Carlos Pinto (Optimize IP): “Os mercados emergentes apresentam bastantes drivers de crescimento”

Vítor Duarte
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A mudança de direção das políticas monetárias por parte dos principais bancos centrais foram o principal catalisador para o forte entusiasmo nos mercados financeiros ao longo do ano de 2019. A deterioração dos vários dados macroeconómicos e a degradação da confiança dos investidores pela incerteza da guerra comercial protagonizada entre os EUA e os seus principais parceiros comerciais, levaram os bancos centrais a retroceder a reversão das políticas acomodatícias que já estavam em andamento.

Apesar da longevidade do atual ciclo expansionista, ainda não antevemos o seu término. Prevemos um ligeiro abrandamento no crescimento global, embora não signifique uma recessão. A evolução dos vários dados macroeconómicos vai continuar a ser ativamente monitorizada pelas políticas monetárias dos principais bancos centrais. Ainda que não seja expectável que surjam alterações ao nível das taxas de juros, é provável que a injeção de liquidez regresse e até seja reforçada por programas massivos de compras de ativos. No ambiente atual de taxas “lower for longer”, estamos convictos que no longo prazo, o verdadeiro risco está na exposição ao cash e a taxas baixas. De facto, já há bastante tempo que o selo “rendimento garantido” não permite rentabilizar, nem sequer preservar as poupanças dos seus aforradores.

Nos EUA, muitos temas para seguir de perto ao longo do ano 2020. O acordo comercial entre os EUA e a China está a ser negociado por etapas. A “phase one deal” está acordada, seguindo de imediato as negociações para a 2.ª fase. Em ano de eleições presidenciais americanas a ter lugar no final do ano, D. Trump deve assumir a re-candidatura para um 2.º mandato do lado dos republicanos. No lado dos democratas perfilam-se alguns candidatos, dos quais destaco Joe Biden com um perfil mais moderado e as candidaturas mais radicais de Elisabeth Warren e Bernie Sanders. A monitorizar todas estas incertezas vai estar a FED, tendo já demonstrado estar bastante confortável que o atual nível de taxas de juro vai permitir suportar a expansão da economia, não prevendo qualquer alteração nos próximos tempos, a menos que os dados macroeconómicos sofram uma improvável degradação. Embora, seja consensual não promoverem mais cortes na taxa de juro, a injeção de liquidez no mercado deverá ser reforçada.

Na Europa, a normalização das taxas de juro não foi conseguida, essencialmente devido à falta harmonização das políticas económicas, fiscais e até ideológicas entre os vários governos da zona euro. O novo mandato do BCE, liderado por C. Lagarde, tem um legado bem desafiante pela frente. No topo das suas preocupações estão o abrandamento do crescimento económico da zona Euro, as incertezas da guerra comercial e a baixa inflação. A nova líder do BCE vai ter de usar toda a sua diplomacia para convencer os vários governos a implementarem reformas estruturais ao nível económico, fiscal e regulatório de modo a permitir que os estímulos promovidos pelo organismo cheguem à economia real. Em suma, promover reformas há muito identificadas como sendo necessárias, principalmente em países com superavit orçamental como é o caso da Alemanha e impor mais disciplina orçamental aos países do sul. A expressiva vitória de B. Johnson nas recentes eleições no Reino Unido, vai permitir ao partido conservador consumar o Brexit de uma forma mais pacífica, permitindo uma saída ordeira da União Europeia.

O Japão enfrenta um abrandamento económico, refletido pelos fracos dados PMI, já em contração e pelo recente aumento de taxas sobre o consumo privado. Para contrariar esta conjuntura, a economia nipónica deverá beneficiar da perdurabilidade das políticas ultra-expansionistas, de um impulso consumista por Tóquio ser a cidade anfitriã dos jogos Olímpicos em 2020 e pela pressão salarial em virtude da reduzida população laboral.

Os mercados emergentes apresentam bastantes drivers de crescimento. Vão nomeadamente beneficiar da descida da taxa de juro americana, permitindo um alívio do custo de financiamento. Além disso, as autoridades locais destes países continuam a reforçar os seus estímulos monetários e fiscais. Por fim, a pacificação da disputa comercial entre a China e os EUA, permitirá a retoma de vários projetos de investimento estrangeiro, beneficiando as empresas locais, especialmente as mais expostas ao comércio internacional.  

Prosseguimos muito confiantes no potencial deste mercado, principalmente na Asia, com as empresas apresentarem valorizações bem atrativas em países com elevado crescimento económico. O posicionamento destes países na revolução tecnológica já se equipara ao dos países desenvolvidos, intensificado pela vantagem de a regulação da proteção de dados ser menos exigente.

Mais especificamente, a India fruto de reformas estruturais implementadas nos últimos anos, exibe-se como sendo a que ostenta o maior crescimento no mundo, apesar de no último ano ter abrandado para os 6.1%, não obstante, acompanhado pela forte queda da inflação, patenteando valores mínimos de 3.4%. Adicionalmente, beneficia de uma demografia rejuvenescida, qualificada e ainda por uma forte migração das zonas rurais para as maiores cidades, implicando grandes investimentos em infraestruturas.

No enquadramento atual, temos preferência por exposição às ações, especialmente nas que ostentam um crescimento sustentável e mais facilmente projetável das suas vendas e receitas para períodos de médio longo prazo, leia-se 5 a 10 anos, independente do ciclo económico. Continuamos bem posicionados em empresas que manifestem melhor capacidade de integrar nas suas linhas operativas todas as valências promovidas pelo Big Data e pela Inteligência Artificial, sendo estas, inevitavelmente as vencedoras desta era disruptiva.  

O mercado obrigacionista apresenta algumas oportunidades, sobretudo suportado pelos programas de compra de ativos massivos por parte dos principais bancos centrais. Nesta categoria, os rendimentos das emissões dos países desenvolvidos oferecem taxas reduzidas, com uma grande parte das emissões a negociarem com yields negativas, especialmente nas cotadas em euros, refletindo o menor risco destes países.

Neste grupo, recomendamos o investimento em obrigações de empresas americanas de médio prazo que proporcionam um rendimento ainda interessante e suportadas por uma moeda forte. No entanto, alertamos para a tentação do investimento em obrigações de muito longo prazo, leia-se emissões acima de 30 anos ou perpétuas, uma vez que num contexto de inversão, perdem interesse e consequentemente liquidez, o que poderá originar perdas avultadas.

Nos países emergentes identificamos rendimentos bem interessantes, muito embora nesta análise tenha de ser considerada a relevância do risco político, económico e acima de tudo cambial de cada país.

Nesta divisão também encontramos algumas ideias de investimento, sobretudo em empresas exportadoras, nomeadamente nas que apresentam receitas provenientes de geografias mais consolidadas, exigindo uma seleção minuciosa e acima de tudo bem diversificada.

No ano que permitiu recuperar as perdas avultadas de 2018, verificamos que a intervenção dos bancos centrais foi decisiva, e pela sua retórica, o ano de 2020 vai continuar na mesma linha, ou seja de estímulos massivos à economia. Portanto, assistimos que o atual ecossistema já deu provas da sua independência e está munido de instituições robustas com bastante capacidade reativa na monitorização da conjuntura macroeconómica global. Como sempre, adotamos e defendemos uma abordagem racional e convicção no poder da diversificação, da flexibilidade e do longo prazo no processo de investimento. Respeitar o horizonte temporal idealizado é fulcral para que várias ideias de investimento atinjam o seu valor. Só assim é possível ultrapassar as várias intempéries que vão assolando todos os ciclos de investimento.

O Optimize Investimento Activo, é um fundo dotado de flexibilidade para posicionar a sua exposição ao mercado acionista no intervalo de 0% a 100%, concedendo assim agilidade à equipa de gestão para posicionar o nível de risco e uma capacidade ativa para aproveitar várias oportunidades que vão sendo proporcionadas nos ciclos mais voláteis.