BlackRock: duas motivações que explicam a procura de dívida com rentabilidades que ronda os 0%

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Tomas alexender, Flickr, Creative Commons

O Tesouro dos EUA colocou dívida a três meses a taxa zero pela primeira vez na história, num leilão celebrado no passado dia 5 de outubro. Para além disso, a procura de obrigações foi a maior registada desde o passado mês de junho. Contudo a pergunta é óbvia: que motivação pode ter um investidor de obrigações para comprar dívida taxa zero? Também é o que pergunta Matthew Tucker, responsável da estratégia de obrigações da iShares Americas. “À partida, um título do Tesouro com rentabilidade zero não parece atrativo. No entanto é importante ter em mente que investidores diferentes compram obrigações por razões distintas”, refere.

O especialista da BlackRock dá o seguinte exemplo para ilustrar a informação anterior: “Se o que o investidor procura são dividendos do investimento feito em obrigações, então claro que o indicado não é comprar algo que tenha uma rentabilidade de zero %. Mas se estivermos a falar de um  investidor que procura dívida do tesouro porque quer um lugar seguro onde possa “estacionar” o dinheiro, reduzindo potencialmente o risco da carteira, ou então porque necessita de comprar algo em específico, nesses casos a rentabilidade zero poderá ser o caminho a seguir”. 

A que se refere Tucker quando fala de “comprar algo”? Dá como exemplo os fundos monetários: como apenas podem investir em dívida de curta duração, estão obrigados a comprar esta classe de ativos, embora caia a sua rentabilidade no limite zero. De qualquer das formas, a conclusão do responsável sobre esta classe de investimentos é fatalista: “No contexto atual, as taxas zero é o valor para o qual se dirigem os títulos de dívida do Tesouro norte-americano, tanto se forem comprados num leilão, como no mercado secundário”.

O especialista também aponta exemplos relativos à procura de segurança via investimentos em obrigações: “Uma instituição, com um legado, como um fundo de pensões, podem ter a maior parte da sua carteira em ativos de risco, como ações, e uma porção de títulos de dívida do Tesouro de forma a baixar o risco da carteira. Para um investidor que está à procura de segurança, a rentabilidade de uma letra do Tesouro não é assim tão importante. A maior parte do seu retorno virá dos seus investimentos em ações. Ter bilhetes do tesouro norte-americano em carteira não é para gerar rentabilidade, mas sim para equilibrar o risco vindo das posições mais arriscadas em ações”. Para Tucker, “a realidade é que inclusive um bilhete do tesouro  que rendesse cerca de 1%, não teria um grande impacto no retorno gerado na carteira no seu conjunto”.

Para o responsável, o rumo da dívida soberana norte-americana daqui em diante pode piorar, já que depois do supramencionado leilão de bilhetes a taxas zero, o Tesouro dos EUA celebrou outro leilão que poderá ter terminado com dívida a taxas negativas. “As normas do Departamento do Tesouro  não permitem que se leiloem letras a taxas negativas, pelo que se arredondou para zero. Outros mercados não têm regras similares”, explica Tucker. Dá como exemplo o caso da Suíça, cuja dívida está a negociar a taxas negativas, incluindo as obrigações a dez anos.

A visão de Tucker é de que a Reserva Federal não subirá as taxas de juro até 2016, “o que significa que os títulos próximos de zero por cento continuarão connosco durante mais tempo”. Neste contexto, aconselha que os investidores “pensem cuidadosamente sobre a finalidade do seu investimento em obrigações”. “Se é para distribuir rendimentos, então as taxas zero não terão um grande papel. Mas se o investidor procura obrigações para reduzir o risco em carteira então inclusive as taxas zero podem ser interessantes”, conclui.