Os seis pontos chave que explicam o auge da procura por produtos UCITS alternativos

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Ferendus. Flickr. Creative Commons

As condições de mercado catapultaram o interesse por produtos UCITS alternativos. Foi possível notar este facto através do incremento dos headlines nas notícias, na inovação e lançamento de produtos e, especialmente, pelos fluxos: os fundos UCITS alternativos atraíram 70.000 milhões de euros em 2015, 30% mais do que em 2014 (dados da Morningstar). Em 2016, perante a queda a nível mundial do património dos hedge funds durante o primeiro trimestre, os UCITS alternativos registaram fluxos de entrada de 13.000 milhões de euros. Segundo dados da Lyxor AM, foram os únicos a experimentar entradas de capital significativos este ano, 7.700 milhões no primeiro trimestre, dos quais 3.600 milhões de euros entraram em março.

Um dos sectores que mostrou mais interesse por esta classe de produtos nos últimos meses tem sido a banca privada. Daniele Spada, responsável da managed account platform da Lyxor AM, chama a atenção para o forte contraste entre o aumento da procura por UCITS alternativos e os reembolsos no resto dos veículos. Por exemplo, os fundos de fixed income e de crédito viram saídas de cerca de 13.000 milhões de euros no primeiro trimestre. O especialista prevê um crescimento nesta parte da indústria de entre 20% e 30% nos próximos dois ou três anos.

O responsável detalha a principal razão que está por detrás deste apetite por UCITS alternativos: “Devido à situação atual do mercado, os investidores necessitam de estratégias que lhes permitam diversificar as suas carteiras, o que lhes levou a aumentar o investimento em hedge funds. No entanto, para que este tipo de investimento seja possível, exige-se um formato de fundo transparente e sujeito a uma regulação fiável, características que os UCITS alternativos são capazes de proporcionar”. Neste sentido, Spada recorda que a “UCITS V está a ponto de ser posta em marcha, encontrando-se num estado avançado e, além disso, conta com a confiança dos investidores”. Além disso, constata que “em poucos anos, os UCITS se converteram numa marca forte, que oferece dois principais atrativos: a simplicidade e a sua fácil utilização”.

Não obstante, a necessidade dos institucionais de cobrirem parte da sua carteira contra a volatilidade é para Spada o grande factor de peso atrás do aumento da procura por UCITS alternativos. Assim, durante o primeiro semestre de 2016, os especialistas da Lyxor AM presenciaram grandes fluxos de entrada para estratégias pouco direcionais, como long/short equity, market neutral e CTA. “Todas estas estratégias se caracterizam por ter pouca direccionalidade de mercado e, portanto, são excelentes mitigadores de risco e ferramentas de diversificação”, acrescenta Spada. Este indica que também podem contribuir para mitigar a volatilidade estratégias como o private equity ou o real estate, mas cuja reduzida liquidez vota a ressaltar as qualidades do formato UCITS.

Mais qualidades dos UCITS alternativos

O responsável da Lyxor AM destaca a sua capacidade para gerar retornos de forma sustentável no longo prazo, em contraposição com os hedge funds, onde costuma ser habitual uma alta dispersão por estratégias. Assim, enquanto que a rentabilidade média dos hedge funds foi perto de zero em 2015, alguns fundos individuais chegaram a alcançar rentabilidades de até 20%.

Este potencial para conseguir altas rentabilidades, juntamente com a capacidade de mitigar a volatilidade do mercado, ajudam a explicar porque a procura por estratégias alternativas tem sido tão constante e crescente, apesar de as rentabilidades demonstradas pelos índices de hedge funds sejam bastante decepcionantem”, reflete Spada. Este acrescenta que “é claro que é importante para os investidores trabalhar com o partner adequado para ajudar a encontrar os melhores gestores, já que a seleção de fundos é um aspeto chave para o êxito do investimento em hedge funds”.

Dito isto, o especialista admite que “não se pode dizer que uma estratégia seja sistematicamente melhor que outra, é possível que os fundos UCITS e os offshore se comportem de forma diferente dependendo do contexto do mercado”, no sentido de que, quando estamos perante um bull market, os fundos UCITS tendem a ficar um pouco aquém relativamente aos offshore; como estes últimos podem investir em ativos pouco líquidos, podem captar o prémio de liquidez.

A última qualidade que explica o aumento da procura por este tipo de produtos é porque aumentam a pressão na estrutura de comissões: “Em geral, tanto os gastos de gestão e as comissões de performance se reduziram no último par de anos, tendência que se acelerou ainda mais recentemente. A forma mais barata de aceder aos investimentos alternativos é por meio dos UCITS, o que faz destes um ativo atrativo para os investidores, que buscam fontes não correlacionadas de rentabilidade”, detalha Spada.