Bancos americanos vs europeus: O que está por detrás da sua evolução tão díspar?

João Pisco_Bankinter
Cedida

O setor bancário nos EUA acumula uma valorização superior a +130% nos últimos 10 anos vs -33,5% no setor bancário europeu. A evolução das respetivas métricas de negócio – volumes, eficiência, solvência e rentabilidade – explicam a divergência existente nos múltiplos de avaliação (entre 1,0/1,4 nos EUA vs 0,4/0,8 na Europa).

O setor bancário americano atravessa um bom momento em termos de resultados e rentabilidade. Os indicadores de qualidade creditícia evoluem positivamente e os rácios de capital encontram-se em níveis elevados. Os lucros recorrentes crescem a um ritmo de dois dígitos e o ROE é superior a 12% (12,5%/20,0% nas maiores entidades).

O excesso de rentabilidade dos bancos no EUA está estreitamente relacionado com os seguintes fatores: (i) rápida “limpeza” dos balanços dos bancos e posterior recapitalização após a crise financeira em 2007/2008; (ii) solidez do ciclo económico expansivo – um dos mais longos na história nos EUA; (iii) normalização da política monetária por parte da Fed, com quatro subidas dos juros em 2018 e três em 2017, para um intervalo de 2,25%/2,50% (vs 0,0$/-0,40% na UE); (iv) enforque estratégico das entidades, direcionado para a eficiência nos negócios core no início da crise e, depois, para o crescimento e (v) dimensão das entidades. Com um volume de ativos compreendidos entre 2,2/2,5T€, os dois principais bancos dos EUA (JP Morgan e BoA) ultrapassam largamente bancos como o BNP (2,0T€), Deutsche Bank (1,8T€) ou Santander (1,5T€).

Na Europa, os rácios de capital são também confortáveis e a qualidade creditícia melhora, embora exista maior disparidade entre as entidades. O volume de NPLs representa aproximadamente 20%/30% do capital das entidades em países como França, Espanha e Holanda, mas alcança os 75,0%/80% nas duas principais entidades italianas (Intesa e Unicredit), sendo que o MPS e o BPM registam níveis superiores a 180% e 130%, respetivamente.

Com as taxas de juro de referência a zero/negativas, as receitas crescem apenas +2,0%/3,0% e a eficiência transforma-se num fator crítico para alcançar um crescimento no Resultado Líquido de +4,0%/6,0%. De facto, os planos estratégicos de bancos como o Deutsche Bank, BNP, SocGen ou Unicredit, contemplam uma redução importante ao nível dos custos. Neste contexto, o ROE situa-se próximo dos 8%/9% e poucas entidades superam o limite de 10%/11%.

De que forma implementamos a nossa estratégia de investimento?

Nos EUA, a nossa estratégia centra-se em entidades com as seguintes características: (i) os resultados refletem um comportamento relativamente melhor a nível operacional como o Bank of America e (ii) o plano de negócio baseia-se em melhorias de eficiência (Citigroup). Entre as entidades mais dependentes da evolução dos mercados, preferimos o Goldman Sachs ao Morgan Stanley.

Na Europa, as nossas preferências recaem sobre entidades com: (i) elevada diversificação geográfica e exposição a mercados com maior potencial de crescimento (Santander); (ii) apresentam bons fundamentais e rentabilidade por dividendo atrativa (ABN AMRO); (iii) Têm rácios de capital CET-I superiores aos seus concorrentes e múltiplos de avaliação atrativos (Crédit Agricole) e (iv) contam com um plano de negócio realista e orientado para melhorias de eficiência (Unicredit).