Como é que a sazonalidade influencia o investimento na bolsa? A Fidelity responde

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wagaboy, Flickr, Creative Commons

Estará certo o provérbio, “sell in may and go away”? “Este fenómeno ocorre com tanta frequência que surpreende o facto de não ter sido objecto de arbitragem”, afirma da Fidelity Worldwide Investment, Matthew Sutherland, responsável de gestão de produtos do mercado asiático. Este indica que, entre 1950 e 2015, e de acordo com o Stock Trader’s Almanac, o Dow Jones tem gerado uma rentabilidade média de 0,3% entre maio e outubro, face aos 7,5% entre novembro e abril.

Outro dado estatístico significativo é que o mês de setembro foi o pior para fazer negócios na bolsa nestes 65 anos, com perdas médias de 0,65% (ler mais). “Alguns cracks famosos ocorreram em setembro, incluindo o primeiro que foi apelidado de “negro”: o Black Monday de 1969. A segunda-feira negra, que marcou o assalto de George Soros à libra esterlina, teve lugar em setembro de 1992 (...) Nos meses de setembro de 2001 e de 2008 tiveram lugar enormes quedas diárias das bolsas. No primeiro caso devido aos atentados no World Trade Center, enquanto no segundo caso se ficaram a dever à crise do subprime”, relata Sutherland.

Os números também indicam que outubro costuma ser um mês repleto de números vermelhos. O especialista cita o “Pânico de 1907”, que descreve como “uma crise de crédito clássica provocada pela indústria das sociedades fiduciárias”. Foi também num mês de outubro que aconteceu o célebre crack de 29, marcado por uma terça-feira, quinta-feira e segunda-feira negras, com quedas recorde, que deram lugar à Grande Depressão. Finalmente, em outubro de 1987, teve lugar a famosa Black Monday.

Porque é que os mercados se comportam pior entre maio e outubro?

“Existe uma explicação razoável para a debilidade dos mercados nos meses de verão e na sua posterior recuperação no final do ano, e prende-se com as previsões”, afirma Sutherland. Refere-se ao facto “dos analistas iniciarem, normalmente, cada ano com previsões de crescimento dos lucros relativamente otimistas”, um comportamento que atribui em parte ao facto de estarem “incentivados para ser otimistas”. O especialista assinala que estes dados vão sendo revistos em baixa à medida que o ano avança, de tal forma que “é cada vez mais claro que as previsões originais não se cumprirão”. O ciclo fica completo com a chegada de setembro e outubro: “Os analistas começam a centrar-se nos resultados do ano seguinte, e começam de novo as previsões otimistas”. 

Para Sutherland, este ano de 2015 tem sido um exemplo claro da fiabilidade da máxima “sell in may, and go away”. Resume a situação desta forma: “A Ásia, excluíndo o Japão, atingiu um pico de 28 de abril; o World Index chegou ao seu máximo de 21 de maio e os mercados onshore chineses de Xangai e Shenzhen atingiram máximos de 12 de junho. Desde então, o mundo retrocedeu cerca de 6%, Ásia excluíido o Japão cerca de 21% e a China aproximadamente 30%. Conclui-se que, pelo menos este ano, vender em maio e desaparecer tinha sido uma melhor opção”.

Importa perguntar: “Deverão os investidores voltar a comprar em setembro, ou é mais prudente esperar, tendo em conta que no dia 17 deste mês a Reserva Federal poderá anunciar uma subida das taxas e poderá aumentar o risco de crack? “O argumento contra comprar já em setembro provavelmente terá que ver com o facto do motor normal da recuperação do mercado acontecer no final do ano, bem como com a mudança de enfoque dos lucros de 2015 aos de 2016, podendo não proporcionar um grande estímulo este ano”, comenta Sutherland. A sua justificação para esta hipótese é que “também é bastante provável que as perspetivas de lucros para 2016 sejam revistas em baixa durante o próximo trimestre, quando a realidade de um crescimento mais lento, não só na China, mas numa série de mercados emergentes, se torna num contra”.

No entanto, o especialista entende que “cortar com a regra de setembro ou outubro é bastante pouco provável”, dado que os mercados emergentes já conseguiram corrigir entre aproximadamente 20% e 30% ao ano. Por outro lado, indica que as bolsas norte-americanas e europeias, “embora marginalmente afetadas pela maior debilidade dos mercados emergentes (sobretudo China), continuam a mostrar-se razoavelmente robustas”. Para além disso, tanto a Europa como o Japão continuam a contar com o apoio dos seus respetivos bancos centrais. A visão do especialista é de que “a debilidade do mercado e a desaceleração na China reduzirão a subida das taxas da Fed em setembro”.

Sutherland também descarta a hipótese de que se vá repetir uma crise do estilo da asiática de 1997, devido ao facto dos países da região terem feito o seu trabalho de casa a tempo: “O seu perfil de dívida é maioritariamente doméstico; a inflação mantém-se num nível baixo; os bancos centrais têm espaço para reagir; a maior parte das contas correntes mostram um superavit; as reservas de divisas são muito maiores e as taxas de câmbio têm sido flexíveis, e estão, em termos gerais, onde deve estar”, resume.

Todos estes factores levam o responsável a traçar uma conclusão positiva, tanto para aqueles que querem voltar já ao mercado, como para os que querem esperar até outubro: “Agora é indiscutivelmente um melhor momento para comprar, do que em maio!”.