Como se estão a mover as carteiras de alguns dos gestores de ações europeias?

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Pablo Bertoloze, Flickr, Creative Commons

O interesse do investimento pelas ações europeias soma e segue. Os efeitos económicos do QE, o impacto da queda dos preços do petróleo sobre o crescimento, os lucros das empresas e o consumo (estima-se que uma correção de 10% dê um impulso adicional ao PIB da Zona Euro de 0,2% e, segundo cálculos da Schroders, um estímulo de 1.000 euros na bolsa europeia) e a transformação que a depreciação do euro envolve (conta com o potencial para impulsionar os lucros das empresas da Zona Euro entre 5-8%, este ano), são factores que parecem traçar um cenário mais favorável. “É o contexto de mercado que me tem feito sentir mais cómoda nos últimos anos”, assegura Britta Weidenbach. Na sua opinião, as expetativas sobre a Europa são muito baixas e há margem para que apareçam surpresas positivas. “O mercado espera um crescimento dos lucros pouco ambicioso. Todos os indicadores apontam numa boa direção. A procura de crédito é positiva e os dados do PMI indicam a expansão da atividade”.

A estratégia seguida pela gestora do Deutsche Invest I Top Euroland passa pela análise fundamental, sendo muito seletiva na hora de eleger os títulos. Sobrepondera seguradoras e empresas financeiras, sendo que ao nível deste último sector tenta procurar entidades que estejam a rever em alta a sua política de remuneração ao acionista. Também gosta de empresas que possam beneficiar da recuperação da confiança do consumidor, como é o caso do sector automóvel. Nas últimas semanas, Weidenbach elevou o peso de Telecoms na carteira, sendo este um sector no qual vê um ponto de inflexão no negócio dos telefones móveis. Noutro extremo situa-se o sector energético, que representa a grande subponderação da carteira. “Os preços das matérias primas podem permanecer baixos durante muito tempo, o que terá peso nos benefícios”. O beta da carteira é mantido próximo de 1.

A reconhecer a preferência pela parte cíclica do mercado está Fabio Di Giasante, gestor do Pioneer Funds Euroland Equity, da Pioneer Investments. “Embora este segmento se tenha comportado melhor durante os últimos meses, acreditamos que ainda resta um longo caminho. O potencial de crescimento dos lucros e as oportunidades a nível de valorização continuam a estar do lado das empresas cíclicas”, assegura. Recentemente o gestor acrescentou duas posições à carteira precisamente vinculadas a este segmento de mercado: a alemã Daimler e a operadora de telecomunicações KPN. Basicamente Di Giasante procura no mercado empresas de alta qualidade, com sólidos fundamentais e que estejam subvalorizadas.

Por outro lado, Alexandra Hartmann, gestora do FF Euro Blue Chip, da Fidelity Worldwide Investments, procura empresas que possam continuar a crescer independentemente do contexto macroeconómico. Mais concretamente, no seu radar de análise estão empresas que cresçam de maneira orgânica e que sejam capazes de apresentar resultados que superem as expetativas de mercado. A gestora da Fidelity Worlwide Investment elevou a sobreponderação  em empresas sanitárias e industriais. “Dentro do sector da saúde é previsível que as vendas de novos produtos sejam maiores do que noutros sectores, como por exemplo o consumo básico. A Novo Nordisk, Roche e Novartis têm produtos muito sólidos, cujos lançamentos ainda estão pendentes, o que poderá fazer com que estas ações subam nos próximos anos. Ao nível das empresas industriais, aumentaram posições em títulos que já estavam presentes na carteira, como é o caso da Ryanair”. Também reduziram a sua subponderação no sector financeiro elevando posições como o BBVA, em troca da diminuição  da  sobreponderação em empresas cíclicas, que agora subponderam ligeiramente. O beta da carteira é de 0,93.

No caso do BGF Euro-Markets, Alice Gaskell e Andreas Zoellinger elevaram o peso em carteira do consumo cíclico, arrecadando lucros em empresas automobilísticas como a Continental ou a Volkswagen, mas acrescentaram outras, como meios de comunicação e empresas de consumo de retalho. Reduziram a sua sobreponderação ao sector financeiro, vendendo Credit Agricole, reduzindo a Intesa San Paolo e construindo uma nova posição no ING. Também se desfizeram de posições na Deutsche Annington, empresa imobiliária alemã, e da Schneider Eletric, e ainda de outras empresas industriais, como a Bouygues e Dassault Aviation. Desta forma reduziram exposição ao sector energético, vendendo as posições da Total. A nível sectorial, as suas grandes apostas relativamente ao índice são as telecoms e as entidadades financeiras; a sua principal subponderação é o consumo básico.  Em termos geográficos, a maior sobreponderação face ao benchmark é Itália, e a principal subponderação é Espanha, cujo peso na carteira é de 1%.

No que diz respeito ao Schroder ISF Euro Equity, o seu responsável, Martin Skanberg, realizou durante o primeiro quadrimestre algumas mudanças que modificaram o posicionamento da carteira. Talvez o mais importante tenha acontecido em termos geográficos. Desde que o ano começou, o gestor elevou em quase oito pontos o peso da Alemanha, até aos 30% atuais, o que a converte no mercado com maior peso na carteira (em dezembro era a França). Também realizaram mudanças no top 10, onde a Intesa San Paolo deixou de ser a primeira posição da carteira. Na sua posição surgiu a Sanofi, que em dezembro não aparecia no top 10. Das dez maiores posições que Skanberg mantinha no final de 2014, em abril apenas se repetem três.

As estratégias dos fundos long/short

No que diz respeito ao UBS (Lux) Equity Sicav – European Opportunity Unconstrained, fundo long/short de ações europeias da UBS Global AM, a estrutura da carteira permanece igual, visto que tanto Max Anderl como Jeremy Leung ainda veem valor no sector da saúde e financeiro. “Em termos gerais estamos a encontrar menos oportunidades de compra do mercado, porque as valorizações estão a mover-se em alta. Observamos um limitado potencial de subida e risco de queda em alguns nomes individuais em indústrias cíclicas e também no sector da energia”, explicavam. No que diz respeito às mudanças introduzidas na carteira, acrescentaram posições no sector do consumo básico, movendo-se deste modo até uma posição mais neutral. O nível do beta permaneceu praticamente sem mudanças e próximo de um.

Outro produto long/short é o JPM Europe Equity Plus. Fiel à sua filosofia, a estratégia de Michael Barakos fundamenta-se em procurar três coisas numa empresa: valorização, qualidade e momentum. Tem uma exposição líquida ao mercado de 100%, estando 121% longo e 21% curto. No final do primeiro trimestre elevaram ligeiramente as suas posições em entidades financeiras e farmacêuticas, ao mesmo tempo que reduziram a sua exposição a empresas de bens de consumo e operadoras de telecomunicações. Atualmente, meios de comunicação, empresas automóveis e seguradoras são os sectores que mais sobreponderam em carteira, face a empresas de alimentação e energéticas, onde o gestor da J.P. Morgan AM mantém uma posição mais subponderada.