Como as comissões afetam a rentabilidade dos fundos de obrigações?

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Quais são as probabilidades que um investidor tem de selecionar um fundo ativo de obrigações que consiga ultrapassar o seu índice de referência depois de comissões e em que categorias convém mudar por um fundo passivo? Para dar resposta a estas perguntas, Mara Dobrescu, analista de fundos na Morningstar, analisou a rentabilidade adicional esperada dos fundos de obrigações baseando-se  na distribuição histórica das rentabilidades adicionais de 25 categorias Morningstar. O estudo abrange um período de quase 16 anos, desde janeiro de 2002 até outubro de 2017, e inclui fundos de diversas categorias Morningstar dos Estados Unidos, Europa, Ásia e África. Algumas das conclusões do estudo são as seguintes:

1. As comissões são a causa principal do mau comportamento crónico dos fundos de obrigações face aos seus índices de referência

Em 13 das 25 categorias Morningstar, o fundo médio ultrapassou, normalmente, o índice da sua categoria em termos de rentabilidade bruta de comissões, o que sugere que, pelo menos em alguns casos, a gestão ativa fornece valor. Contudo, uma vez aplicadas as comissões, as probabilidades de ultrapassar o índice reduzem-se drasticamente. De facto, o fundo médio não conseguiu ultrapassar o seu índice de referência em nenhuma das 25 categorias analisadas depois de comissões, uma péssima notícia para os investidores em fundos ativos de obrigações.

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Na altura de avaliar as probabilidades de gerar rentabilidades superiores a longo prazo, a empresa de análise deparou-se com o problema adicional de que alguns fundos encerram ou unem-se com outros durante o período de observação. Por esse motivo, o rácio de sucesso – que mede a percentagem de fundos que sobreviveram e que ultrapassaram o índice da sua categoria num determinado período de tempo – representa um indicador mais fiável da experiência dos investidores. Os rácios de sucesso das categorias analisadas no estudo da Morningstar oscilam entre os 9% e os 49%; os rácios mais baixos centram-se nas categorias de high yield e dívida de mercados emergentes.

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2. As categorias de obrigações de menor risco são as mais adequadas para serem substituídas por fundos passivos

A um nível mais detalhado, a Morningstar identificou um subconjunto de categorias nas quais, geralmente, o impacto dos custos na rentabilidade líquida ultrapassa a capacidade do gestor para gerar alfa, o que muda a balança a favor dos fundos passivos. Estas categorias abrangem principalmente fundos de dívida governamental com grau de investimento e fundos de obrigações diversificados, dois grupos que oferecem rendimentos mais baixos e nos quais a dispersão de rentabilidades entre os melhores e os piores fundos ativos é relativamente escassa.

Em categorias mais diversas, o fundo passivo parece comportar-se melhor do que o típico fundo ativo, mas o gestor ainda tem alguma margem para fornecer valor, sempre e quando as comissões sejam razoáveis. Por exemplo, em algumas categorias de obrigações corporativas, o fundo ativo médio obtém resultados medíocres. No entanto, os fundos ativos do primeiro quartil registam resultados muito mais satisfatórios e, em alguns casos, conseguem ultrapassar o índice da sua categoria em mais de 100 pontos base anualizados, depois de comissões.

3. Às vezes, nem os fundos ativos nem os passivos conseguem ultrapassar o índice

Em universos que apresentam uma volatilidade elevada e custos de transação altos, tanto os fundos ativos como os passivos têm problemas para ultrapassar o índice, embora por motivos diferentes.

Nas categorias de obrigações high yield, os fundos passivos, que tendem a focar-se nos emissores maiores e líquidos, deixa-se uma margem acentuada da rentabilidade do índice enquanto os gestores ativos estão mais preparados para explorar as ineficiências do mercado e os prémios de liquidez. Por isso, embora não consiga ultrapassar o benchmark, na empresa de análise consideram que continua a ser preferível investir no fundo ativo de high yield médio do que num fundo passivo.

Por outro lado, em dívida de mercados emergentes, a maioria dos fundos ativos são demasiado caros para poder competir. Nessas categorias, incluindo os fundos do primeiro quartil, geram rentabilidades inferiores às de um fundo cotado semelhante depois de comissões, o que sugere que os veículos passivos são relativamente mais apelativos, embora nem sempre consigam igualar a rentabilidade do índice.