A razão fundamental passa pelo cálculo erróneo da procura por parte das agências de energia, que estimam a procura através da seguinte equação: Oferta - Procura = Inventários +-Exportações/Importações. Na Schroders, o cálculo da procura é feito através do consumo energético, o que faz mais sentido, já que 65% do petróleo é consumido pelos transportes. Na China, vendem-se 4,8 milhões de automóveis por trimestre, o que se traduz num incremento da procura de combustível na ordem dos 6% anuais. E nos EUA verifica-se a mesma tendência. Portanto, a procura está bem”, explicam da entidade. 
 
O outro ponto que cabe destacar, é a quebra de mais de 20% do capex do sector energético em 2015 , e uns 22% adicionais que, segundo as estimativas da gestora, esperam em 2016. “Estes níveis não se observavam desde 2005, quando a procura era de 83,5 milhões de barris por dia. Agora, a procura é de 95 milhões de barris por dia. Estas medidas tão drásticas têm um único propósito, que passa por não mexer no dividendo, enquanto for possível. Como consequência, estamos a entrar num período de redução de inventários que veremos materializado na segunda metade do ano”. Ao nível do sector nos mercados, este sofreu a queda mais forte dos últimos 35 anos. As empresas estão a cotar a 0,5 vezes o seu valor contabilístico, a cotação mais baixa desde 1983. A estes níveis e com vencimentos de dívida entre 2019 e 2022, nos EUA, na ordem dos 69.000 milhões de dólares, é muito complicado acreditar que toda esta dívida possa ser refinanciada/reembolsada”, assinalam da Schroders