COVID-19 dois meses depois: comparação com as quedas da Lehman Brothers e do 11 de setembro

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Já passaram dois meses desde o estalar da crise na Europa e nos mercados. Se alguém júnior começou a trabalhar numa gestora a 24 de fevereiro deste ano, já tem um mestrado de mercados em tempo real. Terá presenciado uma precipitação e uma subida sem precedentes. E até terá entendido o problema da entrega física nos futuros do petróleo. De certeza que agora sabe onde fica Cushing, e o que acontece naquelas terras do Oklahoma.

Neste artigo resumimos o que aconteceu nos mercados nestes dois meses, comparando-o com as outras duas crises do século, cada um com uma origem muito distinta, e pelo que se vê, também com um desenvolvimento próprio.

O segundo mês

No primeiro artigo desta série, assistíamos a um panorama desolador, com uma queda média dos índices de ações superior a 30%, uma descida significativa do ouro e um refúgio único nas obrigações do tesouro norte-americano. Nesta comparação adicionámos índices de dívida corporativa e de high yield em dólares e euros, assim como o preço de Brent e de WTI, para se ter uma visão mais completa

No segundo mês, os mercados deram a volta e todos os índices menos os dos preços do petróleo abandonaram o vermelho do primeiro mês. Destacam-se o S&P 500 (+21.45%) e a dívida corporativa americana (+12.15%, índice BofA). Ultimamente ouvimos falar muito sobre a necessidade de se ser seletivo, e as preferências dos mercados notam-se no momento de voltar a comprar porque a dispersão dos retornos na subida tem sido muito maior do que na queda. Os menos favorecidos na subida foram o Ibex 35 (+4,29%), a bolsa italiana (+7,78%) e o CAC 40 (+8,97%) que se comparam com uma subida em média de 12,59% do grupo de índices de ações incluídos nesta análise.

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Em episódios anteriores

O tão esperado aplanamento da curva italiana encontrou um reflexo nos mercados, que dois meses depois do estalar da crise oferecem um panorama mais benévolo do que o que aconteceu dois meses após a queda da Lehman Brothers.

O primeiro mês pós COVID-19 foi pior, mas no segundo mês, as quedas durante a crise financeira foram piores, pouco mais do que quatro pontos acima da média para os índices de ações. Dois meses depois dos atentados terroristas do 11 de setembro já havia muito verde.

Há uma exceção na qual coincidem as três crises: o preço do petróleo. Para as quedas pós Lehman e pós 11 de setembro só temos a referência do WTI, barril que não viaja de barco. As descidas do preço também foram consideráveis, ainda que significativamente menores do que estamos a presenciar. As descidas atuais são é uma mensagem da economia real misturadas com uma crise geopolítica e com um futuro complicado devido aos compromissos com o meio ambiente.

Rodrigo Villamizar, professor do IEB e ex-ministro da Energia da Colômbia, refere que a recuperação do crude poderá ser muito diferente desta vez. “Ao contrário das quedas anteriores de preços nesta ocasião estreitou-se a faixa para os futuros movimentos de preços. Esta nova faixa já não vai oscilar entre 15 e 140 dólares (como aconteceu nas últimas décadas), mas entre 10 e 60”, sublinha.

As curvas aplanam-se, mas o processo é muito longo, e está por definir o esperado fenómeno de descida. Vamos ver como será o terceiro mês.