Bolsa chinesa fervilha: de "quem" foi a culpa, e onde encontrar valor agora?

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jev, Flickr, Creative Commons

As explicações são escassas para justificar o que se passa com a bolsa chinesa. O que é certo é que o apetite dos investidores pelo mercado acionista chinês tem vindo a mudar. A situação não é para menos. Desde o máximo atingido a 12 de junho, o Shanghai Composite Index perdeu um terço do seu valor. E porquê?

As eventuais razões

“Tal como não existem fundamentais económicos que justifiquem a anterior subida acentuada dos preços das ações, também o crash atual não foi impulsionado pelas preocupações de um eminente hard landing”, começa por dizer Hans Bevers, economista da Petercam. No entanto, foram existindo alguns movimentos suspeitos. “Desde o início do rally, no verão passado, até ao máximo atingido há quase um mês atrás, o preço das ações quase dobrou”, recorda, reiterando que “este tipo de movimento ascendente é sempre de suspeitar, visto que a economia, por seu lado, continuou o sua tendência de crescimento negativo”.

Da J.P. Morgan Asset Management, Tai Hui, Managing Director Chief Market Strategist para o mercado asiático, acredita igualmente que “o timing desta correção era impossível de prever”. Contudo não esquece qual a composição dos investidores da bolsa chinesa. “Tendo em conta que o mercado chinês é dominado por investidores de retalho com um grande potencial de alavancagem, o efeito manada é sempre um risco”, afirma. Embora as justificações escasseiem, “os apertados níveis de liquidez por causa da acumulação sazonal de dinheiro em caixa, a longa lista de IPOs, bem como o escrutínio dos reguladores ao nível da margem financeira”, são alguma das razões que Tai Hui enumera como plausíveis.

“Feitiço contra o feiticeiro”

Perante a queda abrupta dos últimos dias as autoridades chinesas foram obrigadas a intervir, e parecem estar a fazer o inimaginável para travar esta queda livre.  Da Aberdeen dizem que “a velocidade e a escala da resposta de Pequim mostra preocupação em relação a uma correção desordenada, mas também no que diz respeito ao risco sistémico, visto que o preço das ações mais do que dobrou no ano passado”.

Contudo, este crash atual pode ter relação com as próprias medidas que têm sido implementadas pelo governo. “Para ajudar a reverter o abrandamento da economia, Pequim tem vindo a encorajar o investimento em ativos mais arriscados, como é o caso das ações”, dizem da Aberdeen. Da Petercam acrescentam que o facto do mercado imobiliário chinês estar a passar por dificuldades, fez com que “algumas poupanças fossem sendo encaminhadas para a bolsa”. Todos estes factores foram agudizados por outro ponto chave. “A expectativa de uma maior abertura de capital na China, incluindo a maior representação das bolsas chinesas nos índices globais de ações, deu fulgor a uma bolha especulativa no mercado de ações”, diz Hans Bevers, apelidando desta forma a situação vivida. 

Como já foi referido, a perda de capitalização bolsista de Shanghai tem sido grande. Desde 12 de junho as perdas excedem a capitalização bolsista conjunta do Reino Unido, Suíça e dos sectores da Zona Euro, o que se cifra num número comparável ao PIB da Índia. O Bank of America Merrill Lynch entende que a escala do colapso chinês será crescente se ansiedade aumentar em relação a três temas muito específicos. Em primeiro lugar, com “o abrandamento ainda maior e mais rápido da economia”; em segundo lugar, porque o risco de “desvalorização do renminbi é cada vez maior”. Por último, pelo “facto dos sectores de commodities a nível global continuarem  com uma má performance”.

Mercado H-shares mantém-se atrativo

Embora o cenário seja pouco sorridente, a maioria das gestoras internacionais continua a acreditar no potencial da bolsa chinesa. Da J.P. Morgan  AM, por exemplo, acreditam que o investimento de longo prazo na China continuará a fazer sentido.  Tai Hui ainda vê valor em determinados temas de investimento, como é o caso do consumo da classe média, o projecto ‘One Belt, One Road’ (criado para  desenvolver infraestruturas logísticas e portuárias) ou as políticas orientadas para a proteção do ambiente e energias renováveis.

Concretamente sobre o mercado de ações, também nem tudo parecem más notícias. Do Deustche Asset & Wealth Management (Deutsche AWM) referem que é pouco provável que as ‘A-shares’ estabilizem até que as ‘margin calls’ e a desalavancagem recuem”; por isso, o mercado de H-shares “pode ter alguma estabilidade para o investidor estrangeiro”, embora “não seja suficiente para quebrar a pressão vendedora deste momento”.

Também o Credit Suisse acredita que os investidores que têm acesso o mercado H-shares (ações de empresas chinesas que negoceiam na bolsa de Hong Kong) devem aproveitar. “Tendo em conta que cerca de 40% do mercado de A-shares viu a sua negociação suspensa e, consequentemente, os valores do índice chegaram a níveis irreais provocando volatilidade de curto prazo, na nossa opinião o mercado de H-shares oferece valor e tem sólidos fundamentais”.