BlackRock vs J.P. Morgan AM vs Schroders: três visões sobre os mercados emergentes

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Oakwood30, Flickr, Creative Commons

O estado dos mercados emergentes continua a ser um tema cada vez mais em cima da mesa e sobre o qual as opiniões se dividem. Sam Vecht, responsável da equipa de ações emergentes da BlackRock, Richard Titherington, diretor de investimentos de ações emergentes e gestor da J.P. Morgan AM, Keith Wade e Craig Botham, ambos economistas da Schroders, deixam algumas ideias sobre o assunto.

Sam Vecht é franco e direto na hora de expor algumas das suas ideias sobre a situação dos mercados emergentes. “Apesar de soar estranho, estou taticamente otimista nos emergentes porque estão muito baratos”, afirma. Outro ponto interessante sobre a sua visão como gestor é o facto de estar cauteloso relativamente às empresas de rápido crescimento: “Tendo a desconfiar das empresas que passaram muito tempo com uma vantagem competitiva”.

“Gosto de comprar ações baratas em países onde a situação está a piorar”, acrescenta Vecht, que dá como exemplo o seu investimento no banco russo Sberbank. O gestor reafirma fortemente este estilo de investimento contra corrente: “Quando toda a gente está a falar da anexação da Crimeia por parte da Rússia é o momento de comprar, não de vender. Nunca nada é seguro quando se está a investir em emergentes; a questão passa por saber se o preço oferece uma recompensa. Não nos devemos concentrar no que os jornais dizem, mas sim nos preços”. “Acredito que Kiev é um lugar interessante para investir”, conclui o responsável pelas bolsas emergentes da BlackRock.

Na hora de gerir o seu fundo, Vecht recomenda que se combine a análise top down com a bottom up. No resultado do seu processo de seleção, o especialista declara que atualmente não encontra valores interessantes no sector do consumo, mas sim em empresas financeiras, industriais e inclusive de telecomunicações. A temática do consumo não é a única com a qual o gestor se mostra crítico. Afirma que “a demografia é um bom tema de investimento nos países desenvolvidos, mas perigoso nos emergentes". “Não espero muitas oportunidades das farmacêuticas maiores e mais comerciais, porque muito do seu potencial já está incorporado no preço, ainda que algumas empresas sejam atrativas”. Relativamente à diferente concepção do governo corporativo das empresas de países em vias de industrialização, segundo Vecht, “nos países emergentes a influência do governo é maior sobre o board das empresas. Mas o factor mais importante na hora de analisar uma empresa emergente é ver para onde é que se dirigem os seus fluxos de caixa, não a parte do governance. Há que ter em conta a natureza das distintas culturas, conhecê-las e respeitá-las”.

Richard Titherington também faz finca-pé na forma como as empresas utilizam o seu volume de capital, mas mostra um ponto de vista diametralmente distinto. “Para mim o corporate governance é o principal problema. Muitas das empresas não seguem a maioria das propostas dos acionistas. O factor chave é seguir o rasto do dinheiro: as empresas que pagam dividendos costumam ter um melhor governance do que as que não pagam". “Uma empresa que pague 100% dos seus lucros em dividendos têm muito mais margem para continuar a crescer, uma empresa que pague 50% tem mais probabilidades de continuar a avançar no longo prazo e uma que não pague nada tem que encontrar outros motivos para justificar o crescimento”. “Temos que viver com um incremento da volatilidade, mas nos países emergentes uma empresa é semelhante à dos países desenvolvidos: só sobreviverá se for feita uma gestão sustentável”

Por outro lado, o especialista mostra uma opinião semelhante a Vecht na hora de interpretar as notícias vindas destas regiões. “Qualquer um que se fixe apenas nos problemas políticos de países emergentes, como por exemplo a Tailândia, nunca irá investir nestes mercados. No caso da Rússia e da Ucrânia é um pouco diferente, porque não se trata de um risco político, mas sim internacional, e afecta os investidores. Dito isto, acredito que as ações russas estão baratas”.

O caso da China

A teoria de Titherington é que “os investidores em emergentes tendem a oscilar do otimismo ao pessimismo: o importante é saber se a empresa vai ser a correta a longo prazo. A China é um exemplo clássico desta visão cíclica. A sua economia está a abrandar, e o importante é estudar a rentabilidade que pode gerar, porque a economia chinesa é difícil de gerir”. “O problema é que há três ou quatro anos havia demasiado otimismo sobre a China”, diz o especialista, acrescentando que se mostra otimista com a segunda economia do mundo “porque ainda tem potencial de desenvolvimento”. Para o investidor que queira entrar neste mercado e beneficiar das reformas aprovadas recentemente pelo Partido Comunista da China, a recomendação do especialista da J.P. Morgan AM é a seguinte: “É muito importante encontrar um tema secular com um ciclo de negócios próximo e saber beneficiar do mesmo”. Dá como exemplo a indústria automobilística chinesa, que acredita que se vai expandir nos próximos anos.

Mais crítico mostrou-se com outras temáticas de investimento que gozaram até agora de popularidade entre investidores e gestores de fundos. “Eleger multinacionais para entrar em países emergentes funcionou nos últimos cinco anos porque durante essa altura os mercados europeus e norte-americanos estavam muito deprimidos e os emergentes estavam muito baratos. Isto faz-nos pensar que investir em valores como a Coca-Cola é uma boa ideia para entrar nos emergentes, mas este tipo de empresas revalorizaram-se”, constata. Sobre outros mercados que vão para além dos BRIC, o gestor da J.P. Morgan AM entende que: “Um investimento atrativo é fundamentalmente um investimento subvalorizado. África agora é um destino caro, mas do ponto de vista do longo prazo é fantástico. Acredito que talvez haja demasiado otimismo sobre os mercados fronteira e muito pessimismo sobre os BRIC”.

Na perspetiva da Schroders “as valorizações estão agora consideravelmente mais atrativas, com o desconto nos mercados emergentes a alargar-se à medida que os gestores de fundos globais reduziram a exposição”. Para reverter esta situação Keith Wade, economista chefe, e Craig Botham, economista de mercados emergentes da entidade, indicam que existem três factores que funcionarão de “gatilho”. O primeiro, dizem, seria uma recuperação no crescimento dos mercados emergentes, que viria associada ao crescimento do mundo desenvolvido. Em segundo lugar “ uma evidência que existe é a de que a China está a ter sucesso no seu processo de desalavancagem do sector financeiro, pelo que o medo sobre o seu colapso diminuiu”. Por último, segue-se a evidência de que “estes países, que estiveram no epicentro da crise dos mercados emergentes, estão a ter sucesso em recompor os seus défices e podem, por isso, embarcar num caminho mais forte”, concluem.