BlackRock substituirá vários dos seus gestores por sistemas de inteligência artificial

Teclado
Nicola since 1972, Flickr, Creative Commons

Os bons resultados que estão a ter os processos de investimento quantitativos estão a levar algumas entidades – sobretudo as de maior tamanho – a apostar em modelos de gestão que seguem um enfoque menos humano e mais sistemático. J.P. Morgan AM, Goldman Sachs ou BlackRock são algumas das grandes casas que estão a tentar apoiar-se na tecnologia para gerar melhores resultados para os seus clientes. O último movimento neste sentido foi feito pela última entidade referida. A empresa decidiu substituir sete gestores de ações, de forma aos fundos geridos um enfoque mais quantitativo. Embora ainda se desconheça que fundos e gestores serão afetados, as estimativas apontam para que 30.000 milhões de dólares passarão a ser geridos através desta nova forma, um volume baixo comparando com os cinco biliões que a entidade gere.

Os gestores dispensados não ficarão de mãos a abanar. Há um total de 25 milhões de dólares à espera de ser distribuídos, valor que a BlackRock espera recompensar com indeminizações. O objetivo deste processo é que se continue a desenvolver um modelo de gestão no qual têm vindo a trabalhar, muito similar ao representado por produtos como o BlackRock Americas Diversified Equity Absolute Return ou o el BlackRock European Diversified Equity Absolute Return. Em ambos os casos, tratam-se de fundos de ações market neutral com um objetivo de rentabilidade e volatilidade máxima, cujo processo de gestão tem uma base quantitativa baseada em sinais de investimento desenvolvidos maioritariamente pela gestora internamente e com uma elevada componente de big data. Está sob a responsabilidade da Scientific Active Equity, equipa formada por aproximadamente 100 profissionais, cujo objetivo é identificar e encontrar sinais. Este é o tipo de estratégia que da gestora preveem potenciar.

“Os métodos tradicionais de investimento estão a ser substituídos pelos avanços massivos que estão a acontecer a nível tecnológico e de Data Science (ciência que procura estruturar, analisar e ordenar a cada vez maior quantidade de informação que inunda o mundo). Ao mesmo tempo, as preferências dos clientes também estão a mudar. Agora já não se centram apenas nos resultados, mas também na forma como a performance e as comissões impactam o valor”, assegura Mark Wiseman, responsável global de gestão ativa de ações, na BlackRock.

Na sua opinião, a indústria de gestão ativa tem que mudar. “As gestoras que utilizem simplesmente as mesmas técnicas e ferramentas do passado verão limitada a sua habilidade para gerar alfa, e satisfazer as expetativas dos seus clientes. Os passos que estão a dar vão em direção à estratégia que tínhamos anunciado em 2016, que consiste em combinar as nossas equipas quantitativas e de análise fundamental numa plataforma coesa, que aproveite a escala e os recursos da BlackRock”.

Ou seja: a gestora aposta na combinação entre o poder do homem e o das máquinas para gerar bons resultados. Essa combinação dá como resultado menos necessidade de capital humano (no que diz respeito ao que historicamente têm sido os stock pickers) e menos comissões (muitos destes produtos viram as suas comissões reduzidas para metade). “Estamos a assistir a uma redução de comissões nos Estados Unidos, o que se explica por avanços tecnológicos e pelo crescimento dos ETF. O contexto regulatório está prejudicar fortemente os modelos tradicionais de gestão ativa e nós queremos posicionar-nos de maneira ofensiva; não defensiva”, assegurou numa entrevista concedida a Bloomberg. No entanto, a razão desta mudança não só responde a critérios puramente de aforro de custos. Existem outras razões por detrás desta mudança.     

A razão mais importante passa pelo poder que as máquinas têm para analisar e encontrar rapidamente variáveis que para um ser humano seriam muito difíceis de identificar. Referimo-nos, por exemplo, à aplicação do big data no processamento da linguagem ou na análise das pesquisas na internet. Tudo com o objetivo de dispor de informação relevante que permita ao gestor antecipar-se e gerar alfa.

Por detrás das decisões de investimento que tomam na BlackRock continua a existir a figura do gestor, que é quem toma a decisão final de como se posicionar. Um passo importante neste processo de robotização do investimento acabam de dar duas empresas alemãs, a Acatis e a BayernInvest, que se uniram para lançar para o mercado o primeiro fundo de investimento gerido completamente por uma máquina. Trata-se do BayernInvest Acatis KI Aktien Global Fund, produto de ações globais que é controlado totalmente pela inteligência artificial, já que nenhum gestor intervem no processo de decisão. Ou seja: a seleção dos títulos, o peso que têm na carteira e o reposicionamento serão realizados por uma máquina. O seu modelo de aprendizagem vai-se ajustanto progressivamente ao contexto de mercado e tem como objetivo o investimento com um horizonte de longo prazo. Se este modelo se consolida na indústria, os gestores deverão começar a preocupar-se.