BiG subiu ao Norte para conferência que reuniu várias gestoras internacionais

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Dinâmica. Assim começou a apresentação do BiG – Banco de Investimento Global, no Porto, perante uma plateia repleta de clientes, no Hotel Sheraton. Na cidade onde recentemente o Banco abriu sede, foi com questões como qual o preço do crude esperado no final de 2016 ou qual o preço do índice de referência Eurostoxx 50 no final do ano, que a entidade “chamou” a plateia a participar e a fazer-se ouvir acerca dos principais temas de mercado atuais.

Na apresentação conduzida por Rui Broega, head of asset management do BiG, o mote de entrada nas várias temáticas foi dado por Toby Gibb, da Fidelity. O especialista trouxe aos convidados os resultados de um estudo denominado “Onde está o crescimento?”, que reflete a opinião de 177 analistas da casa. Através desse inquérito a entidade fez uma avaliação do sentimento global, tendo por base precisamente um conjunto de cinco indicadores que captam a visão global dos analistas, acerca das empresas que seguem com um horizonte temporal de 3 a 5 anos. Dessas conclusões destaca-se por exemplo o facto de “o crescimento se estar a tornar cada vez mais escasso”, e os “riscos a serem cada vez maiores e mais aprofundados”. Neste contexto chega-se a um crescente ‘gap’ “entre os novos sectores da economia mais largamente representados no seio dos mercados desenvolvidos, e os ‘velhos’ sectores da economia, que são dominantes em muitos mercados emergentes”. O consumo afigura-se como o “principal motor para o crescimento este ano, suportando a contínua inovação que está a mudar a tecnologia em geral, e o sector da saúde em particular”. É com base nisto que a  Fidelity sustenta a preferência, em termos globais, por mercados desenvolvidos, em detrimento dos mercados emergentes, mantendo uma postura cautelosa nos sectores de commodities, e positiva em sectores ligados à inovação.

Stéphane Ruegg, senior client portfolio manager do segmento High Yield & Investment Grade Credit, na Pictet Asset Management, ofereceu à plateia os seus ‘insights’ acerca dos mercados nos quais é especialista. Destacando que o mercado cash ou equivalente é caracterizado por taxas principalmente negativas nos mercados desenvolvidos e que as políticas monetárias expansivas assim deverão fazer com que continue, realçou que há um “grande incentivo a mover os investimentos para fora do segmento ‘cash’”. Para o especialista, a alternativa são as obrigações e mais especificamente, o segmento high yield de curto prazo (0-4 anos). “O risco relacionado com a duration é demasiado elevado”, segundo Stéphane. Com taxas tão baixas, podemos ver um impacto significativo para o downside no segmento investment grade, e o cupão do segmento high yield tem compensado significativamente a volatilidade do preço.

Juanma Jimenez, head da PIMCO para a Ibéria, trouxe aos presentes uma apresentação subordinada ao tema “a nova ordem divergente – perspetivas & riscos num quadro de crescente multipolaridade”. Com um grande enfoque na evolução da economia norte-americana, o profissional começou por dizer que a economia mesma continua resiliente, e deverá continuar a crescer. Colocou ênfase no facto de ser provável que a Fed se mantenha “num ciclo de políticas acomodatícias por mais algum tempo”  mantendo “as taxas de juro em níveis baixos”. No caso da Europa, Juanma lembra que o caminho não é muito diferente. “O BCE quer continuar a ajudar a economia real”, diz, lembrando que o objetivo do Banco Central é “estimular o crescimento do momentum”. Nos mercados emergentes, por seu turno, a palavra de ordem é diferenciação. “Há que escolher os mercados emergentes que se podem sair melhor”, diz numa primeira análise. O segundo ponto que os investidores devem ter em conta é a exposição que os países têm ao petróleo. “Estamos vigilantes em relação impacto do preço do petróleo nessas economas”, afirma.  Resumindo, referiu que “as economias em geral vão assistir a um crescimento mais lento, mas positivo”, existindo três pontos de risco específicos: China, Commodities e a guerra de divisas dos bancos centrais.

O outlook do BiG RESEARCH

Por fim, foi a vez de João Lampreia, head of Research do BiG, dar as suas perspetivas de mercado. Lembrando pontos que já tinham sido referidos durante toda a conferência, o profissional destacou os três factores que podem ser os grandes drivers para o crescimento acionista: o crescimento macroeconómico, o crescimento dos lucros/dividendos, e a expansão dos dividendos. Relativamente a blocos geográficos, destacou que a extensão do ciclo macroecónómico expansionista nos EUA (já acima da média histórica – 75 vs 60 meses) poderá prolongar-se caso o FED adopte políticas monetárias adequadas de forma a minimizar o risco de overshoot de inflação no longo prazo, o que poderia obrigar o FED, no futuro, a subir taxas demasiado rápido e/ou demasiado tarde, o que acarretaria um impacto amplamente negativo sobre a actividade económica e respectivos activos de risco. Já na Europa, acreditamos que  com o recente overdelivery do BCE no que respeita o reforço das políticas de QE, o impacto da introdução dos TLTROs e a compra de dívida Corporativa IG deverá, em concomitância com a reversão em curso do sentimento do mercado de commodities e um eventual plano de expansão fiscal a nível pan-Europeu poderá ser globalmente positivo e aproximar num prazo entre 12-24 meses os objectivos pretendidos pelo BCE para a evolução do target de inflação de longo-prazo.

Ainda assim, as tendências do Mundo mantêm-se profundamente divergentes, tanto do ponto de vista macroeconómico como do ponto de vista monetário, bem como é evidente uma acentuada dicotomia entre a competitividade/momentum entre economias desenvolvidas e emergentes, do qual o contexto negativo ao nível do mercado de commodities contribuiu para fomentar um cenário ainda mais fracturante. Refira-se que “o bloco emergente tem vindo a perder muita competitividade, e há quatro anos que se tem vindo a ajustar”, referiu, pelo que poderemos estar próximos de um eventual nível de “capitulação”.

Em relação ao mercado accionista, João Lampreia colocou “sinal mais” na classe de activos Equity Europa, suportado pelo impacto benigno das políticas de QE, pelo estágio de recuperação dos lucros das empresas Europeias, um eventual retracement da divisa Europeia e pelo nível de avaliação fundamental relativamente atractivo quando comparado com outros blocos geográficos e/ou mesmo classe de activos. No mercado de dívida, revelou preferência pelo segmento high yield, sobretudo na Europa, ainda que se mantenha construtivo numa maior alocação táctica em high yield nos EUA que deverá, não obstante enfrentar um conjunto de riscos específicos (incremento taxas de default no sector energético), manter-se atractivo no momento actual. No mercado acionista nacional destacou a visão positiva que têm para empresas como a Navigator, essencialmente pelo seu nível de geração de cash e perfil integralmente exportador, isto para além de referir outros nomes como a Sonae e NOS. No caso da primeira, em função de um eventual contributo mais favorável dos resultados indirectos e da revalorização dos activos comerciais e pela relativa estabilização, em volume e margens, do negócio core (retalho alimentar), ao passo que a NOS (na qual a Sonae detém uma participação directa e indirecta) mostra-se excessivamente penalizada face ao sector no período YTD, em resultado do impacto negativo que decorreu da celebração dos conteúdos desportivos celebrados com os rivais de Lisboa (SLB e SCP), sendo ainda bastante complexo perceber como o management irá proceder à monetização desses mesmos conteúdos. Não obstante, as remanescentes unidades de Negócio (RGUs) continuam a evidenciar uma dinâmica positiva (único player em Portugal que exibe esta tendência), com ganhos de quota  de mercado e ainda estimamos um provável cenário de expansão de margens (ARPU) por via do reforço das políticas de convergência 5P.