As três questões macro que dominarão o segundo trimestre de acordo com a BlackRock

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Edwin Torres, Flickr, Creative Commons

O primeiro trimestre de 2017 ficou marcado por uma melhoria generalizada do ambiente macro e das expectativas de crescimento global. Ao longo do primeiro trimestre também se resolveu a questão da reflação, em grande parte graças ao efeito base da recuperação dos preços da energia. A novidade é que esta recuperação tem sido sincronizada em várias regiões: “as economias não norte-americanas contribuíram tanto quanto os Estados Unidos para a subida do nosso GPS para o G-7 este ano. Isto marca uma reviravolta relativamente a 2016, quando os Estados Unidos eram a locomotiva do crescimento”, indicam na BlackRock.

A conclusão da gestora é que “a recuperação económica global está a alastrar-se, e vemos uma margem para que as estimativas de consenso aumentem à medida que a reflação ganha tração”. Com este ambiente macro incipiente, a gestora acaba de apresentar os grandes temas macro que acreditam que irão dominar o segundo trimestre, abaixo explicados.

#1 Extensão da reflação

Observamos um ponto de viragem no crescimento, inflação e na política monetária. Os mercados estão a alcançar estas dinâmicas rapidamente alteráveis”, afirmam na gestora americana. Devido a estas razões, pensam que poderá observar-se “uma recuperação global sincronizada dos lucros corporativos, que estão a suportar as ações”. A confirmar-se esta tendência, deverá adicionar-se o efeito reflacionário de outros fatores de apoio: “a disciplina de custos (em matérias primas), a esperança de um relaxamento regulatório (no sector financeiro) e inovação (na tecnologia) estão a contribuir para fortes expectativas de lucros em 2017”.

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Na BlackRock consideram que o momentum nos lucros está a ser particularmente forte no Japão e emergentes, ainda que também demonstre solidez na Europa, pelo que preferem ter uma exposição a ações nestas regiões. Por outro lado, observam que “a aposta em Trump parece estar a tomar um novo fôlego nos Estados Unidos”, uma vez que as small caps e os valores com inclinação value – como os bancos – registaram um comportamento inferior nas fases inicias do ano, depois de um forte rally posterior às eleições.

De qualquer das formas, na gestora chegam a duas conclusões. A primeira é que “os fortes retornos das ações a nível global, incluindo as small caps japonesas, sugerem que o nosso tema de reflação permanece intacto”. A última conclusão é que “o fortalecimento da reflação reforça o nosso ponto de vista de que já vimos o mínimo nas yields de títulos a nível global, depois de um declínio durante várias décadas”. Como tal, a expectativa na BlackRock é de que “a maioria dos mercados de dívida soberana sejam postos à prova este ano”, num contexto em que muitos deles “carecem de proteção para se defenderem face a uma perda de capital, à medida que as taxas vão subindo”. Esta falta de proteção é especialmente evidente no caso dos bancos centrais da Europa e Japão, onde os especialistas veem limites na capacidade de subir taxas devido ao facto de que ambas as instituições “parecem estar dispostas a manter políticas ultra acomodatícias”.

Para terminar esta previsão, na BlackRock observam que “muitos investidores estão prontos para apostar em ativos com maiores yields de forma a receberem algum rendimento”, tudo isto num contexto de economias dominadas pelo envelhecimento da população e taxas de crescimento historicamente débeis, dois fatores que atuam como travões.

Esta visão macro leva a BlackRock a consolidar a sua preferência por ações relativamente a obrigações. “Historicamente, as ações têm-se comportado bem em ambientes reflacionários, porque estão conectadas ao crescimento global e oferecem benefícios de diversificação”.

#2 Retornos mais baixos

A expectativa dos analistas para uma carteira modelo de 60/40 de ações norte-americanas e uma carteira diversificada de títulos é de que produza uma rentabilidade inferior a 4% anuais nos próximos cinco anos (face aos retornos de 10% gerados entre 2012 e 2016). Em geral, preveem que todas as classes de ativos produzam retornos inferiores aos do ano passado. “A gestão ativa pode, potencialmente, melhorar os retornos, especialmente em classes de ativos onde a chave é ter um conhecimento especializado. Para gestores que tenham historial de rentabilidade superior ao do mercado, o set de oportunidades é mais amplo que os índices, especialmente se existirem poucas alternativas líquidas passivas e de baixo custo disponíveis”, clarificam.

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Neste contexto, os especialistas consideram que o maior desafio que os investidores enfrentam vem do lado das obrigações: “alguns dos maiores sectores de obrigações, como os títulos soberanos, oferecem rentabilidades irrisórias, ou até mesmo negativas. Muitos, tal como os títulos soberanos japoneses, também têm uma duration relativamente longa. As rentabilidades ultrabaixas expõem os detentores de títulos a um risco significativo das taxas de juro”. Por outro lado, os sectores que ainda oferecem uma rentabilidade decente são relativamente pequenos e estão a ficar cada vez mais caros, como acontece com a high yield norte-americana e na dívida corporativa emergente. “Esta disparidade é uma das razões para ser cauteloso e dinâmico nas obrigações, e estar em alerta face ao risco de recuperação repentina da rentabilidade”, acrescentam os especialistas.

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#3 Outra forma de diversificação

Os especialistas alertam para o facto de os níveis de volatilidade das ações estarem anormalmente baixos apesar da incerteza que surge da frente política. “De facto, a volatilidade parece estar extraordinariamente deprimida em todas as classes de ativos, à exceção das taxas de câmbio”, destacam. A isto terá que se acrescentar que as correlações entre ações e sectores de ações também caíram fortemente nos Estados Unidos e na Europa. Trata-se da rutura de uma poderosa tendência que tem marcado os últimos anos, quando o comportamento de muitas classes de ativos esteve diretamente associado às injeções de liquidez proporcionadas pelos bancos centrais.

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Neste contexto, na gestora acreditam que a obrigações continuam a manter a sua capacidade de absorção de shocks na carteira durante momentos de stress… “mas estas oferecem pouca segurança no contexto atual de baixas taxas”, pelo que recomendam aos investidores empregar mais ferramentas de forma a conseguirem uma diversificação mais ampla, “incluindo exposições fatoriais e a classes de ativos como dívida privada e ativos imobiliários”.