Aspetos essenciais para começar a utilizar corretamente ETFs fatoriais em carteira

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José_Eduardo, Flickr, Creative Commons

Pouco a pouco, os fornecedores de gestão passiva conseguiram atrair a atenção dos investidores sobre o investimento em fatores, como uma forma barata e transparente de ajustar as carteiras. Na Funds People perguntámos a vários fornecedores quais os fatores que recomendam utilizar, a fim de construir exposições no contexto do mercado atual, e como aplicá-los adequadamente.

O investimento em fatores ou o factor investing consiste em investir em ativos, tentando isolar uma ou várias fontes de rentabilidade. A rotação ou a combinação de fatores permite construir carteiras flexíveis e diversificadas, e oferece a possibilidade de obter rendimentos sem qualquer tipo de relação entre si. Os fatores mais populares são o tamanho (exposição por capitalização para ganhar prémios pela diferença de valorização entre pequenas e grandes cotadas), o value (exposição a valores cuja subvalorização não é justificada pelos seus fundamentais), o momentum (exposição aos valores com melhores rendimentos nos últimos 12 meses), a baixa volatilidade (exposição a valores com um beta baixo), a qualidade (exposição às empresas que apresentem modelos de negócio mais sólidos) e os rendimentos (exposição a empresas que têm uma política de remuneração para o acionista sustentável no longo prazo).

Posicionados para o fim do ciclo…

“Na parte do ciclo em que nos encontramos, as estratégias que estão centradas em small caps são favoráveis e, enquanto a volatilidade continuar estável, as estratégias de momentum irão continuar a ter um bom comportamento”, comenta em primeiro lugar César Muro, Responsável de Gestão Passiva para a Península Ibérica da DWS. Este acrescenta que os investidores deverão começar a incorporar outro fator na parte final do ciclo, o da qualidade. O objetivo é “não estar expostos a empresas com uma grande alavancagem e sobreponderar empresas com um grande ROE e lucros estáveis”. O especialista sugere três veículos para implementar as exposições: o Xtrackers MSCI Euro Small Caps UCITS ETF para obter exposição ao fator tamanho, o Xtrackers MSCI World Momentum UCITS ETF para se expor ao momentum, e o Xtrackers MSCI World Quality UCITS ETF para começar a investir na qualidade.

“Mantemos uma sobreponderação robusta no fator momentum. A sua força relativa continua a ser muito forte e as valorizações futuras parecem neutras”, declara Aitor Jauregui, responsável de negócio da BlackRock para a Península Ibérica. O responsável acrescenta que este fator “também resiste bem em períodos de abrandamento, embora acreditemos que os níveis positivos de crescimento atual sustentam as tendências estáveis”.

Esta última razão explica, além disso, que na BlackRock tenham passado de estar ligeiramente subponderados no fator qualidade para estar neutros. “Pelo contrário, as valorizações de curto prazo levaram-nos a subponderar ligeiramente o fator value, o mesmo posicionamento que damos ao fator da mínima volatilidade que aumenta um nível, devido ao facto de o contexto atual ser favorável para este fator defensivo”.

A State Street Global Advisors (SSGA) propõe a sua gama Dividend Aristocrats. São ETFs que oferecem exposição às ações que apresentam um maior rendimento por dividendo, mas com uma componente de qualidade, ao focar-se em empresas rentáveis, com uma posição financeira sólida e uma política de dividendos sustentável. O objetivo é identificar empresas que paguem dividendos em dinheiro e de forma contínua no longo prazo (por exemplo, o requisito para selecionar empresas norte-americanas é que tenham vindo a remunerar os seus acionistas de forma consistente durante pelo menos 20 anos).

Para se adaptar às alterações do mercado, a estratégia revê a composição dos seus índices trimestralmente. Os critérios são muito rigorosos: o cancelamento do dividendo será motivo de exclusão, mas também a redução da sua quantia; todos estes casos são interpretados como um sinal da diminuição do balanço e, por isso, estas empresas são excluídas para que continue a prevalecer o critério de qualidade.

Daniel Ung, estratega de ETFs de ações da SSGA, destaca em último lugar a componente defensiva da gama: “O bias de qualidade é importante para ajudar a enfrentar eventos, tal como durante o passado mês de fevereiro, quando o mercado registou um aumento de volatilidade. Este tipo de estratégias permite aos investidores protegerem-se das quedas dos mercados. Também beneficiam dos mercados em alta, mas em menor escala, pela natureza essencialmente defensiva da sua metodologia”.

… ou para começar a investir

Juan San Pío, responsável da Lyxor ETF para a Península Ibérica e para a América Latina, dirige-se, por outro lado, aos investidores iniciantes: “Para se introduzir no mundo do investimento consideramos que uma boa opção será a de investir num ETF multifator, que representa a rentabilidade de um cabaz de ações composto por valores que integram os cinco índices de fatores principais (value, baixa capitalização, qualidade, baixo beta e momentum), tendo cada fator a mesma importância na composição”. A razão por detrás desta recomendação é que este permite conseguir uma exposição diversificada de forma eficiente. O representante da Lyxor dá como exemplo dois produtos com os quais pode começar a investir: o Lyxor J.P. Morgan Multi-Factor World Index e o Lyxor J.P. Morgan Multi-Factor Europe Index.

Pedro Coelho, diretor da UBS ETF na Península Ibéria, acredita que o investimento multifatorial “permite uma alocação de carteira mais diversificada sem depender totalmente do comportamento de um fator específico”. Coelho explica que o investimento em fatores pode representar desafios para o investidor quando este fizer a rotação de fatores em carteira e estabelecer os períodos de investimento, e por esta razão indica que a opção multifator “é preferível para muitos investidores pela sua estabilidade em termos de rentabilidade e risco”. A sua recomendação para começar a investir é o UBS ETF MSCI USA Select Factor Mix.

Laure Peyranne Rovet, responsável de relacionamento com clientes de ETFs da Amundi, recomenda um ETF no qual a Amundi foi pioneira, pois oferece exposição multifatorial a ações europeias, que é neutro ao mercado, o Amundi ETF Istoxx Europe Multi-Factor Market Neutral UCITS ETF. “Com as taxas de juros a roçar os níveis mínimos históricos e o regresso da volatilidade, os investidores procuram soluções que lhes permitam beneficiar da rentabilidade oferecida pelas ações, atenuando ao mesmo tempo as turbulências dos mercados”, explica a especialista.

O ETF proposto consegue cumprir com estas características, ao combinar uma exposição longa ao índice Istoxx Europe Multi-Factor (net return) e uma exposição curta a futuros europeus através do índice STOXX Europe 600 Futures Roll EUR Excess Return para cobrir o beta do mercado e, assegurar assim, uma exposição neutra. “O formato de ETFs permite aceder a uma estratégia long/short de uma forma transparente e eficaz em custos, com gastos de apenas 0,55%, cumprindo ao mesmo tempo com os requisitos UCITS “, conclui Peyranne.