As small caps podem portar-se bem em tempos de desaceleração económica?

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As dúvidas sobre o crescimento da economia global estão a pesar cada vez mais no mercado de ações. Por isso, cada vez são mais as gestoras que recomendam adotar um viés defensivo na hora de construir as carteiras com uma maior propensão para incluir empresas de maior capitalização face à ideia generalizada de que tendem a ser menos voláteis em contextos de mercado difíceis como é o atual. Assim, estarão mais protegidas no caso de que se materialize essa recessão que o mercado tanto teme.

Não obstante, o facto de uma empresa ter uma grande capitalização em bolsa nem sempre implica que tenda a comportar-se melhor em momentos complicados de mercado, sobretudo para quem conta com um horizonte de investimento a longo prazo. “Acreditamos que na hora de selecionar small caps é preciso olhar para a qualidade, crescimento e momentum. Acredito que, além disso, as small caps têm mais possibilidades de serem flexíveis e adaptarem-se a períodos de desaceleração económica”, afirma Andrew Paisley, responsável de pequenas empresas na Aberdeen Standard Investments.

De facto, na gestora recordam que a longo prazo o investimento em pequenas empresas foi muito mais rentável do que o realizado nas grandes já que desde o ano 2000 o índice MSCI World Small Caps registou uma rentabilidade de 455% face aos 210% que conseguiu o MSCI World no mesmo período.

Além disso, calculou o prémio de rentabilidade anual que deixou o investimento em small caps desde o ano 2000 em diferentes regiões. Com a exceção de países como Hong Kong ou Noruega, a realidade é que o investimento em small caps foi em média mais rentável. Em concreto, o prémio médio de rentabilidade anual foi de 5,5% durante este período.

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A questão agora é se o prémio se manterá na próxima década, que tem probabilidade de ser muito diferente da passada relativamente à expectativa de rentabilidade que se pode esperar do mercado — na Robeco, por exemplo, não dão mais de 4% de rentabilidade anual a nenhum dos ativos tradicionais numa perspetiva de cinco anos – e também tendo em conta a menor globalização das empresas à medida que avança a guerra comercial.

Por isso, os gestores coincidem em que tudo dependerá do stock picking de títulos. “O que nos importa nestas empresas é o crescimento que apresentam, não as valorizações, e estamos convencidos de que nos próximos anos este tipo de investimentos continuará a gerar um prémio de rentabilidade independentemente do ciclo de mercado”, aponta Paisley.

Por sua parte, Alistair Wittet, assessor de investimentos da Comgest Growth Europe defende que para continuar a atingir esse prémio de risco no mercado de ações é necessário “investir em empresas que contem com uma alta qualidade e com potencial de crescimento dos lucros por ação de duplo dígito”. Além disso, dão muita importância à capacidade que as empresas têm para gerar um crescimento sustentável no tempo e a geração de dinheiro que apresentam.