Como é que os maiores fundos de emergentes geriram um ano conturbado?

mapa_relogios
Stewf, Flickr, Creative Commons

Num ano marcado pelas dúvidas do comércio mundial, um dólar mais forte e políticas monetárias menos acomodatícias, os países emergentes encaravam o ano fiscal anterior com vários ventos desfavoráveis. E, ainda assim, há nichos em ações e obrigações que conseguiram esclarecer as dúvidas e gerar valor para o investidor em 2018.

Em janeiro, a Funds People perguntou aos gestores de mercados emergentes com selo Funds People o seu posicionamento durante o ano. Revemos, por ordem alfabética, as suas carteiras e como enfrentam 2019.

1- M&G Emerging Markets Bond Euro

Em 2018 continuaram a favorecer a dívida de divisa forte (68%) face a emissões em moeda local (32%). As obrigações governamentais também tinham maior peso (66,2%) “uma vez que alguns emergentes melhoraram a sua disciplina em termos de inflação e déficit por balança corrente”, segundo explica Ana Gil, diretora de investimentos da equipa de obrigações de retalho da M&G. Assim, as corporativas representaram cerca de 28% da carteira. Em 2018 aumentaram a ponderação em “áreas de valor” como o imobiliário chinês ou obrigações corporativas mexicanas.

Face a este ano, Gil recorda que a única certeza nos mercados é a volatilidade. As eleições poderão ser uma fonte de oportunidade, como foi para o Brasil em 2018. Nos próximos meses as eleições vão começar na Índia, Argentina, África do Sul, Ucrânia e Nigéria.

2- Morgan Stanley INVF Emerging Mkts Corp Debt

A equipa manteve uma tendência para o high yield “devido aos fundamentais do fundo", como contam, mas com um enfoque seletivo. Focaram-se em histórias idiossincráticas de países com fundamentais em vias de melhoria. Mantiveram a duração de acordo com o índice, nos 4,5 anos. Dentro do crédito de grau de investimento, favoreceram obrigações da parte longa da curva da América Latina e corporativas perpétuas asiáticas com maior rating.

Geograficamente, favoreceram a Ásia (China, Índia e Indonésia) e América Latina (Brasil e Peru) face à Europa Central e de Leste, Médio Oriente e África (Nigéria). Sectorialmente primaram pelo setor de infraestruturas e transportes, assim como indústria e imobiliário.

Após isto, esperam que 2019 seja um ano de mais divergência no rendimento entre e ao longo dos segmentos de crédito. “Assim, uma abordagem ativa deverá ser recompensada por uma seleção de crédito e obrigações chave para o sucesso”, defendem.

3- Neuberger Berman Short Duration EM Debt

O fundo manteve um perfil de baixa duração, cerca de dois anos, e um rating médio de grau de investimento. A maior exposição geográfica ao longo do ano foi a China. “Continuamos a encontrar muitas oportunidades atrativas em dívida de curto prazo, especialmente em emissões com grau de investimento e um alto nível de state ownership”, explicam. E apesar das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, esta foi uma das posições que melhor se comportou. Favoreceram também a parte muito curta da curva da Turquia e obrigações corporativas do setor de consumo e commodities do Brasil. O Brasil, de facto, foi o maior contribuidor para a rentabilidade, assim como as posições no Cazaquistão e no Gana.

Para a equipa, as negociações entre os Estados Unidos e a China relativamente ao comércio e ao rumo da Fed irão continuar a marcar o rumo em 2019.

4- Schroder ISF Emerging Europe

A carteira esteve fortemente sobreponderada nos setores financeiros e de energia pelas oportunidades bottom-up que a equipa gestora detetou. Pelo contrário, subponderou os materiais e utilities durante o ano fiscal inteiro. Um posicionamento que se constrói por uma seleção empresa por empresa, não top-down.

Geograficamente, subponderaram a Polónia, a República Checa e Turquia durante todo o ano; embora tenham aproveitado as fortes quedas neste útlimo para se moverem a sobreponderar. Reduziram a sua ponderação na Rússia tanto por restrições por tamanho da posição como por uma “falta de oportunidades”, segundo contam da gestora. Sobreponderaram consistentemente a Hungria, mercados fronteira da Europa de Leste e, até há uns meses, a Grécia.

Novamente, as eleições programadas para 2019 serão a área a vigiar, segundo a equipa gestora. Na Grécia – em maio ou setembro, consoante o Syriza decida convocá-las – poderão ser um catalisador para os ativos do país. O partido da Nova Democracia, atual líder das sondagens, são considerados “amáveis” com os mercados. As eleições municipais na Turquia também estão no centro das atenções. “Será interessante ver se Erdogan apoia uma política fiscal e monetária mais acomodatícia com o objetivo de estimular o crescimento, o que será negativo para a lira. Além disso, terá de se estar atento às relações entre o Oeste e a Rússia, assim como ao risco de maiores sanções.