Como se posiciona o Bankinter em Portugal, após a compra do Barclays?

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Cedida

A venda das operações do Barclays em Portugal já há muito que iam criando rumores no mercado. Agora, no final do verão, percebeu-se finalmente qual a entidade a tomar as rédeas das áreas de retalho, banca privada e banca de empresas da entidade inglesa em território nacional. O banco espanhol Bankinter comprou por um valor aproximado de 100 milhões de euros as referidas áreas do Barclays que, por sua vez, no nosso país irá manter o negócio de cartões de crédito (Barclaycard), Banca de Investimento, e Clientes Corporate Multinacionais.

As primeiras informações divulgadas pelo Bankinter permitem traçar uma primeira radiografia do projeto do banco espanhol em Portugal, onde reiteram querer “tornar-se um player de referência nos vários segmentos - retalho, affluent e private - além de potenciar a área de corporate banking”. Conscientes de que a proximidade local é um ponto chave a preservar, Carlos Brandão, country manager do Barclays Portugal desde setembro de 2014, manter-se-á à frente do negócio Retail & Wealth. 

No que diz respeito à banca privada, o banco espanhol realçou num webcast para analistas e investidores esta manhã, bem como numa conferência de imprensa em Madrid, que o objetivo é “o crescimento do número de clientes private, bem como de retalho, a par de um aumento do cross selling. O Bankinter fala mesmo de uma meta de 10% a atingir como quota mínima em Portugal, o que corresponde ao peso que a entidade tem hoje no seu país de origem. Recorde-se que atualmente o Barclays detém uma quota de 5%.  

Da instituição britânica herdam ainda 2 centros de private banking (Lisboa e Porto) e 9 do segmento anteriormente designado de ‘premier’, ou seja, associado aos clientes afluente, o que dá um total de cerca de 40 profissionais. Numa abordagem ao futuro, é possível que se observe a réplica em território nacional de um modelo bem sucedido em Espanha, no qual a entidade dispõe, além dos banqueiros privados formalmente contratados, de uma rede de agentes financeiros, em regime independente/freelance. Saliente-se que em Espanha os ativos sob gestão do negócio de banca privada do Bankinter cresceram 28% de junho de 2014 a junho de 2015, somando aproximadamente 26.500 milhões de euros de património gerido. O montante exigido para se ser cliente de banca privada do Bankinter em Espanha, à semelhança do que era definido pelo Barclays Portugal, é de um milhão de euros.

No que diz respeito à gestora de ativos local do Barclays, embora também incluída na operação de compra, não vai integrar, à partida, a Bankinter Gestión de Activos. Mantêm-se, portanto e para já, sob gestão da equipa portuguesa os três produtos poupança reforma denominados de Barclays Life Path Income, Barclays Life Path 2020 e Barclays Life Path 2025. Segundo a APFIPP, no final de agosto,  a entidade detinha um património de cerca de 33 milhões de euros sob gestão.

Paralelamente à compra da atividade bancária, a Bankinter Seguros de Vida, empresa controlada em 50% pelo Bankinter e pela Mapfre, acordou com o Barclays a aquisição do seu negócio de seguros de vida e pensões em Portugal, por um valor estimado de 75 milhões de euros. A ideia é, precisamente, replicar o sucesso obtido através da joint venture entre a Mapfre e Bankinter Vida, sendo tomada como outra das fontes futuras de income para a entidade. Sublinha-se que a sucursal em Portugal do Barclays Vida y Pensiones gere mais de mil milhões de euros em ativos e obteve 150 milhões em prémios e 12,7 milhões de euros de lucro líquido em 2014.

Na mesma conferência online, do Bankinter referiam que esta aquisição teve também por base “a proximidade cultural”, sendo ainda uma boa oportunidade para aproveitar “a situação económico-financeira que Portugal atravessa”. Foi ainda referido o impacto inicial limitado no balanço, resultados, liquidez e solvência do Bankinter além do valor acrescentado que representa para o acionista (ROIC) desde logo e que poderá ser superior a 10% no médio prazo.