CMVM: “Nem o sector segurador, nem o sector dos fundos de investimento têm conseguido afirmar-se como dinamizadores da poupança em Portugal”

Linhas, cores, agulha
eileeninca, Flickr, Creative Commons

Analisar a evolução das subscrições (líquidas de resgates) para inferir sobre a estrutura de aplicações financeiras e as decisões de investimento das famílias em Portugal, num contexto de muito baixas taxas de poupança - foi o que fez a CMVM no seu último relatório sobre os mercados de valores mobiliários 2018.

Captura_de_ecra__2019-07-31__a_s_11

No conjunto dos fundos de investimento mobiliários nacionais, escreve o regulador, o valor dos resgates ultrapassou o das subscrições em 412 milhões de euros. “Tal resultou quer dos resgates observados nos OICVM, quer nos Fundos de Investimento Alternativo Mobiliário (FIA), contrariamente ao que tinha sido observado no ano anterior, em que os OICVM apresentaram subscrições líquidas positivas”, pode ler-se.

Perda de relevância dos fundos 

Embora positivas, as subscrições líquidas de OICVM estrangeiros comercializados em Portugal decresceram significativamente em comparação com o ano passado. Nos últimos cinco anos, revela o regulador, as subscrições líquidas acumuladas deste tipo de fundos atingiram os 3 230 milhões de euros. Nos OICVM nacionais, por seu turno, as subscrições foram superiores aos resgastes em 1868 milhões de euros.

A CMVM aponta que esta evolução “diferenciada”, acabou por ter um efeito específico: o acentuar da “perda de relevância dos fundos de investimento mobiliário geridos por entidades nacionais em matéria de aplicação de poupanças por residentes”.

Em sentido contrário seguiram os fundos de investimento imobiliário abertos, que tiveram de “novo subscrições líquidas positivas em 2018, o que está certamente associado à dinâmica recente do mercado imobiliário em Portugal e aos níveis de rentabilidade mais elevados que este tipo de fundos tem proporcionado”. Cenário semelhante foi o encontrado também no conjunto das aplicações em certificados de aforro e do Tesouro, em que as subscrições também foram superiores aos resgates. A CMVM justifica esse facto pelo “aumento do saldo líquido de investimento nos certificados do Tesouro, uma vez que, pelo segundo ano consecutivo, os certificados de aforro apresentam um saldo de investimento negativo”.

Como visível no gráfico acima, o grande baque nas subscrições foi protagonizado pelos produtos de seguros. O regulador faz referência a isso mesmo, e escreve que embora os produtos de aforro do ramo segurador (que incluem os designados unit linked, as operações de capitalização e os fundos de pensões de adesão individual) tenham tido subscrições superiores aos resgates “marginais”, “nos últimos seis anos assistiu-se a um forte desinvestimento (4 867 milhões de euros) em produtos do sector segurador, o que estará associado às baixas taxas de longo prazo proporcionadas pelos títulos de taxa fixa”.

Mais subscrições do lado do menor risco

O aumento significativo surge do lado dos depósitos, tanto os efetuados por particulares como por sociedades não financeiras. Um aumento assinalado pelo regulador como mais relevante “nos depósitos de particulares”, “uma vez que o crescimento dos depósitos de sociedades não financeiras foi menos expressivo do que no ano anterior”.

Aquela que é a conclusão sentida pela própria indústria de gestão de ativos, é também preconizada, e deixada registada pela própria CMVM: “Num quadro de baixas ou mesmo nulas taxas de remuneração deste produto tradicional bancário, nem o setor segurador nem o dos fundos de investimento têm conseguido afirmar-se como dinamizadores da poupança em Portugal, e não têm constituído alternativas para a aplicação das poupanças dos investidores, que continuam a preferir alternativas mais tradicionais, mas também de menor risco”.