As verdades inescapáveis

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Terminado um ano difícil para a gestão de ativos e de patrimónios, a Schroders organizou, como habitual, a sua conferência anual para investidores em Lisboa, onde diversos profissionais da casa de investimentos britânica esclareceram temas, introduziram soluções de investimento alternativas e expuseram algumas das  “the inescapable truths” que afetam e afetarão a nossa forma de olhar para o mundo e gerir os investimentos. Perante uma plateia com quase 200 profissionais de investimento, foram destacadas verdades, como a demografia envelhecida, retornos reduzidos nas obrigações ou um brando crescimento global. Introduzindo a conferência, a responsável pelo negócio da entidade gestora em Portugal e Espanha, Carla Bergareche desenhou o cenário daquele que foi um dos anos mais atípicos dos mercados e do momento que vivemos presentemente. “Praticamente todas as classes de ativos perderam valor em 2018, seja pela pressão das subidas de taxas nos EUA, guerras comerciais ou a disrupção política causada por episódios como o Brexit. Depois de um excepcional ano de 2017, 2018 surgiu cheio de más de notícias que afetaram mercados que estavam ‘priced for perfection’”, comentou a profissional.

39815138603_0ac91a0630_zCarla Bergareche realçou também a forma como este cenário afetou os fluxos para fundos de investimento. “A nível global vimos os fluxos a recuar significativamente, a par com um crescimento acentuado da procura por estratégias passivas. Se focarmos na Europa, os resgates foram concentrados em fundos de obrigações, enquanto vimos procura por estratégias multiativos de rendimento, ações globais, ações de mercados emergentes e, mais especificamente, de ações chinesas. Em Portugal vimos também fluxos de saída de estratégias de obrigações, mas alguma procura por fundos mistos de rendimento, ações europeias e ações norte-americanas”, resume.

Mas focando no que está para vir, a responsável pelo negócio ibérico da Schroders descreve um cenário tenebroso. “Volatilidade, incerteza, complexidade, ambiguidade... são todas palavras a que nos temos que acostumar e que refletem a nova norma do mundo do investimento. Isto não só em 2019, mas também em toda a próxima década. Uma demografia em mudança, mutações estruturais, disrupção tecnológica... são apenas algumas das coisas que estão a mudar rapidamente o nosso mundo e a impactar a forma como se investe. São o que chamamos de ‘verdades inescapáveis’”, expôs Carla Bergareche. “Mas existe uma luz ao fundo do túnel. Existem sempre oportunidades. Mas os investidores terão que se esforçar mais na sua alocação e seleção de ativos. Para aumentar os retornos, os investidores terão que ter a mente aberta a novas ideias de investimento e acreditamos que a estrutura da Schroders está muito bem preparada para ajudar os investidores a realizar este percurso. A gestão ativa e a geração de alfa serão de especial importância neste contexto”.

Expetativas elevadas

46055483694_9c98a8561a_zCharles Prideaux, responsável global de Produtos e Soluções, construiu o seu discurso na base lançada por Carla Bergareche. “Os ventos favoráveis da última década estão a tornar-se os ventos desfavoráveis dos próximos anos. E se a isto sobrepusermos as forças disruptivas, veremos também alguns ventos cruzados a dificultar o caminho. Beneficiámos de 10 anos de um cenário bastante robusto, mas à medida que projetamos o que está para vir, vemos que teremos que lidar com menores retornos, praticamente em todas as geografias, à exceção dos países emergentes onde vemos um cenário mais positivo do crescimento e volatilidade. Se olharmos para as obrigações em particular, o contexto é ainda mais sombrio e os retornos do passado recente não se voltarão a repetir”, atesta.

Charles Prideaux destacou também o quão duro terá que ser o trabalho para que se consigam retornos decentes. “Isto porque as expectativas dos nossos clientes são muito elevadas. Num inquérito que realizámos a investidores globais, mais de metade dos respondentes referiram almejar retornos futuros entre os 5% e os 20% por ano. E isto é assustador. Mas todos temos a responsabilidade de identificar fontes de retornos individuais onde se possa encontrar algum alfa, bem como manter um horizonte de longo prazo, olhando para lá desta volatilidade de curto prazo”, atesta o especialista.

Oradores de valor

Foi, então, neste contexto que a entidade gestora britânica elegeu um conjunto de oradores e estratégias específicas que consideram preciosos para ajudar os investidores a enfrentar o cenário taciturno  do mercado. Azad Zangana, senior european economist, proporcionou a visão da casa sobre as guerras comerciais, disrupção política e o outlook para a economia global. Paul Grainger, responsável de Obrigações Multi-Sectoriais Globais comentou os desafios e oportunidades do mercado de obrigações. Alan Cauberghs, responsável pelo segmento de Private Assets descreveu como estas classes de ativos podem adicionar valor e ajudar a capturar o prémio de iliquidez. Martin Skanberg, gestor de Ações Europeias, descreveu as razões pelas quais as ações europeias ainda conservam valor e as estratégias para o capturar e, por fim Stephen Kam, co-responsável de Product Management de Ações Asiáticas ex Japão redefiniu e esclareceu as oportunidades que o acesso a ações classe A chinesas configuram.