Cinco pontos chave para entender o que pode mudar nos EUA com o novo mapa político

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Fernando Bryan Frizzarin, Flickr, Creative Commons

Tal como já era esperado, o Partido Republicano ficou com o controlo do Senado norte-americano depois das eleições intercalares realizadas na terça-feira da semana passada, reforçando também a sua posição na Câmara dos Representantes. Tendo em conta os resultados disponíveis, o Senado de 2015 será composto por 53 Republicanos, 45 Democratas e 2 independentes. No entanto, os Republicanos continuam a não ter uma maioria suficiente para aprovar a legislação unilateralmente, já que não obtiveram os 60 assentos necessários para evitar os discursos obstrucionistas do Senado (os denominados ‘fillbuster’), nem os 67 lugares que faziam falta para anular o veto presidencial. Que implicações tem afinal o resultado das eleições nos EUA para a economia e para os mercados?

No último relatório Market Insights, David Lebovitz, estratega global de mercados da J.P. Morgan AM, e Hannah Anderson, analista de mercados na empresa americana, quiseram analisar cinco questões chave e oferecer as suas perspetivas sobre o impacto que, na sua opinião, os resultados das eleições vão ter na economia global e nos mercados:

1)   Tecto da dívida: o tecto da dívida federal manter-se-á inalterado até 15 de março de 2015, depois dos novos membros do Congresso terem tomado posse. “Embora possamos presenciar um caloroso debate sobre o tamanho da dívida federal – já que muitos culparam os republicanos pelo fecho administrativo do governo federal de 2013 – é provável que se alcance um acordo para elevar o tecto da dívida, já que os republicanos não querem ser considerados um problema por causa das eleições presidenciais de 2016”, afirmam.

2)   Orçamento federal: O orçamento do ano passado prorrogou porque o Congresso não alcançou um acordo relativamente ao orçamento federal deste ano. “O mais provável é que se volte a prorrogar quando termine no próximo dia 11 de dezembro de 2014. O novo orçamento federal está previsto para fevereiro e, com as câmaras sob o controlo republicano, espera-se que seja aprovado desta vez”.  

3)   Impostos: Ultimamente alcançou-se um determinado consenso sobre a ideia de que o sistema fiscal norte-americano, em particular os impostos às empresas, necessita de ser reformado. “A elite do partido republicano foi impulsionando esta ideia e conta com suficientes apoios para conseguir uma coligação bipartidária que apoie uma reforma moderada”.

4)   Imigração: Segundo explicam os especialistas, a reforma da imigração foi um dos tópicos quentes da recente campanha eleitoral. “Praticamente todos os candidatos defenderam a necessidade de uma reforma, mas a diversidade de opiniões torna difícil que se alcance um consenso”.

5)   Comércio: Para Lebovitz e Anderson é provável que os acordos comerciais que se encontram atualmente em processo de negociação, como o Acordo de Associação Transpacífico (TPP) e o Acordo de Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento (TTIP), recebam um maior impulso da parte do Congresso republicano. “Para além disso, há várias propostas legislativas em cima da mesa que iriam conceder ao executivo mais poderes para adotar acordos comerciais sem necessidade de que passem previamente pelo Congresso, o que facilitaria o estabelecimento de mais parcerias deste género”.

Perspetivas

Para David Lebovitz e Hannah Anderson, é provável que o resto da legislatura continue a ser dominada pelo bloco bipartidarista, o que torna muito difícil a imposição da sua agenda. “No entanto, esta falta de ação política pode ser benéfica para os mercados já que limita a possibilidade dos investidores serem surpreendidos por acontecimentos inesperados. Para além disso, a aprovação de alguns dos acordos comerciais que estão em processo de negociação poderá ser positiva para a economia mundial, já que um dólar mais forte se deverá traduzir num aumento das importações e gerar bons ventos sobretudo para os países exportadores”.

As previsões dos especialistas dizem que, ao longo de 2015, os investidores vão começar a centrar-se nas eleições presidenciais de 2016. “Tendo em conta que pelo menos seis senadores poderão apresentar a sua candidatura, é provável que Washington evite qualquer controvérsia. Por isso é muito pouco provável que o Congresso atue nas questões chave para o país e, com Washington tranquilo, o contexto político para a economia e para os mercados manter-se-ão relativamente favoráveis”, asseguram.