Banco Carregosa: “A potencial ineficácia dos estímulos monetários na reaceleração do ciclo económico é preocupante”

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(Perspetivas traçadas por Mário Carvalho Fernandes, CFA, Diretor de Investimentos e Tiago Gaspar, responsável pela Análise e Selecção de Fundos do Banco Carregosa)

O que esperam de cada uma das principais economias  no ano de 2019?

Estados Unidos da América

A economia dos EUA tem um peso bastante elevado do consumo interno, o que lhe permite enfrentar períodos de maior abrandamento da economia global com maior resiliência. Apesar dessa resiliência, os sinais de abrandamento com que se terminou o primeiro semestre do ano vieram alterar a postura da reserva federal norte americana, que deverá prosseguir uma política monetária mais expansionista no segundo semestre, revertendo as subidas de taxas de referência mais recentes. De facto, tal como seria expectável, as autoridades monetárias globais, nesta fase do ciclo, estão a privilegiar errar por eventualmente estimular excessivamente a economia do que por causar um abrandamento mais abrupto do ciclo económico. Isto justifica que aos primeiros sinais de abrandamento, Jerome Powell tenha alterado a postura. O segundo semestre do ano vai trazer alguma luz sobre a capacidade de se evitar a recessão que os mercados de obrigações anteveem e de se manter a economia americana num ambiente de “goldilocks” como é a esperança presente nos mercados acionistas.

Europa

O forte abrandamento do comércio global causado pelo escalar da guerra comercial, em particular entre os EUA e a China, tem prejudicado de forma significativa as economias mais expostas ao comércio internacional. O forte abrandamento da atividade manufatureira tem sido mais evidente nas economias com um peso das exportações sobre o PIB mais elevado. A zona euro tem sido particularmente afetada por esta instabilidade e, no segundo semestre, a tendência deverá manter-se frágil. Ainda não se vislumbram evoluções positivas nas negociações entre Xi e Trump, o Brexit continua a ser uma ameaça latente e existe ainda o risco de uma tomada de posição mais dura de Trump face à política comercial com a Europa. Enquanto o mercado interno continuar resiliente, a zona euro deverá conseguir continuar em crescimento, ainda que numa velocidade cruzeiro muito reduzida. Os estímulos da política monetária deverão permitir que o mercado de crédito continue a funcionar e o abrandamento económico não seja demasiado abrupto, mas parece menos provável que sejam propulsores significativos de uma forte retoma da atividade económica. Deste modo, é expectável que o BCE mantenha um posicionamento expansionista até, pelo menos 2020.

China

Os estímulos monetários reintroduzidos no final de 2018 ainda não surtiram os efeitos que seriam expectáveis. A turbulência causada pelo aumento das tensões entre Trump e Xi, além de introduzir algum ruído nos indicadores económicos, têm contribuído para um maior arrefecimento da economia chinesa, que ainda depende de forma significativa do comércio global para suportar a sua atividade económica num regime elevado.

Dada a forte intenção da China levar adiante a iniciativa Belt and Road, as tensões entre China e Estados Unidos deverão perpetuar-se no tempo, com períodos de acalmia a serem seguidos de períodos de maior tensão. No curto prazo, ambas as partes têm interesse em que o nível de confrontação não se agrave, pelo que nos próximos meses deverá haver algum espaço para a recuperação do otimismo em relação ao futuro comércio global e da recuperação da economia chinesa.

Japão

A economia japonesa também tem sentido os impactos negativos do forte abrandamento do comércio global. Após um forte início de 2019, os meses mais recentes têm vindo a demonstrar uma desaceleração da economia japonesa. Em Outubro, caso Abe não retroceda nas suas intenções em consequência do recente abrandamento, irá ser implementado um aumento do imposto sobre as vendas dos atuais 8% para 10%, o que deverá contribuir para um novo abrandamento da economia. Assim, o Japão também não deverá contribuir para uma reaceleração da economia global no segundo semestre nem deverá haver alteração do posicionamento do BoJ relativamente ao controlo da yield curve.

Quais as classes de ativos melhor posicionadas para uma boa performance no segundo semestre?

Num ambiente de contínuas tentativas de reflação e reaquecimento da atividade económica por parte dos bancos centrais, as classes de ativos que mais beneficiam serão os ativos reais e os ativos expostos ao ciclo económico. A nova postura da FED poderá manter o mercado acionista suportado, nomeadamente se conseguir estabilizar a economia norte americana evitando uma recessão. Um soft-landing dos EUA poderá relançar a esperança nos investidores de que o futuro será menos turbulento do que os anos mais recentes.

No entanto, a história revela que embora seja real a hipótese de soft-landing as probabilidades não são favoráveis. Assim, os mercados acionistas são os mais atrativos no binómio risco e retorno, mas tendo em conta os riscos inerentes a esta fase do ciclo económico, será preferível ter exposição por via de ativos com um estilo de qualidade.

Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?

A potencial ineficácia dos estímulos monetários na reaceleração do ciclo económico é particularmente preocupante, pois tem sido um dos pilares da estabilidade da economia global. Embora esse não seja o cenário central, será algo que terá de ser monitorizado de forma atenta. O mercado estará ainda a acompanhar o término do período de tréguas entre os EUA e China ou a procura de novos “alvos” para guerras comerciais pelos EUA – algo que está à distância de um tweet.

Qual o fundo de investimento recomendam para o segundo semestre de 2019 e porquê?

Dado o espectro alargado de cenários devido aos frágeis equilíbrios entre política monetária, fiscal e comercial; nesta fase será adequado perseguir diversificação nos portfólios em termos de classes de ativos e, dentro das classes, procurar ativos de qualidade (i.e. empresas com balanços mais sólidos e cash flows mais resilientes). O fundo Acatis Gané Value Event é um investimento que representa adequadamente as necessidades atuais dos investidores.

Quais os temas onde procuram alternativas de investimento?

Nas carteiras de alocação consideramos interessante incluir o setor de empresas mineiras de ouro, uma vez que consideramos que no conjunto de cenários futuros alternativos possíveis poderá haver um binómio risco rentabilidade interessante para este tema de investimento, nomeadamente quando analisado no conjunto de uma carteira diversificada, pela sua correlação negativa com os restantes ativos de risco na maior parte dos cenários e também porque dado o stock de obrigações com yields negativas, o interesse relativo no ouro pode aumentar.