Como estão mudar as alocações de ativos de fundos soberanos?

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@Doug88888, Flickr, Creative Commons

A Invesco acaba de tornar pública a quinta edição do seu estudo sobre investimentos soberanos – Invesco Global Sovereign Asset Management Study 2017 - a partir de entrevistas realizadas entre janeiro e março deste ano, a 97 fundos soberanos de referência, fundos de pensões estatais e bancos centrais com um património superior a 12 mil milhões de dólares. O estudo deste ano traz importantes conclusões que são resumidas por Alexander Millar, responsável de fundos soberanos da EMEA e Médio Oriente e vendas institucionais em África: “Durante os últimos cinco anos, temos identificado uma série de fatores que influenciam os investidores soberanos, como as taxas de juro baixas, o colapso do preço do petróleo e a queda do financiamento. No entanto, este ano temos visto que os choques geopolíticos em mercados desenvolvidos estão a condicionar a tomada de decisões”.

Principais temáticas

A principal novidade deste ano foi a crescente preocupação dos fundos soberanos no que respeita à influência de choques geopolíticos e as mudanças nas políticas monetárias. Sobre o primeiro ponto, o responsável comenta que eventos como o Brexit ou a eleição de Trump contribuíram para gerar a volatilidade das carteiras soberanas, “desafiando a frobustez dos modelos de risco”. O especialista da Invesco antecipa que, à medida que vão alterando as leis (no caso do Brexit, através das negociações com a União Europeia e, no caso dos Estados Unidos, alude à aprovação da reforma fiscal), começaram a surgir “implicações mais amplas para a alocação de ativos geográfica a longo prazo”.

Sobre a divergência monetária, Millar comenta que “os fundos soberanos chegam ao final do QE sem uma indicação clara de como será a forma e a duração da normalização monetária. A bifurcação entre os Estados Unidos e outros mercados desenvolvidos (nomeadamente o Reino Unido, Alemanha e Japão) teve implicações significativas sobre as taxas de câmbio, desafiando as atribuições geográficas dos fundos soberanos”.

O estudo detetou como consequência destas inquietudes uma nova tendência, que definem como “a transição de uma estratégia de investimento para um modelo de negócio”. Millar refere que os fundos soberanos estão a registar uma “lacuna de rentabilidade” que sugere “a continuação do contexto de taxas baixos e rentabilidades baixas” para os próximos 24 meses. Ainda que a responsabilidade aclare que esta tendência tenha estado presente nos últimos anos, em 2017 aparece mais acentuada porque “as taxas baixas são o fator de maior importância tanto para as atribuições estratégicas como as táticas”. Pode consultar o gráfico que acompanha o grau de importância que os fundos soberanos dão a uma série de fatores macro para as atribuições táticas e estratégicas.

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Os especialistas da Invesco observam adicionalmente que a margem de manobra dos investidores soberanos lidar com a falta de rentabilidades está a ser limitada pela “probabilidade crescente de reembolsos”. Referem-se ao facto de que, nos últimos três anos, “os governos têm respondido à volatilidade económica mediante a redução de novos financiamentos a fundos soberanos e, em alguns casos, reduzindo as reservas soberanas”. Desta maneira, muitos dos atores que se reuniram para elaborar este estudo afirmaram que “a gestão de liquidez se converteu completamente num novo objetivo”, ao que se tem vindo a responder em alguns casos mediante o aumento da alocação tática a cash e monetários. Esta situação tem levado a um conflito de requisitos de liquidez. “Os fundos soberanos têm que gerir os riscos de reembolso mediante o corte dos horizontes temporais enquanto procuram ao mesmo tempo ter acesso aos prémios de falta de liquidez para gerar retornos superiores”. Pode consultar no gráfico anexo a evolução das alocações por classes de ativos desde que se realiza o estudo.

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Esta necessidade refletiu-se numa maior procura por ativos alternativos, particularmente ativos imobiliários. A anterior edição do estudo mostrava que os altos níveis de concorrência entre fundos soberanos para investir em infraestruturas e private equity estavam a causar um ajuste para o imobiliário, uma tendência que se tem vindo a acelerar este ano. Entre as razões citadas pelos participantes no estudo, figuram “a margem para capturar alfa de liquidez, o potencial para gerar rendimentos e encaixá-los com as responsablidades a médio e longo prazo e o potencial de controlo e internacionalização”. Millar esclarece que, dado o contexto de taxas baixas, menor financiamento aos fundos soberanos e a falta de interesse por uma alocação mais ampla de ativos, “o potencial para uma participação alavancada no estado real (em ações e dívida) tem um resultado atrativo para os fundos soberanos que procuram meios alternativos para escalar a sua alocação de ativos “congelada” e gerir os passivos”.

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Paradoxalmente, esta maior procura por ativos imobiliários está a gerar um paradoxo nos fundos soberanos: “Os fundos soberanos cada vez dependem mais dos seus investimentos alternativos para gerar rentabilidade. Não obstante, os níveis crescentes de capital sub-utilizado para investimentos em alternativos mantém-se em cash e monetários, para que os fundos soberanos possam responder rapidamente quando surjam oportunidades de investimento em ativos imóveis. Estes investimentos altamente líquidos oferecem retornos limitados, particularmente em comparação com os objetivos de rentabilidade que têm os fundos soberanos para investimentos em ativos imóveis, o que causa um aumento da falha de rentabilidade”, resume a Invesco.

Para satisfazer o crescente desejo por bens imóveis, os fundos soberanos têm desenvolvido paralelamente ferramentas internas de gestão de passivos nesta classe de ativos, que lhes permitem “gerar por si mesmos oportunidades de investimento, mais do que ser uma fonte de acordos imobiliários com outros investidores”. O responsável da Invesco conclui que “num ambiente em que os desafios de execução perante o objetivo de ativos imóveis e alocações alternativas podem pesar nos retornos de investimento, a profundidade da oferta é um fator chave diferenciador para os ativos imobiliários”.