Baixar o salário ao gestor se não conseguir ultrapassar o mercado: a nova tendência

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A disrupção chegou à indústria de gestão de ativos. E fê-lo particularmente desde que os ETFs começaram a ganhar terreno aos fundos ativos. Ao longo dos últimos anos, nos Estados Unidos as saídas de dinheiro dos produtos de gestão ativa da bolsa americana foram muito grandes, fluxos que foram para os produtos de baixo custo que investem no mesmo mercado, neste caso as ações americanas. Foi uma das categorias que mais enganou os investidores. Por essa razão, fartos de pagar comissões elevadas por rendimentos baixos, os investidores americanos começaram a desfazer-se dos fundos mais caros e a comprar aqueles mais baratos, principalmente ETFs e produtos indexados.

Isto está a obrigar a indústria americana a reagir em várias frentes. Em primeiro lugar, a reduzir as comissões de fundos, uma tendência que veio a ser verificada no setor ao longo dos últimos vinte anos. Em segundo lugar, simplificar gamas, o que na prática significa desfazer-se de todas aquelas estratégias que não contribuem com valor adicional e que, na realidade, a única coisa que faziam era cobrar uma comissão de gestão ativa por investir numa estratégia próxima do índice de referência (os famosos closet trackers). E, em terceiro lugar, vincular o comissionamento das comissões aos resultados oferecidos pelos produtos, uma abordagem ainda minoritária na indústria mas que a Fidelity, Allianz Global Investors ou AllianceBernstein já começaram a fazer.

No entanto, a indústria não está a ficar por aí e, consciente da necessidade de ganhar credibilidade perante os seus clientes, está a procurar fórmulas adicionais que permitam convencer o investidor da existência de um alinhamento de interesses entre gestoras e participantes. A última: baixar o salário ao gestor se este não conseguir ultrapassar o mercado. É a nova fórmula que Peter Kraus criou. Foi presidente e diretor executivo da AllianceBernstein durante quase nove anos e o objetivo é manter a dedicação entre os gestores, para não baixarem a guarda na sua batalha para ultrapassar em rentabilidade os produtos indexados. E vai colocá-la em prática na Aperture Investors, a nova empresa que acaba de criar e da que também é o responsável máximo.

De facto, esta nova empresa baseia-se no conceito que defendeu nos seus últimos meses na AllianceBernstein: os gestores ativos apenas deverão cobrar comissões mais altas do que os ETFs quando os seus produtos ultrapassarem o mercado. A sua gestora arranca com 4.000 milhões de dólares de dinheiro derivado da seguradora italiana Assicurazioni Generali, com a qual acaba de lançar o seu novo projeto. “O modelo de receitas da Aperture Investors é único e baseia-se em cobrar comissões semelhantes às dos ETFs, que apenas sobem se os gestores tiverem sido capazes de ultrapassar os seus respetivos benchmarks. Da mesma forma, paga-se um salário base modesto aos gestores. Só podem ganhar mais quando gerarem um rendimento superior ao do índice”, explicam.

“Trata-se de um modelo muito diferente da estrutura de taxa fixa tradicional na qual é paga aos gestores em função do volume de ativos geridos. Atualmente há demasiados gestores ativos que gerem demasiado dinheiro. As comissões fixas e a ausência de limites à capacidade real dos fundos incentivaram desde há muito tempo o aumento, por parte dos gestores, dos seus ativos sob gestão, em vez de procurar uma rentabilidade superior”, denuncia Kraus.

No seu entender, esta estrutura levou a anos de resultados fracos, que desgastaram a confiança do cliente na gestão ativa. “Temos a intenção de mudar isto, alinhando os interesses dos gestores e os do cliente em relação àquilo que representa oferecer rentabilidades superiores às dos ETFs. Os investidores preferem pagar pelos resultados do que pagar independentemente de quais forem, e a única forma de o fazer é pôr um fim ao modelo de honorários fixos baseado no património gerido”, conclui.