Como é que os gestores de obrigações viveram o mês de agosto?

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JohanvandeSande, Flickr, Creative Commons

O verão de 2016 tem impulsionado as obrigações para novos máximos. A realidade é que os mercados de obrigações dos países desenvolvidos e emergentes têm-se mantido imperturbáveis e têm continuado a comportar-se bem num contexto de programas de compras constantes, por parte dos bancos centrais. As obrigações vigilantes ainda são a maioria e estão intimidadas pelas diretrizes pessimistas da maioria dos bancos centrais. Atualmente, cerca de metade de todas as obrigações governamentais em circulação no mundo têm yields negativas. Se se tiver em conta todas as obrigações transferíveis a nível global, a percentagem em território negativo encontra-se aproximadamente em 25%. Os mercados de obrigações europeias têm mostrado um bom comportamento desde o início do ano. No final de julho, os retornos das diferentes subclasses de ativos oscilavam entre 6% e 7%, números que Thomas Herbert, responsável global de obrigações na Oddo Meriten AM classifica de “não tão más assim” para uma classe de ativos com yields atualmente próximas de zero para uma grande parte do universo.

No entanto, embora os retornos totais estejam bastante próximos uns dos outros, verdadeiramente interessante é analisar quais têm sido as fontes de retorno para os distintos mercados de obrigações europeus. “Na dívida soberana, o retorno de 6,5% dos sete primeiros meses vem quase exclusivamente da queda dos rendimentos e apenas 0,3% do carry. Nas obrigações high yield, apenas 2% dos 6% do retorno total se deve à queda nos rendimentos subjacentes. Cerca de 3% é proveniente do carry e outros 1% da descida do prémio de risco, ou seja, spreads mais estreitos. Nas obrigações investment grade, dos 3,5% de rentabilidade obtidos, apenas 0,8% foram provenientes do carry, e cerca de 1,5% da compressão do spread”, explica o especialista. Atualmente muita gente se questiona o que é que ainda existe com substância ao nível dos mercados de obrigações.

Os mercados começaram a segunda metade do ano com o risco em “modo on”, o que teve a sua continuidade em agosto. Segundo Christian Hantel, gestor da Vontobel, este modo on, com uma baixa volatilidade – como acontece neste momento – poderá estender-se durante muito mais tempo do que muitos investidores pensam. “Existe uma procura contínua de ativos de elevada rentabilidade, inclusive durante o habitual período de calma de verão, como sugerem, por exemplo, os fluxos de entrada em obrigações corporativas globais. Esta tendência poderá inclusive acelerar-se durante esta segunda metade do ano visto que muitos investidores não têm investido no último rally do mercado ou têm posições de liquidez para as quais precisam de dar um novo destino. As estatísticas recentes da Fed já destacaram que a proporção de compradores estrangeiros de obrigações denominadas em dólares norte-americanos aumentou substancialmente desde 2015; este é o mercado que oferece a maior rentabilidade entre os países desenvolvidos”, afirma o especialista.

Esta opinião coincide com a de muitos profissionais, que atualmente veem os EUA como a única alternativa possível no fixed income perante os programas de compra que estão a levar a cabo o BCE e o Banco de Inglaterra. “Agora que a autoridade monetária britânica se disponibilizou a incluir obrigações corporativas no seu programa de compras de dívida numa tentativa de relaxar as condições financeiras e proporcionar estímulo à economia de forma a enfrentar o processo do Bexit, há que esperar limiares de rentabilidade baixos no segmento de crédito. Mas com as TIR das treasuries norte-americanas em níveis extremamente elevados em comparação com as homólogas europeias, e tendo em conta que a Fed não está a comprar dívida soberana nem corporativa hoje em dia, concentro-me em definitivo na valorização atrativa em termos relativos do mercado de crédito americano”, diz Ben Lorde, gestor da M&G Investments.

Em todo o caso, o verão no mercado de obrigações tem estado marcado pela votação britânica a favor do Brexit e pelas expectativas de um ajuste monetário nos Estados Unidos. O Banco de Inglaterra tem atuado com intensidade: reduziu as taxas de juro chave, aumentou o QE, e forneceu liquidez aos bancos. “Isto levou a uma queda nas taxas de juro e, sobretudo, tranquilizou os mercados”, sublinha Guillaume Rigeade, gestor da Edmond de Rothschild AM. Nos Estados Unidos, o ritmo de criação de emprego tem-se mantido muito forte e, portanto, os banqueiros centrais têm feito numerosas declarações a preparar os mercados para uma potencial subida de taxas de juro no final do ano, se os fundamentais assim o continuarem a justificar. Será essa subida em setembro?