Converteu-se a liquidez na melhor estratégia em obrigações?

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Victoria Boulanger, Flickr, Creative Commons

Investir em liquidez parece um contrassenso mas, na situação que atualmente o mercado de obrigações vive – onde uma percentagem cada vez maior de investidores paga pelo privilégio de manter o seu dinheiro em obrigações – a estratégia tem alguma lógica. Pelo menos essa é a postura de gestores como Bill Eigen (J.P. Morgan Asset Management) e Marcus Brookes (Schroders). “Contamos com grande liquidez para aproveitar novos períodos de volatilidade”, afirmava recentemente o responsável pelo JPM Income Opportunity Fund, fundo de rentabilidade absoluta que agora mantém uma posição em liquidez de 37%, depois de ter alcançado 60% há alguns meses. No caso do fundo multiativos que Brookes gere, a percentagem é de cerca de 28%.

Mas Eigen e Brookes não são os únicos gestores de topo que mantêm nas suas carteiras importantes percentagens de liquidez. Na lista aparecem também  nomes como o de Paul Read, gestor da Invesco. “Para um gestor de obrigações é duro admitir que a oportunidade está nas ações, mas essa é a verdade”, assegurava numa conferência de imprensa em Haley. “Creio que não é necessário explicar a ninguém o quão difícil está o mercado de obrigações atualmente. É um ótimo momento para ser emissor e pedir dinheiro emprestado ao mercado, para ser ministro das finanças de um país, tesoureiro de uma empresa... mas não para ser gestor de obrigações. Todos os dias vejo no ecrã do computador uma série de novas emissões com cupões entre 1,5% e 2,5%, ou seja níveis aos quais nunca sonharam financiar-se no mercado. Assistimos até às primeiras emissões de empresas com cupão 0%. Para essas empresas é fantástico”, explica. (Leia mais)

Como assinala o Financial Times, a ideia é usar a liquidez como uma alocação estratégica, com a esperança de que os preços das obrigações caiam quando a Reserva Federal norte-americana comece finalmente a aumentar as suas taxas de juro. O que é certo é que atualmente ainda não faz sentido investir em títulos que ofereçam rentabilidades negativas ou extremamente baixas, pelo que, contrariamente a alguns investidores institucionais como bancos, seguradoras ou fundos de pensões, que se veem obrigados a comprar obrigações de maior qualidade por causa de imposições regulatórias ou de outro género, os gestores de investimentos não têm porque fazê-lo.

Na verdade, algumas gestoras de ações também têm assumido posições em termos de cash, argumentando que a bolsa norte-americana está cara, que as ações europeias já alcançaram o seu valor razoável, ou que existe muita incerteza sobre a China ou a Grécia, e preferem manter parte da carteira alocada a liquidez para aproveitar possíveis correções.

Embora optar por não investir também tenha alguns riscos – principalmente o de se perder o bull market que têm vivido tanto as ações como as obrigações nos últimos anos – parece que no novo contexto de mercado em que nos movemos, a liquidez continuará a ser a principal aposta de muitos gestores, pelo menos por agora.