Com os olhos postos no 'ouro negro'

Tal como esperado, a reunião da FED não trouxe novidade alguma, com Yellen a confirmar o abrandamento da recuperação e a estagnação da inflação.

A turbulência dos mercados financeiros globais e o comportamento da economia Americana contribuíram para que na primeira reunião do ano, o FOMC da Reserva Federal tenha primado pela prudência face às perspectivas económicas a curto prazo.

Sem que tenha falado expressamente deles, os riscos associados à volatilidade do mercado Chinês e a queda do preço do petróleo são preocupações que a FED tem em conta dado o impacto que podem ter no mercado de trabalho e na inflação.

Ficou assim afastada a hipótese de uma nova subida de taxas já em março, e qualquer subida de taxas que ocorra no futuro, irá estar dependente da evolução da situação global.
 
Nos mercados, a evolução do preço do petróleo tem sido o grande motor, com uma clara pressão para baixo, fruto do excesso de oferta e da desaceleração do crescimento económico.

A procura é tão pouco pujante que será com certeza necessário esperar muito para que o mercado possa absorver o excesso de oferta, permitindo assim corrigir de volta o preço para um patamar entre os 50 e os 70 dólares por barril.
Também os stocks nos Estados Unidos estão a um nível só visto na altura da Grande Depressão, precisámos pois de 86 anos para encontrar uma altura com tão grande quantidade de petróleo em armazém.

Como curiosidade, o litro do petróleo custa menos que um litro de água premium (Perrier, por exemplo) e o conteúdo de um barril custa menos que o próprio barril.

A pressão sobre o preço do petróleo está muito longe de trazer euforia por proporcionar uma descida na factura da energia, gerando cada vez mais inquietação junto dos investidores.

A poupança que os países importadores de petróleo conseguem é inversamente proporcional à quebra de receitas dos países produtores, e afecta seriamente as economias de países como a Arábia Saudita, a Rússia, a Noruega e o Canadá, por exemplo.

Esses países veem assim muito mais limitada a sua capacidade de comprar produtos e serviços a outros países que possam beneficiar do petróleo barato, gerando um circulo vicioso.

Contribuindo, também, para a tensão latente no mercado petrolífero, a Rússia procura retirar de cena a venda do seu petróleo em dólares, tendo o seu Ministério de Energia já avançado com a ideia de vender futuros de petróleo Russo cotados em Rublos.

É sabido a importância da venda do petróleo em dólares para a economia Americana. Ajudou a cimentar a procura por dólares e permite à moeda norte-americana ser a principal divisa para os bancos centrais deterem como reserva, assim como serve de apoio para anos consecutivos de déficits nos Estados Unidos.

Também a China, o segundo maior importador de petróleo do mundo, tem planos para lançar o seu próprio contrato de referência do petróleo. Tal como na Rússia, o referencial chinês será denominado não em dólares, mas em Yuan.

Lentamente alguns países vão avançando com medidas para diminuir a sua dependência em relação ao dólar e ao chamado PetroDolar.​Outro dos problemas que esta queda do preço do petróleo levanta, relaciona-se com a posição detida pela Arábia Saudita em dívida americana, que provavelmente não será renovada devido à necessidade de repatriar fundos, e que com certeza terá impacto dado o montante extremamente elevado envolvido.

Também o investimento efectuado pelos Estados Unidos na indústria de gás de xisto foi seriamente afectado pela descida do preço do petróleo, calculando-se em 380 mil milhões de dólares o prejuízo das empresas que investiram no sector.
Este é sem dúvida uma das grandes ameaças para a recuperação económica americana, já que essa dívida gigantesca está intimamente relacionada com dívida de elevada rentabilidade, e que pode a qualquer altura gerar uma sequência de incumprimentos que pode se estender a outros sectores de atividade, o que poderá provocar um terrível efeito dominó.

Além de tudo isto, não podemos ter grandes esperanças em ver uma subida da inflação com estes preços de energia tão baixos, o que obriga a uma correção em baixa das expectativas de inflação que os bancos centrais tinham.

 

(imagem: mallix, Flickr, Creative Commons)