Caixagest: “Perante o enquadramento de continuação da incerteza global os fundos multiativos subsistem como soluções de investimento apropriadas”

João Marques_2023
João Marques. Créditos: Cedida

(Perspetivas para a segunda metade de 2019, traçadas por João Marques, responsável da Direção de Estratégia e Alocação da Caixagest.)

O que esperam de cada uma das principais economias no ano de 2019?

De acordo com as nossas perspetivas de início de 2019, o crescimento global deveria registar uma moderação face aos níveis verificados nos dois anos precedentes, tendo em conta a fase avançada do ciclo, o contexto de subida gradual das taxas de juro, o fim do impacto do impulso fiscal nos EUA e o aumento da incerteza associada aos riscos geopolíticos, em particular as tensões comerciais entre os EUA e a China. As evidências de abrandamento da atividade económica tornaram-se patentes na 2ª metade de 2018, com a trajetória de descida dos indicadores avançados e de confiança, essencialmente ao nível dos setores cíclicos e mais expostos ao comércio internacional e, posteriormente, com a deterioração das condições financeiras motivada pelas correções significativas dos mercados de capitais.

No entanto, a dupla instabilidade económica e de mercados promoveu uma mudança na postura dos bancos centrais no que respeita à normalização das políticas monetárias ultra expansionistas, implementadas na última década, com a Reserva Federal Americana a interromper o processo de subida das taxas diretoras e a indicar a possibilidade de cortes das mesmas, já em 2019, para suster a expansão em curso. Este comportamento foi acompanhado pelo BCE, com o presidente M. Draghi a afirmar, no Fórum de Sintra, a possibilidade de implementação de novos estímulos monetários, tanto ao nível da descida das taxas de referência como da reabertura do programa de compras de ativos, para a convergência da inflação para o objetivo. Igualmente, outras autoridades monetárias tanto do bloco desenvolvido como emergente não só procederam a uma alteração de comunicação para uma toada mais “dovish” como, em alguns casos, decretaram descidas de taxas.

Esta variação de paradigma gerou impactos positivos, sobretudo na evolução dos mercados de capitais das diferentes geografias, com os ativos de maior risco a registarem valorizações significativas e as taxas de juro a descerem para níveis historicamente baixos ou negativos.

No entanto, no domínio económico, não se verificaram alterações relevantes na tendência de abrandamento em curso. No início do 2º semestre, perante os riscos latentes das relações EUA-China, permanece a divergência da maior robustez do consumo, do emprego e dos setores dos serviços face à desaceleração das vertentes industrial e de comércio externo. Deste modo, apesar de não perspetivarmos uma recessão no curto prazo, continuamos a antever uma tendência de abrandamento sincronizada, com o ritmo de crescimento nominal a desacelerar em função da maior fragilidade dos setores mais cíclicos. Porém, e contrariamente à atuação esperada dos bancos centrais no início do ano conducente a medidas restritivas, perspetivamos que o novo enquadramento de políticas monetárias constitua um fator amortecedor para o supracitado abrandamento. Neste cenário, as principais economias deverão evidenciar crescimentos positivos embora mais alinhados com o seu ritmo potencial.

Em específico, nos EUA, à continuação da resiliência do consumo tenderá a contrapor-se a maior fraqueza do investimento, ao mesmo tempo que os efeitos positivos das medidas fiscais expansionistas, da descida de impostos (decretadas no final de 2017), se desvanecerão. No caso europeu, é expectável que a Área Euro, por sua vez fortemente integrada nas cadeias de valor globais, seja mais afetada pela incerteza vigorante desde o ano transato e pela situação política interna, nomeadamente em Itália onde a instabilidade governamental tem justificado a estagnação de crescimento verificada.

Por outro lado, subsiste a indefinição do “Brexit”, com possíveis consequências económicas negativas para as duas partes, embora um cenário de saída do Reino Unido da União Europeia, sem acordo, culmine em efeitos mais nefastos para a economia britânica, que, por sua vez, tem vindo a demonstrar um ritmo de crescimento historicamente modesto.

No caso do Japão, os níveis de atividade não só deverão registar uma moderação, face ao ano transato, como também denotar as taxas de evolução mais baixas no contexto das principais economias desenvolvidas. Para além do fator estruturante de fraco crescimento potencial que afeta a economia nipónica, as incertezas associadas ao comércio internacional e a subida programada do imposto sobre o consumo deverão causar um impacto cíclico negativo.

Em relação à China, a tendência de moderação também poderá permanecer, motivada pelo aumento do protecionismo e pelo atual plano estratégico de rebalanceamento da sua estrutura económica. De acordo com este último objetivo, a passagem de um modelo baseado nas indústrias de capital intensivo e exportadoras para uma estrutura de maior proeminência da procura interna e dos setores dos serviços deverá, inevitavelmente, contribuir para crescimentos potencialmente mais baixos face aos verificados nas últimas décadas.              

 

Quais as classes de ativos melhor posicionadas para uma boa performance no segundo semestre?

Na primeira metade de 2019, as principais classes de ativos averbaram fortes valorizações que, por sua vez, não foram acompanhadas por uma melhoria do enquadramento económico.

No que respeita aos mercados acionistas, aos registos atuais, as métricas de avaliação absoluta, como os múltiplos de preços, encontram-se historicamente elevadas, descontando, na nossa perspetiva, uma resolução das incertezas geopolíticas vigentes e um contexto macro otimista e de maior crescimento dos lucros empresariais, face ao consenso.

No que concerne às classes de rendimento fixo, o presente nível das yields, após a forte descida verificada no ano corrente, já incorpora uma atuação significativa por parte dos bancos centrais em termos de estímulos monetários adicionais.

Paralelamente, os prémios de risco de crédito (spreads), apesar de não se situarem em mínimos do ciclo, oferecem grande atratividade face às métricas de crédito, como o incremento do endividamento corporativo, a descida das margens operacionais e as estimativas de aumento dos níveis de incumprimento.

No entanto, e tal como aconteceu em grande parte do período multianual de valorização dos mercados, desde 2009, onde a apreciação das classes de ativos foi função do fator comum de descida de taxas de juro e de medidas monetárias não convencionais, atualmente, tendo em conta a compressão das yields, as classes de ativos de maior risco numa ótica de valor relativo continuam a demonstrar atratividade.

Neste contexto, e com as rendibilidades obtidas em 2019 já acima das médias históricas anuais, perspetivamos comportamentos transversalmente mais modestos no segundo semestre, com as classes de ações a poderem ainda evidenciar melhores retornos ajustados pelo risco face a obrigações do tesouro e de risco de crédito.

Em detalhe, o mercado acionista americano poderá obter maior suporte do contexto económico e de resultados, doméstico, mais benigno e da natureza mais defensiva e de maior qualidade das suas empresas constituintes. Já nos mercados de maior exposição cíclica, tendo em conta um cenário de taxas de juro globalmente baixas e de não escalada significativa das tensões comerciais, perspetivamos valor relativo no segmento de emergentes em contrapartida dos mercados europeus, que, apesar do cariz de exposição global, apresentam maiores vulnerabilidades pelas questões de indefinição política interna.

Ao nível dos mercados de dívida pública, de acordo com as valorizações atuais, não antevemos retornos significativos oriundos da principal componente de risco de duração, embora perspetivemos um potencial relativo das obrigações americanas, cuja curva de rendimentos se situa num patamar elevado, a nível global, podendo beneficiar da procura por ativos de menor risco que oferecem melhores taxas de retorno ex-ante no espectro de rendimento fixo. Em contrapartida, apesar da possível atuação do BCE, as yields de referência da Área Euro, sobretudo dos países denominados “core” situam-se em níveis extremamente reduzidos, mesmo face a um agravamento da situação económica atual, implicando, deste modo, um potencial mais assimétrico para piores desempenhos relativos.

Finalmente, no domínio cambial, e na perspetiva de um portfólio multiativos denominado em euros, a adição de dólares deverá gerar não só um efeito diversificador como também um acréscimo de rendimento (carry), pelo diferencial de taxas de juro bastante favorável para a moeda americana. Em adição, o dólar poderá beneficiar tanto de um contexto mais positivo de aceleração económica global, mais expressiva nos EUA, como de um agravamento das condições económicas e da aversão ao risco, pelo seu maior estatuto de “refúgio” face ao euro.

Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?

Um dos principais riscos para o atual ciclo de expansão consiste na não concretização de um acordo comercial sino-americano e na consequente escalada de imposição de tarifas que, para além dos efeitos diretos negativos, seja impactante na confiança dos agentes económicos, afetando as suas decisões de investimento e de consumo, e, consequentemente, na economia em geral.

Por sua vez, o “Brexit” constitui outro fator de risco relevante, sobretudo na segunda metade do ano, tendo em conta a possibilidade de uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo, a qual poderá ser disruptiva, não só para a economia britânica mas também para os países da Área Euro com maior exposição à mesma.

Ao nível dos mercados, a não implementação dos estímulos monetários, tal como atualmente descontado, poderá ser geradora de uma subida pronunciada de yields em termos globais e do consequente ajuste em baixa dos prémios de risco das principais classes de ativos, atualmente elevados, para níveis consentâneos com o contexto fundamental menos positivo.   
Qual o fundo de investimento que melhor tenderá a adaptar-se à realidade que perspetivam para o segundo semestre de 2019 e porquê? 

Perante o enquadramento de continuação da incerteza global, associado a possíveis aumentos intermédios da volatilidade e a comportamentos distintos entre as principais classes de ativos, os fundos multiativos, com uma elevada representatividade e abrangência de mercados, subsistem como soluções de investimento apropriadas.

A exposição a diferentes fontes de valor possibilita a redução e a menor concentração de riscos específicos, resultando na obtenção de um padrão de rendibilidades mais estável face às estratégias de investimento adstritas a uma classe.

Adicionalmente, dados os níveis perspetivados para as taxas de remuneração de depósitos, os retornos potenciais das soluções multiativos, ajustados pelo risco, constituem, na nossa ótica, uma proposição de valor adequada. Deste modo, e tendo em conta o perfil de risco de cada investidor, os Fundos de Investimento ”Caixagest Seleção Global Defensivo”, “Caixagest Seleção Global Moderado” e “Caixagest Seleção Global Dinâmico”*, distintos no grau de exposição à classe de ações, apresentam-se como veículos de investimento apropriados aos desafios do contexto económico e de mercados perspetivado.

Quais os temas onde procuram alternativas de investimento?

A temática do investimento socialmente responsável (ISR) tem ganho popularidade nos últimos anos, num enquadramento de maior preocupação dos investidores com o impacto ético das suas decisões de investimento.

Deste modo, tem-se verificado a adoção desta filosofia, com o aumento da procura por emitentes que se distingam nas práticas de sustentabilidade, colocando em igual grau de importância os objetivos de maximização dos lucros e de cumprimento das metas sociais, ambientais e de governo societário mais corretas.

Paralelamente, os respetivos méritos têm sido reforçados com a publicação de vários estudos académicos que abordam o tema da rendibilidade ajustada por risco dos fatores de sustentabilidade. As conclusões apontam para uma evidência de relação não-negativa entre a integração de fatores de ISR nos processos de investimento e a sua performance, e de incremento dos resultados obtidos com o maior horizonte temporal de investimento. Neste âmbito, e de acordo com os méritos de uma solução de multiativos, para um perfil de investidor de risco moderado, o Fundo “Caixa Investimento Socialmente Responsável”* representa também uma alternativa de investimento adequada ao enquadramento económico e de mercados perspetivado. Este constitui o primeiro veículo lançado em Portugal, em 2017, cujo processo de investimento se rege por uma metodologia ISR, através da incorporação de fatores de sustentabilidade ambientais, sociais e de governança na seleção dos títulos acionistas e obrigacionistas que compõem a respetiva carteira.

* Os Fundos ”Caixagest Seleção Global Defensivo - Fundo de Investimento Mobiliário Aberto”, “Caixagest Seleção Global Moderado - Fundo de Investimento Mobiliário Aberto”, “Caixagest Seleção Global Dinâmico - Fundo de Investimento Mobiliário Aberto” e “Caixa Investimento Socialmente Responsável - Fundo de Investimento Mobiliário Aberto” são geridos pela Caixagest - Técnicas de Gestão de Fundos, S.A. (empresa do Grupo Caixa Geral de Depósitos).